Cansei

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( Pedro -  São Paulo -  Três meses antes)

- Cala a boca! -  grito para que meu pai pare de falar e me acusar. -  O Senhor não se importa com a verdade, já tem uma idéia na cabeça e não adianta eu tentar falar nada. VOCÊ NUNCA ME ESCUTA! CANSEI! -  saio batendo a porta e indo em direção ao meu carro, estou tão nervoso que preciso de muita distância dessa casa.
Paro em uma lanchonete e peço um café amargo e ligo para meu tio, eu realmente preciso resolver a minha vida.

" Tio? "

"  Pedro, aconteceu algo? "

" Na verdade sim, a sua proposta de ir prai ainda está de pé? "

" Claro meu filho, você tá bem? "

" Não mas vou ficar, posso ir quando? "

" Pedro, a minha casa está aberta para você sempre e pelo tempo que você quiser. "

" Então posso ir no domingo, porque ai segunda eu já faço a inscrição do curso? "

" Claro, me passa meus documentos por e-mail que vou dar entrada na sua inscrição aqui no meu trabalho, pode ser? "

" Poxa ia me adiantar muito. Então tudo bem tio,  domingo estarei ai. "

" Ta bom meu filho, vou avisar a Maria para ela arrumar o seu quarto... E Pedro, estou muito feliz que você venha e espero que esteja mesmo bem ou vou ai resolver por você. "

" Eu sei que está tio, mas não precisa eu dou um jeito em tudo aqui. Abraço e daqui a pouco tô chegando"

" Abraço e vou esperar, tchau"

Desligo e bebo meu café que a garçonete já tinha trazido. Penso em tudo que minha vida se tornou até agora. Eu já tinha que ter feito isso a muito tempo.
Pago pelo café, entro no carro e dirijo em direção a minha casa. Subo direto para meu quarto,  pego três mala no canto do meu closet e coloco todas as minhas roupas, sapatos e meus objetos importantes. Pego também meu violão, meu notebook, uns poucos livros e quando chego na mesa ao lado da minha cama, pego o porta retrato onde está a última recordação de felicidade da minha vida, depois desse dia eu nunca mais fui feliz. Encaro a foto da minha mãe sentada em um banquinho branco da praça onde ela sempre me levava, nos braços dela está um moleque cabeludo e sorridente. Ah a quanto tempo eu não dou um sorriso assim?! Meu coração se enche de saudade e eu beijo a foto e a guardo com cuidado em uma mochila. Pego todas as minhas coisas e coloco na mala do meu carro, a única coisa que ele me deu que eu vou levar, o resto vou deixar para trás. Deito em minha cama, coloco meus fones de ouvido e tento relaxar. 
Por volta das 11 da noite, escuto um barulho no corredor, não me desespero por que sei quem é. Saio do meu quarto e vou em direção ao homem bêbado que tenta subir as escadas sem nem aguentar com o peso do próprio corpo, eu pego seu braço e coloco em torno do meu pescoço e o carrego escada a cima,  deito meu pai em sua cama e tiro seus sapatos, paro por um minuto e o encaro, depois saio do quarto fechando a porta atrás de mim.
Vou para a sala e ligo a tv, tento ver um pouco de um filme de guerra mas adormeço sem perceber.

- Pedro meu filho, vai dormir na cama. -  Sandra ne acorda, ela é a única pessoa que vou sentir falta nessa casa.
- Oh madrinha,  dormi e nem percebi.
- Você anda muito avuado, vai deitar na cama.
- Madrinha, amanhã vou para a casa do tio Alex.
- Isso vai passear que você merece. Suas férias estão quase acabando.
- Não vou para férias. -  eu digo de cabeça baixa sem coragem de encarar a única pessoa que sempre me amou nessa casa.
- Meu filho...- ela diz levantando meu rosto para olhar diretamente em meus olhos, ela sempre me ensinou a fazer isso, dizia que pessoas verdadeiras encaravam os olhos as outras. - ... Eu sempre soube que essa hora chegaria e achei que você aguentou demais. Seu pai não é um homem ruim, ele só está destruido, a morte da sua mãe e a culpa que ele sente está acabando com ele. Se que você precisa ser jovem e viver todos os planos que vocês fizeram antes que ela partisse. -  ela me abraça apertado e fala em meu ouvido. -  eu sempre vou te amar meu menino e irei te visitar em breve. Agora vá ser feliz e se nada der certo lá eu vou estar aqui! Sempre vou te amar meu moleque travesso.

Não sei o que dizer a ela, eu só a abraço e choro. Depois da morte da minha mãe Sandra foi a minha mãe, minha madrinha, Babá, professora... Meu porto seguro. Eu tenho muito o que agradecer a ela e vou sentir muita falta desses abraço sem hora nem motivos. Dou um beijo demorado em sua testa, mais um abraço  e me despeço voltando para meu quarto, amanhã a viagem vai ser longa e cansativa.
Acordo por volta das 10 da manhã, tomo um banho demorado e coloco a roupa que separei para a viagem, desço para tomar um café e encontro meu pai sentado no canto da sacada com uma xícara de café e um jornal. Decido que é a hora de contar sobre os meus planos, vou até a cozinha pego uma maçã e minha garrafa de vitamina que Sandra já deixou pronto e vou em direção ao meu problema.

- Pai, posso falar com o senhor por um momento? -  ele balança a cabeça sem nem mesmo me olhar. -  Estou indo para a casa do tio Alex hoje.

- Faça o que achar melhor, você sempre faz mesmo.

- Só queria te comunicar, não sei quando volto.

- Não me importo Pedro, você já é um homem.

Não me dou nem o trabalho de responder, vou até a cozinha jogo o reto da maçã fora e vou atrás de Sandra para me despedir dela. A acho no jardim colocando água na roseira de minha mãe,  ela cuida com tanto amor que a roseira sempre vive florida e linda.

- Madrinha?
- Oh meu amor, você me assustou. -  ela me olha do pé a cabeça e quando percebe que estou arrumado ela vem em minha direção com uma cara triste. -  Já está indo?

- Daqui a pouco madrinha, quero passar na casa de Hugo antes para dar um abraço nele.

- Faça isso mesmo. -  ela diz me abraçando -  Meu filho cuidado naquela cidade,  você não conhece nada lá então nada de inventar. Juízo e tente não se preocupar comigo, vou estar bem e quando a saudade for maior que eu, vou atrás de você. Mande o Alex separar um quarto para essa velha aqui.

- Vou ficar na casa dele só até achar um apartamento, depois vou alugar um com um quarto e uma cozinha bem grande para você. Eu te amo madrinha, obrigado por sempre cuidar e me proteger.

- Meu filho,  eu trabalho para sua família desde que você estava no saco de seu pai. Como não ia amar o filho de uma mulher incrível como sua mãe, ela me deu você como afilhado porque sabia do meu amor incondicional a você.

- Oh madrinha a senhora é que é incrível. -  digo a abraçando forte e a tirando do chão.

- Pedro, sua mãe sempre sonhou que você teria um futuro incrível então vá e viva por ela. Realize todos os seus sonhos e suas vontades, não faça nada que não queira,  se apaixone e se forme no que você sonha e não no que ela falava,  por que sei que se ela tivesse aqui ela iria entender. Eu te amo e vou estar aqui para tudo.

- Também te amo madrinha, agora deixa eu ir antes que desista.- dou meis um abraço e saio, quando estou quase dentro de casa eu viro e grito. -  Não vou me apaixonar!

- Quando vc perceber, já foi! -  ela diz rindo e fazendo um sinal com a mão para que eu vá.

Pego minha mochila, uma garrafa de água e vou em direção ao meu carro. Rio de Janeiro ai vou eu!

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