Bônus: Quem sou eu?

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Eduarda.

Eu estava presa em mundos diferentes, estava entre a coisa certa a se fazer, e entre a errada.... Entre o senhor Jesus e a minha mãe.

Ela falava. Eu escutava. Mas, acontecia aquele velho dizer: Entrava por um ouvido e saia pelo outro.

Eu não podia acreditar naquilo! Era surreal de mais!

- Eu não vou fazer isso... -esbravejei, levantando do sofá com força. - Mãe... Quem a senhora acha que eu sou? Eles são meus amigos, isso realmente está  totaimente fora de cogitação.

Encarei todos na sala, e o silêncio reinou. Aquela conversa não entrava na minha cabeça.

- O seu pai tinha uma divida muito grande comigo... Você é a  única forma de conseguir pagá-la.

- A Kyara não tem nada haver com isso. Ela ne...

- Ela sabe sim. Ela fez parte do nosso grupo e acredite, ela sabe sim. Aliás foi ela que contou para a polícia sobre a gente. -a garota mais velha falou. Me encarando ardendo de raiva.

Aquela conversa estava indo longe de mais.

- A gente vai se vingar do diretor, e também da Kyara, por ter nos entregado. - um dos outros falou. Mas eu já estava longe de mais para me importar com quem era.

- Eu não vou fazer isso! - enfatizei mais uma vez, e sem esperar resposta corri para o meu quarto.

Tranquei a porta de madeira creme, e tirei os sapatos. Em seguida me joguei na cama, abafando as lágrimas que vinheram instantes depois.

Eu não sei porque estava chorando. Era tanta coisa!
Eu tinha aguentando tanta coisa calada, tanta coisa sem reclamar que naquele momento eu só queria colocar tudo pra fora. Eu só queria respirar de novo como se isso não fosse algo incômodo... Eu só queria me sentir especial, e não uma pedra no caminho de alguém.

E nossa, a única vez que eu me senti assim foi na reunião dos jovens, na igreja. Eu me senti tão acolhida, tão em casa. Os jovens me deram atenção, se importaram em conversar comigo, em não me deixar sozinha. E depois de um tempo eu percebi que aqueles gestos da parte deles eram só uma amostra grátis de como Deus queria que eu me sentissse.

Eu não sabia mais o que fazer!

Minha mãe achava que tudo que eu fazia em relação a Kyara e ao Gustavo, eram fruto da "ordem" que ela me deu, e da conversa que eu tive com um cara muito familiar, um pouco depois de retornar a escola. Eles me pediram para me aproximar dele, e fazer amizade. Até ai tudo bem! Mas depois de escutar uma conversa no telefone da mamãe, e provavelmente esse, cara, a ficha caiu. Ela estava me usando mais uma vez pra conseguir dinheiro, e algum macho pra pagar as contas delas.

Eu me afastei das únicas pessoas que não me tratavam como mercadoria. As meninas. E tudo que eu consegui mais uma vez, foi nada!

Tirei o rosto molhado do travesseiro, e meus olhos encontraram a fotografia que eu tinha colado na parede do papai. Antes dele morrer! Aquela foto havia sido a última! Dele no hospital, com a touca verde água na cabeça, pronto para entrar na sala de cirurgia. Ele entrou confiante na sala clara, e não voltou mais.

Aquele foi o maior baque da minha vida... Não sei como consegui viver depois, nesse momento desastroso as meninas estiveram ao meu lado, me dando toda força possivel. Diferente da minha mãe elas não me culparam por sua morte, afinal havia sido eu que pedi para ele ir pela estrada que descia a serra, em nossa viagem a Minas Gerais; mas eu não sabia que um motociclista bêbado iria passar por la também, e acertar em cheio o lado do motorista com sua moto super-potente. Na hora eu realmente achei que só tinha sido um susto, os médicos exaninaram ele e tals. Mas quando ele voltou para casa começou a sentir fortes dores e a sangrar pela boca. De volta ao hospital descobrimos que ele teve uma hemorragia, o que acarretou na cirurgia.

Aos olhos de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora