Depois de três meses, Anastásia já estava praticamente inteirada da rotina da Empresa. Apesar do trabalho ser bastante movimentado. Suas tarefas não se restringiam apenas ao escritório. Por quatro vezes acompanhou o chefe a jantares de negócios. Em todas essas ocasiões foi obrigada a tomar mentalmente notas de tudo o que havia sido discutido, para transcrevê-las depois, em relatórios minuciosos entregues ao chefe no dia seguinte. Á sorte era que, depois desses compromissos noturnos, não precisava ir ao escritório pela manhã. Mas normalmente passava essas manhãs de "folga" fazendo os rascunhos dos relatórios que digitaria, à tarde.
Fez duas pequenas viagens. Uma para Nova York e outra para Los Angeles. Na primeira, Travis foi junto. Mas, na segunda, apenas ela acompanhou o chefe.
Em situação normal, acharia estranho viajar sozinha com um homem, mas Christian Grey não oferecia nenhum perigo. Ele jamais a veria como uma mulher. Era um poço de frieza e indiferença. Para ele, ela seria sempre a assistente que tinha a obrigação de ser eficiente e nada mais.
Nem durante as viagens ele se permitia a mínima descontração. Ele só sabia dar ordens. Raramente abria uma porta para ela ou se dava ao luxo de fazer-lhe um elogio. Anastásia já começava até a duvidar dos próprios encantos.
Só que a atitude de Christian, embora a decepcionasse por um lado, por outro a agradava. Não gostaria de correr o risco de se envolver com um homem casado.
Profissionalmente, estava muito satisfeita. As críticas que fazia a Christian Grey eram apenas pessoais. No trabalho, ele era um executivo brilhante, um criativo homem de negócios. Um líder perfeito. Anastásia duvidava que pudesse existir alguém com maior capacidade profissional do que ele. Estava sempre no comando das situações. Mesmo quando permanecia calado numa reunião.
Anastásia encarou as mãos a seu lado. Eram mãos bonitas, másculas, que seguravam com firmeza as rédeas na direção da multimilionária Grey House.
As mãos viraram mais uma página do relatório e uma delas se levantou para esfregar o canto da boca, num gesto de concentração. Anastásia se perguntou quantas vezes aquelas mãos potentes haviam feito uma carícia. Nunca encontrara uma pessoa que demonstrasse tão pouca necessidade de contato humano.
Eles estavam em uma reunião confidencial, Christian havia dado ordens expressas para não ser interrompido. Nessas reuniões, Anastásia ficava com o celular dele, no modo vibrar e estava orientada a desviar toda e qualquer chamada, com uma mensagem de ligar mais tarde.
Foi quando o celular vibrou, ela olhou e viu que era um numero restrito. Ela rejeitou a chamada, conforme havia sido instruída, o celular voltou a vibrar, ele olhou para ela irritado, com um olhar de "atende logo isso" Ela se levantou e foi para um canto da sala, e atendeu o celular, falando em tom baixo, de modo a não atrapalhar a reunião em andamento.
- Alô.
- Quem está falando? Quero falar com meu marido.- A voz feminina parecia meio enrolada e estridente.
- Sra Grey, sinto muito, mas ele está em reunião. Quer que eu peça a ele que lhe telefone dentro de uma hora, mais ou menos?
- Reunião? Ele não está em reunião coisa nenhuma! Você está mentindo!
- Sra. Grey, estou lhe dizendo que seu marido está dirigindo uma reunião importante neste momento.
- Reunião? Sei! Aposto que está numa reunião com você, na cama, isso sim. Está gostando? Quero falar com Christian, ponha-o no telefone imediatamente!
Anastásia ia revidar, quando uma mão tirou o celular do ouvido dela com violência, ela olhou para trás e viu a raiva brilhando como fogo nos olhos dele.
- Elena, sou eu. Está tudo bem. Acalme-se - ordenou.
No mesmo instante Travis levantou-se e pediu aos outros homens que se retirassem da sala. Ninguém perguntou por quê. Anastásia viu o pessoal saindo, mas estava pregada ao chão pelas palavras ofensivas que ouvirá. Esperava agoniada que o chefe pulasse em sua defesa e refutasse aquelas acusações injustas.
Quando Christian percebeu que ela continuava ali, fez um gesto para que Travis também a levasse para fora. O olhar que ele lhe lançou era frio como gelo e ela ficou confusa com essa atitude. Sentiu-se ainda pior quando, ao sair pelo braço de Travis, o escutou dizendo:
- Não seja ridícula! Não mandei ninguém impedir uma ligação sua. Se alguém fez isso, com toda certeza foi contra a minha vontade!
Travis a colocou sentada na anti sala de reuniões, percebeu que ela tremia dos pés a cabeça, pegou um copo de água do bebedouro e ofereceu a ela, que pegou com as mãos trêmulas.
- Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida! Ela não tinha motivo para falar assim comigo! Todo mundo dentro daquela sala escutou o que ela dizia! E ele nem me defendeu.
Travis, ao ouvir seu desabafo, riu com jeito triste e falou:
- Mais cedo ou mais tarde todos dentro da companhia vão começar a pensar que você e Christian estão tendo um caso. Ela apenas colocou a ideia na cabeça deles um pouco mais cedo.
A resposta dele não ajudou muito; continuou com o rosto vermelho de vergonha.
- Eles podem pensar o que quiserem, a ideia continua sendo absurda. Aquele arrogante... -Parou antes de dizer o palavrão que estava na ponta da língua. - Ele praticamente me chamou de mentirosa! Mas havia deixado bem claro que não queria ser interrompido durante a reunião.
- Isso não inclui os chamados de sua esposa, que devem ser atendidas imediatamente.- Travis informou.- eu te falei aquele dia, Christian pode não ama-la, mas ela é prioridade na vida dele em tudo. E ele nunca irá te defender da presença dela.
Anastásia iria retrucar, mas não teve chance, a porta da sala de reuniões se abriu e Christian examinou a sala vazia e encarou Travis com expressão séria.
- Travis, peça para alguém trazer café e avise aos outros que recomeçaremos a reunião dentro de alguns minutos — falou sem olhar para Anastásia.-Venha cá, Srta. Steele.- ordenou, severo.
Ela ficou meio insegura e olhou para Travis em busca de auxílio, mas o outro já havia levantado para cumprir as ordens do chefe.
Reuniu coragem, levantou a cabeça e entrou novamente na sala de reuniões na frente dele.
- Será que poderia me explicar o que deu na sua cabeça para recusar-se a me chamar? -indaga de uma vez, mal acabando de se sentar à cabeceira da mesa de reuniões.
- O que deu na minha cabeça?- pergunta, tentando se controlar.- Eu apenas seguia suas instruções para não ser interrompido. Não sabia que sua esposa era uma exceção!
- Então agora já sabe. Não quero mais que se repita uma coisa dessas. - disse, seco, abrindo um relatório e começando a ler.
- O senhor não quer que se repita? Pode ter a certeza de que eu também não quero!
Impassível, ele levanta os olhos do papel à sua frente e encara a jovem zangada.
- Está esperando um pedido de desculpas? - Havia uma certa ameaça no tom em que a pergunta foi feita.
- É o mínimo que poderia fazer.
- Se eu começasse a me desculpar por todas as besteiras que minha mulher diz, não faria mais nada na vida. Agora já sabe o tipo de tratamento que vai receber aqui. Pode escolher se permanece ou se desiste. - O desafio foi feito com frieza e indiferença.
- Só isso? - pergunta, mantendo o mesmo tom de desafio.
- É. Pode ficar certa de que não vou ficar agradando o seu ego, Srta. Steele. Se não pode suportar as ofensas de uma bêbada então é frágil demais para trabalhar comigo. Trate de resolver logo se vai ou se fica. Na minha vida só há lugar para uma louca.
Anastásia escuta todo o discurso dele, apertando os lábios para não explodir numa crise de choro. Quando ele para de falar, ela toma seu lugar na mesa de reuniões e começa a trabalhar em silêncio, e ele também se manteve do mesmo modo, calado e compenetrado.
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50 Tons - Dança Comigo
FanfictionEle vivia preso ao passado, ela lhe oferecia um presente lindo e um futuro maravilhoso, mas por que era tão difícil para esse homem se libertar e ser feliz ao lado dela?