Mario
Jogo fora de casa e meu joelho ainda estava uma bosta.
Já estávamos com a nuvem negra em qualquer jogo fora do Signal Iduna Park, e saber que eu não estaria ai me dava um sentimento muito ruim.
Por ser sábado, Babi não precisaria ir ao clube, e, justamente nesse dia, ou talvez porque ela me conhecesse o suficiente, resolveu puxar um assunto que estávamos adiando há bastante tempo.
Acordei mais tarde do que o normal, e ela estava sentada no sofá com uma vasilha cheia de cereais de chocolate. Ela sempre tinha uma caixa dessas coisas pela casa, e jamais misturava com leite, falava que a crocancia era a melhor parte.
Como sempre, eu nunca discutia. Se tinha uma coisa que eu sabia sobre Babi Vasconcelos, era que ela tinha manias alimentares que jamais fariam sentido.
- Bom dia. - Minha voz ainda estava grogue por ter acabado de acordar.
- Bom dia dorminhoco! - Ela me deu um selinho com gosto de chocolate. - Como está se sentindo?
- Ainda está doendo, mas bem menos.
Sentei ao seu lado e roubei uma bolinha do doce.
- Como você consegue comer isso?
- Ei, você não gosta, então porque está comendo?
- Eu to com fome.
Ela fez cara de brava
- Então vai pegar algo na cozinha ué!
Levantei uma sobrancelha e ela deu de ombros. Foi quando notei a revista em seu colo.
- O que é isso?
Ela mordeu o lábio inferior, tomando coragem para falar o que quer que seja que estivesse em sua mente.
Babi deu espaço para que eu pudesse puxar a revista. Uma matéria com o título "30 temas diferentes para casamentos" destacava uma matéria com diversas fotos de festas para todos os gostos.
- Eu sei que não conversamos nada a respeito, mas passei por essa revista e não resisti em dar uma olhada.
Realmente não havíamos falado nada. Nem se quer havia comprado um anel de noivado, apesar de já ter visto uma aliança a cara da Babi em uma loja da Tiffany and Co.
Babi não era muito de joias, mas mesmo que não fosse admitir, já a tinha visto visitando essas lojas com Louise.
Entrelassei nossos dedos. Se ela estava olhando revistas de casamento, aquela era a hora. Se deixasse passar, pode ser que talvez nunca conseguiria.
- O que você acha de irmos ao shopping?
- Mario...
- Vamos oficializar isso Babi. Não estou falando para casarmos na semana que vem, mas pelo menos um anel de noivado.
- Eu tenho medo.
- De que?
- Não estamos juntos a nem um ano Mario, como podemos estar pensando em casamento? Noivado? Esse foi um dos motivos pelos quais eu te disse um dia. Um dia, quando ficarmos um pouco mais velhos, com mais anos de relacionamento, com mais cabeça no lugar.
- Babi, seu medo é eu desistir de você? Porque isso não tem chance alguma de acontecer. - Com a mão livre segurei seu rosto. - ich liebe dich mein liebe.
Seus olhos estavam confusos, mas cheios de lágrimas. Aproximei nossos lábios e ela passou os braços pela minha nuca, me puxando para o sofá.
Babi
Eu odiava quando Mario falava qualquer coisa sobre casamento. Me sentia uma velha desesperada para arrumar marido e não ficar para titia.
Qual era a dificuldade de viver o relacionamento sem apressar as coisas?
E para completar, o medo de que esse dilema nos levasse ao fracasso sempre rondava minha mente.
Eu tinha poucas certezas na vida, mas o Mario era uma delas. Não fazia ideia do que era minha vida sem ele. Não conseguia mais enxergar um lugar em que não estivesse com ele ao meu lado.
Eu nunca fora uma dessas garotas que fazia mil planos, que imaginara o casamento perfeito, filhos, envelhecer em um chalé nas montanhas. Não sou assim e não mudaria por ele.
Mas também entendia seu lado.
As coisas na Alemanha eram diferentes do Brasil. Eles eram mais sérios, e sentiam falta de símbolos de compromisso. Não queria assumir um noivado, porque sabia muito bem o que isso significaria.
- E se eu te desse um anel de compromisso. Não precisamos dizer que é noivado, ou marcar data do casamento. Apenas um símbolo da promessa de "um dia".
Respirei fundo. Maldito dia que eu não havia aprendido a dizer não a Mario Götze.
- Tudo bem. Mas nada que chame a atenção. Ou que pareça anel de noivado.
- Combinado.
E era por isso que agora estávamos no carro em direção a bendita loja da Tiffany and Co que ele tinha achado um anel.
Não estava particularmente feliz com a ideia. Já podia ler as manchetes do dia seguinte, cada uma delas confirmando um casamento que eu nem queria que acontecesse. Pelo menos não tão cedo.
Mas o sorriso no rosto de Mario me mostrava que eu tinha feito a escolha certa. Era uma forma de entrarmos em consenso e aceitarmos um meio termo. Um símbolo para o "um dia".
Chegamos na loja no mesmo momento em que o jogo do Borussia Dortmund contra o Colonia começava. Era mais um jogo fora de casa.
Nossos celulares apitaram com a escalação e o inicio do jogo.
- A gente podia ter esperado o jogo acabar. - Sabia que era importante para ele. Eu mesma estava me sentindo agoniada em perder.
- Não. Eu te conheço e se deixássemos para depois do jogo, você poderia mudar de ideia.
Tinha que dar razão a ele. Já estava tendo dúvidas agora, imagina se ainda esperasse por mais 90 minutos?
A vendedora nos mostrou diversos modelos. Cada um mais lindo que o outro, mas todos com a total cara de noivado.
A vendedora, com um sorriso muito branco, cabelos escuros presos em um rabo de cavalo e olhos tão verdes que estava me deixando desconfortável, não parava de olhar para Mario.
É claro que ela sabia quem ele era. Com certeza daria uma entrevista sobre "fui eu quem vendi o anel de noivado, eles já marcaram a data" e várias outras mentiras para ter os seus 15 minutos de fama.
- Já marcaram o casamento?
E ai estava a pergunta de um milhão de dólares!
- Mas não estamos nos casando. - A cortei antes que ela pudesse sugerir qualquer outra coisa.
- Mas...
- Eu não posso simplesmente dar um presenta para minha namorada?
Por sorte Mario entrou no meu teatro. Talvez não tão teatro assim, mas ele havia me apoiado.
Rapidamente a moça pediu desculpas e foi buscar mais um caixa com anéis de diversas formas e tamanhos. Nesse momento nossos celulares apitaram. Pensei em comemorar até ler o que dizia aquela notificação.
1.FC Köln [1] x Borussia Dortmund.
O Colonia havia aberto o placar.
- Scheiße. -Mario xingou sem nenhuma cerimonia. Isso não era nada legal.
- Marco Reus está em campo. Vai dar tudo certo. - Passei a mão em suas costas, o encorajado a acreditar.
- O time não pode depender do Reus, Babi. Temos que jogar em conjunto. Se essa dependência continuar, podemos desistir até da Europa League na próxima temporada. Principalmente com o futuro de alguns jogadores sendo incerto.
Apenas assenti. No fundo, sabia que ele estava certo.
A moça de olhos verdes voltou com outra caixa igual as primeiras, mas os anéis eram muito mais diversos. Alguns tão extravagantes quanto qualquer aliança de noivado, outros completamente simples. Apenas um símbolo e o traçado de prata.
E é claro que havia me apaixonado por um deles. Uma linha fina em dourado e o coração dourado. Mas tinha outro do lado.
Mario foi primeiro no do lado. Ele era lindo, apesar de não ser a minha primeira escolha. Também tinha um coração, mas todo decorado com pequenas pedrinhas de diamantes.
Ele colocou o anel no meu dedo e ficou perfeito. O tom da minha pele mais amarelada fez com que o pequeno coração se destacasse.
Olhei em seus olhos e nós dois pensamos a mesma coisa. Era esse. Era essa a nossa promessa de um dia substituirmos por uma aliança. Ou talvez, até mesmo usasse os dois juntos, da mesma forma que eu ele sempre deveríamos ser.
Cada um com um sorriso no rosto, voltamos para nossa casa.
Ele entrelaçou nossos dedos, deixando a pequena joia se misturar às nossas peles. Aquela era nossa promessa, sem mídia, festa, ou qualquer tipo de divulgação ou planejamento.
Entramos em casa ligando a televisão. O segundo tempo estava na metade e o 1 a 0 ainda não tinha saído do placar.
Talvez tivesse sido até melhor não ter assistido o jogo e passar outro nervoso como no jogo contra o Frankfurt.
Mas já nos acréscimos, Marco manda a bola para o fundo do gol. Ficamos apenas olhando para a televisão, sem acreditar no que tinha acontecido. Havíamos empatado.
É claro que queríamos a vitória, mas um ponto era melhor do que nenhum.
Talvez as coisas não sejam perfeitas, mas elas também não são ruins. Era um empate. O meio termo. Não costumava gostar de metades, mas ali, talvez o meio fosse melhor do que o 8.
Aquele famoso ditado: 8 ou 80?
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Echte Liebe | Mario Götze
FanfictionUm ano depois de viajar para a Alemanha, Babi já se sente em casa morando em Dortmund. Ela se encontrou naquela cidade que por um acaso é movida a paixão por um time de futebol. Mario Götze voltou para casa. Ele está de volta ao Borussia Dortmund e...