Nada de importante

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Um grande

Cagão.

Definitivamente covarde.

É isso que sou.

Ninguém merece.

Por que a porcaria da minha primeira mensagem tinha que ser meu pai tentando me matar? No fim eu tive que me salvar e não salva-lo.

Uma semana e dois dias se passaram desde o acontecimento na garagem.

Resolvi esquecer.

Vai que as coisas se resolvem sozinha? Nunca se sabe.

Eu sei que isso é uma grande idiotice, as coisas nunca vão se resolver sozinhas.

Mas decidi primeiro descobrir quem está me mandando essa carta enigmática com um velho peão marcado com minhas iniciais. E é lógico que vou precisar Dela.

– Mione! – eu bato na porta trancada do quarto da Gina, são oito horas da manhã e minha irmã está lá fora correndo como sempre.

Escuto um clique e o rosto triste da Hermione aparece, seus olhos estão inchados.

Ela estava chorando, sei que estava.

– Bom dia! – a cumprimentei lhe dando um sorriso bobo.

– Oi Rony – e o sorriso triste dela surgiu – o que quer?

– Posso conversar com você?

– É claro – ela sussurrou abrindo espaço para eu entrar no quarto – conversar com você é o que me faz feliz ultimamente.

Ela suspirou e eu entrei no quarto, enquanto Hermione fechava a porta atrás de si.

Por um momento pensei em falar com ela sobre uma conversa que precisávamos ter a respeito do beijo que trocamos.

Mas foi só por um momento.

– Olha. – eu tirei o peão branco do bolso e entreguei à ela – Olha em baixo dele.

– RW – leu em voz alta – RW?

– Ronald Weasley, eu fiz isso.

– Quando? – ela me questionou sentando na cama que pertencia a Gina.

– Lembra quando te disse que meu pai me ensinou a jogar xadrez em um tabuleiro trouxa? – ela confirmou com a cabeça – Bom, eu marquei todas as peças com um "RW"...

– E essa peça é daquele tabuleiro?

– Exato.

– E...? – ela me olhou com aquela cara enigmática que só a Hermione sabe fazer.

Sentei ao seu lado na cama.

Era agora que lhe diria todas minhas suposições.

– Mione... É possível modificar uma letra? – perguntei

– Como assim?

– Ah! Você sabe! Mudar o jeito da letra que a pessoa escreve.

– Você diz mudar a grafia? Bom, existem dois feitiços para isso. Um é estritamente proibido.

– Por quê?

– Bom, com esse feitiço você poderia mudar a forma da sua letra para a minha, por exemplo, o que torna uma assinatura facilmente falsificada. O outro feitiço é permitido, você muda alguns aspectos da letra, se ela for redonda, por exemplo, pode deixa - lá mais fina, etc.

– Hum.

– Por quê?

– Eu acho que a pessoa que me mandou essa carta mora aqui. Eu conheço a letra de todos daqui, e se o alguém usou esse segundo feitiço que você falou para disfarçar? Eu vi o tabuleiro Mione, eu vi que estava faltando esse peão nele.

– Posso ser sincera com você? – ela perguntou segurando minha mão.

Este ato de entrelaçar nossas mãos virou rotineiro desde o ano anterior.

É tão bom sentir sua pele na minha.

– Eu acho Rony, que está se focando no ponto errado. – eu a olhei confuso e ela prossegui – honestamente, você devia se concentrar em completar a missão da mensagem e não o autor dela.

Eu abaixei minha cabeça evitando olhá-la. Como poderia dizer a ela que havia desistido da missão por ser covarde?

– Você foi ver seu pai não foi? – ela acariciou meu rosto – O que aconteceu?

– nada de importante – menti.

– Sei – ela disse sarcástica – Se precisar de ajuda no "nada de importante" me avisa ta?

Confirmei com a cabeça e então ela me beijou na bochecha.

Naquela tarde estava eu, lá de frente a grande porta da garagem, tremendo as pernas de medo.

Tomara que a Mione nunca descubra o poder que o seu beijo em minha bochecha tem.

Apesar de que, acho que ela já sabe.

Abri a porta com o coração aos pulos.

Penso se não devia fazer meu testamento antes de ser morto pelo meu pai.

Decido parar de exagerar.

Dou pequenos passos até adentrar a garagem e fechar a porta atrás de mim.

– Pai – meu sussurro parece mais um grito nesse ambiente fechado e escuro.

Começo a andar entre os objetos no chão esperando que a qualquer momento uma lâmina fria entre em minhas costas, mas nada acontece.

– Pai – volto a sussurrar e então sinto uma mão em meu ombro.

Como se fosse possível, meu coração salta mais forte. Começo a suar frio.

Viro meu corpo devagar e me deparo com meu velho. A primeira coisa que faço é olhar suas mãos. Ambas vazias.

Não pude deixar de respirar aliviado.

– O que está fazendo aqui Ronald? – ele me pergunta.

Afinal o que eu estava fazendo ali mesmo?

– To tentando descobrir pai – resolvi ser sincero – E o que o senhor faz aqui?

– Escondo minha loucura.

Ele respondeu calmamente, virou as costas para mim e começou a percorrer toda a extensão da mesa.

Será que procurava o punhal?

– Sua loucura? – perguntei indo atrás dele.

– Aqui – ele apontou para uma prateleira onde se via mais de cinqüenta pequenos frascos com etiquetas – A loucura que coletei durante esse tempo todo – ele arregalou os olhos para mim – Minhas lembranças sobre a guerra, todas as imagens horríveis que vi, elas me deixam louco... Desculpe por tentar te esfaquear outro dia.

– Tudo bem – respondi estranhamente calmo.

– Eu não queria retira-las dos meus pensamentos para sempre e também não queria visitá-las em uma penseira, queria vê-las como se fosse uma foto... Os trouxas têm um aparelho assim, tevelisão é o nome.

Bingo! Sabia como salva-lo.

– Hermione!

Sai correndo da garagem com uma desculpa esfarrapada, corri para os jardins e a vi sentada, lendo debaixo da nossa árvore do nascer do sol.

Ela parou a leitura assim que ouviu meu grito e me olhou.

– Preciso de sua ajuda no "nada de importante".

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