1. Destruição de Laicon

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Matsso Nyage

Entre os pedaços de casas, pessoas e uma fumaça que forma uma neblina na grande Laicon inteira, me esforço para enxergar e não cair. Ando -quase correndo- em direção ao abrigo onde estão os sobreviventes, tem pouquíssimas pessoas lá e isso me deixa frustado. Meus olhos correm por todos os lados na esperança de ver ela. Ela tem que estar viva.
Sinto-me vivendo em um filme, minhas narinas e minha garganta dói por conta do forte cheiro, os pedaços de pessoas por todo o lado, o cinza se misturando com o vinho gerando uma cor de morte. Laicon está morta. Minha Laicon está morta.

Me tirando de meus devaneios, um som de pessoas pedindo socorro à minha direita; saio correndo pra lá. São crianças, estão com as roupas muito rasgadas e sujas, não vejo ferimento nelas e fico agradecido por isso. Quando seus olhos encontram os meus, elas cessam os gritos e correm em minha direção, sem se importar com quem eu sou, elas só seguram minhas pernas e choram agarradas à mim. Sinto o medo deles, meu coração aperta. Pego a menor no colo e seguro o mais velho -que deve ter em volta de 8 anos- pela mão e começo ir para a estrada que leva para o abrigo; lá eles estarão seguros. Lá Mattie cuidará deles.
Quando estou enfim perto do abrigo, ouço o som de tiros, começo a correr na tentativa de passar despercebido. Mas sem sucesso, sinto a bala adetrando em minhas costas. Malditos. Coloco rapidamente o garoto na minha frente e o apresso, para quê nenhum dos dois se machuquem. O som ensurdecedor das balas não cessam, querem me derrubar.
Não quero que eles saibam aonde é o abrigo, então entro numa outra rua na esperança de despistalos, pego o garoto no colo também e corro mais do que minhas pernas podem suportar, mas consigo enganar os Chims. Dou a volta e finalmente chegamos ao destino, bato na porta duas vezes com muita força e uma mais leve, para ser reconhecido, a porta finalmente abre uma fresta, a empurro, coloco as crianças lá dentro e sinto minha perna ficar mole, caio e sinto minhas costas latejando. Com o canto do olho vejo Mattie vindo em minha direção, sei que ela vai cuidar de mim, então, adormeço.


Lila Rose

Posso parecer um pouco egoísta, mas a única resposta que eu desejo no meio de toda essa guerra miserável, é aonde está Matsso. Sei que ele está bem, afinal, é ele. Ele é forte. Mas meu coração está apertado e eu só vou ficar em paz quando ver ele.

A noite chega e eu tenho que ir à procura de algum lugar pra dormir. Minhas pernas estão exageradamente cansadas, mas mesmo assim me levanto dos pedaços de madeira de uma casa qualquer onde estou sentada e vou procurar qualquer beco onde eu possa dormir sem ter medo de ser surpreendida pelos Chims.
Depois de certo tempo andando, acho uma rua estreita e sem saída, bem, não tem nada melhor que isso, vou ficar aqui mesmo. Olha para o final da rua e lá tem alguém. Me aproximo devagar e vejo que é um simples senhor. Isso me alivia, companhia é bom.
- Licença, posso me sentar aqui? -pergunto meio sem jeito.
-Mas é claro. Tome. -ele me entrega um pedaço de espuma de travesseiro e eu sorrio.
-Muito obrigada.
Me deito no asfalto sujo e coloco o meu "travesseiro" embaixo da minha cabeça e até que fica confortável. Não demora muito e meus olhos pesam, até que eu adormeço.
🔹🔹
Acordo e minha visão está sendo tampada por um saco fedido e marrom, não consigo ver nada, tento tirá-lo da cabeça, mas está preso, sinto mãos encostarem em mim e me pegarem, grito, mas o som sai abafado por conta de um pano em minha boca, começam a me levantar e o desespero me consome, me debato, mas sinto algo bater muito forte na minha cabeça, sinto o quente sangue descer por minha testa e desmaio.

Matsso Nyage

Acordo com Mattie fazendo carícias em meus cabelos e estou em cima de um colchão finíssimo, mas ainda é um colchão. Fico feliz por ela estar aqui.
- Oh! Você acordou! Está tudo bem?
-Sim, e obrigado. -dou um sorriso.
-De nada Matsso, tome mais cuidado. E é melhor você ficar um pouco aqui dentro, onde é seguro.
- Não posso, você sabe, tenho que procurar... -penso em Lila, mas não direi isso-... por mais sobreviventes.
- Ta bom herói. Só tome cuidado. E não tínhamos mais linha, então dei os pontos nas suas costas com fibra de bananeira.
-Ta, tudo bem. - o dou um beijo na sua maçã do rosto e me levanto.
Antes de colocar uma blusa, tento olhar como ficou os pontos, mas não consigo, bebo um gole de água e saio. Lila estou a sua procura.

Ordeno, matem-o. Onde histórias criam vida. Descubra agora