Ordeno, matem-o.

5. Primeira vez

Matsso Nyage

Dentro da acolhedora casa de Dona Erler espero que ela termine o café e sente-se para me contar o que sabe. Em baixo da mesa meus pés batem num ritmo acelerado e minhas mãos soam. Um café nunca demorou tanto.
Passado uns minutos -longos minutos- a pequena senhora se senta do meu lado na mesa e põe numa xícara um pouco de café. O cheiro forte do café me faz lembrar de Mattie, seu café é o melhor.
-Obrigado. -digo depois de tomar um pequeno gole do café quente.
-Nao há de quê.
-O que a senhora sabe sobre Lila? A viu na onde? -não quero parecer rude, mas não aguento mais essa agonia dentro do peito.
-Sobre ela não sei nada, mas há uns três dias, vi uns moços levarem um mulher pra dentro de uma van, aqui em Aico. As pernas da moça estavam pra fora, vi as manchas do vitiligo. Acho que é essa tal de Lila que você procura.
-Com certeza é! Pra onde a van foi?
- Não sei, não. Mas tenho uma informação que pode ajudá-lo se você for esperto. 
-Pois então, diga. -matsso ela é só uma senhora, não bata nela, não perca a paciência, repito isso em minha mente enquanto Dona Erler bebe seu café devagarzinho.
-Na van, bem na frente havia um símbolo. Parecia uns três triângulos encaixados...
-O símbolo! Já vi esse símbolo em algum lugar. Triângulos, triângulos encaixados... -começo a pensar, sinto que estou quase perto da resposta -Chims! É o símbolo que difere os Chims do povo passivo de Chimion! Bem que a Claire disse que eles vieram pra cá, e pegaram justo a minha Lila.
-Está esperando o quê??? Pegue a primeira condução que liga as duas regiões e vá atrás de sua namorada! -diz Erler alegre.
-Obrigado, a senhora me ajudou muito. -dou um beijo em sua mão enrugada.
Saio da bonita casa e vou direto para a avenida, fico esperando que um Plem* passe. Agora eu tenho dois objetivos: encontrar Lila e matar todos os Chims.

Lila Rose

Jason sai do banho e deita do meu lado. Ele usa um roupão de seda vermelho e mais nada. 
Sinto ele me abraçando por trás e me sinto confortável ali. Sinto sua respiração perto do meu ouvido.
- Aos poucos sua memória vai voltar, querida.
-Espero. -digo num sussuro
- Vamos fazer um acordo?
-Como assim?
-Vamos matar qualquer cidadão de Laicon que pisar em nossa região? Você aceita, querida e bela mandante de Chimion?
-Por mim, está ótimo.
-Você sempre sabe o que fazer. Impressionante! -diz Jason passando os dedos no meu cabelo.
Ele puxa delicadamente meu braço, como se pedisse pra eu me virar e é o que eu faço, nossos rostos ficam bem perto um do outro, ele avança e sinto seus lábios tocando os meus, retribuo o lento beijo e ele começa a passar as mãos pelas minhas costas fazendo com que eu me arrepie. O beijo vai ficando cada vez mais selvagem e quente, minhas mãos já apertam seus braços  e sinto o quanto estou deixando ele alegre.

Matsso Nyage

Já estou dentro do plem indo para Chimion quando sinto meu coração doer, merda, isso significa que alguma coisa está indo mal, é uma sensação horrível, parece que estou pressentindo algo de ruim que vai acontecer com alguém próximo. Lila. Aqueles Chims devem estar fazendo alguma coisa com ela. Calma Lila, aguenta firme, eu estou chegando. Não vejo a hora de sentí-la nos meus braços. Preciso ficar em paz.
Minha cabeça começa a doer depois de tanto pensar em o que podem fazer à ela. E por que ela???

Lila Rose

Ele é calmo, e isso é tão bom, sinto ele devagar, me dando prazer, ele está em cima de mim, passo as minhas mãos devagar por suas costas suadas e a cada vez que ele penetra, nós gememos juntos. Ele aperta minha cintura e vai mais rápido até que deixa o torso cair sobre mim, estamos arfando e a sensação é ótima.
-Ah, você é perfeita, Rose. -ele diz enquanto respira forte.
-Você também, querido.
Ele me dá mais um beijo e já não estranho mais. Ele sai de dentro e de cima de mim e se deita longe. Eu pego o lençol e me cubro.
-Amanhã temos que conversar mais um pouco, e você também irá conversar com o povo, está bem?
-Sim.
-Boa noite. -ele pega a minha mão que está em baixo do lençol e a segura.
-Boa noite. -fecho os olhos, penso no que acabou de acontecer e durmo feliz.

Matsso Nyage

Essa dor no peito não passa. E parece que o tempo também não. Que merda, ainda estou tão longe de Chimion. E quando chegar lá nem sei como vou achar Lila, mas não tem problema, eu dou um jeito, eu sempre dou. Vou achar ela. Calma Matsso! É difícil se ter calma quando seu coração está acelerado, te avisando que alguma coisa vai muito mal. Vou dormir pra ver se o tempo passa mais rápido. Encosto minha cabeça no vidro e penso em coisas aleatorias, até que minhas pálpebras se fecham e Lila toma conta do meu pensamento. É, eu sei que isso não é novidade.
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Ouço o plem parar bruscamente e acordo. Nem posso acreditar, cheguei.
Eu estava tão focado em achar Lila que nem pensei nas leis. Para não ser conhecido como um morador de Laicon, eu tenho que ter a marca de Chimion. Que é um simples triângulo preto no ombro. Mas não sai, se eu fizer, como vou voltar pra Laicon?
Logo na saída do plem, tem uns guardas olhando os ombros de todo mundo. E agora?
-Ei, você aí! -um dos guardas me chama -Venha, tenho que revistá-lo.
-Ah sim, eu já estou indo. Só tenho que pegar uma coisa lá dentro.
Entro novamente no plem e abro minha mochila, pego uma faca que tem dentro dela. Vai Matsso, você consegue, pela Lila. Vai! Coloco a faca no ombro e começo a tirar a pele da região onde eles costumam fazer o símbolo. Dói, mas não muito, é suportável. Sai sangue mas eu tiro o excesso numa blusa que estava dentro da mochila e saio do plem. Vou até o guarda que me olha de cima a baixo. Seus olhos vão em direção ao meu ombro.
-Cara, o que houve aí? -ele pergunta meio assustado.
-Eu... eu caí, é uma longa história, senhor. -Que mentira ruim foi essa?
-Fez um estrago feio hein, até tirou seu símbolo.
-É, pois é.
-Enfim, antes de qualquer coisa que vá fazer na região, passe num centro de marcação, por favor. Senão terá problemas aqui dentro.
-Eu sei. Vou fazer isso. Obrigado.
Ele me deixa passar e me sinto tão feliz por ele ser tão burro.

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*Plem: Meio de transporte público gratuito, onde cabem cinco pessoas sentadas e cinco em pé. Geralmente dirigidos por mulheres com menos de 20 anos.