11. Nome

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Matsso Nyage

Há uma ferramenta de ferro dentro da minha mochila e acho que ela vai ser útil para abrir a porta. Pelo menos, eu espero que ela seja.
No corredor não há mais barulhos, já deve ser tarde da noite.
Vou pra perto da fechadura da porta e primeiramente a olho, analiso cada junção de pecinhas dentro daquela pequena fresta; depois forço a ferramenta lá dentro. Ouço um track e continuo forçando. Giro com delicadeza e a cada som que estala, tiro a ferramenta do pequeno buraco e dou uma olhada para ver se há alguma mudança. Parece meio inútil fazer isso, mas tenho esperança que algo dentro desse buraquinho vai destravar ou virar, qualquer coisa que abra essa maldita porta.
Mais um track e pronto! Não foi nem preciso que eu virasse a maçaneta, a porta se abriu. Olhei para fora e vi os corredores mal iluminados que me esperavam. Corri silenciosamente até o canto do cômodo, peguei minha mochila, guardei a ferramenta dentro (a linda ferramenta! Obrigado Matsso por ter guardado isso) e a coloquei nas costas. Agora só tenho que tomar cuidado com os seguranças e achar Lila. Ainda não sei muito bem como vou conseguir "devolver" a memória dela, mas acho que com as palavras-chave certas, eu consigo.
Fecho a porta depois que saio e forço a vista para ter uma visão mais nítida de onde estou. Eu sei que isso é desnecessário, já que eu não conheço a casa da mandante de Chimion, então, não tem como eu ter noção em que parte da casa eu estou, já que eu não conheço a casa. Matsso pare de pensar em besteiras e ande!
Ando pelo corredor mais próximo. Ele é largo e o piso brilha riqueza mesmo no escuro, forçando a vista consigo ver o papel de parede detalhado e uns quadros grandes acima de mim. Que ridículo. Aqui é tudo muito ridículo. Se a Lila fosse realmente mandante daqui, seria mais bonito e menos exuberante. Nada aqui tem o jeito dela, como ela pode se deixar ser enganada desse jeito?
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Depois de andar e passar por algumas portas -que não haviam nada que eu procurasse- cheguei a uma porta grande e dourada, cada pedaço da porta brilhava em ouro. É aqui, com certeza. Lila está aqui dentro com um homem mentiroso e nojento e eu vou salva-la.

Lila Rose

O fato de que logo logo eu vou matar alguém não me deixa dormir. Viro e reviro na confortável cama durante horas, a madrugada nunca pareceu tão longa; na verdade, eu não me lembro.
Me levanto, olho no espelho e minha cara está péssima. Vou até o banheiro molho os olhos avermelhados e decido andar um pouco no jardim, olhar o céu e me acalmar, tenho que destrair esses pensamentos. Vou até a cama, dou um beijinho em Jason -que por sinal, dorme profundamente- e abro a porta.
-Mandante! -ouço do meu lado alguém dizer e tomo um susto, quase que solto um grito.
Aperto o botão que fica ao lado da porta e as diversas luzes que iluminam o corredor se acendem. Quando foco a visão, vejo Matsso à minha frente.
-O que faz aqui? -pergunto- Não deveria estar preso em algum lugar, cômodo?
-É, deveria, mas eu preciso falar com você Rose. -seu olhar ansioso fez com que eu cedesse.
-Tudo bem, siga-me. -o disse, afinal, precisava conversar com alguém, e ele assentiu.
Fui andando até o jardim e Matsso veio atrás de mim, seu olhar não focava em outra coisa a não ser em mim, e isso estava de certa forma me deixando constrangida.
Abri a porta central e fui até um dos bancos de madeira que havia no enorme jardim, sentei-me e esperei Matsso se instalar também.

Matsso Nyage

Sentei do lado de Lila no banco e meu corpo inteiro tremia, eu só quero que tudo dê certo.
-E então, o que quer tanto conversar comigo?
Eu sabia que tinha que pensar bem nas palavras que usaria, senão ía acabar afastando-a e isso era o que eu menos queria.
-Queria conversar sobre a minha vida. Já que vou ser morto daqui à algumas horas.
Ela engoliu em seco e vi que se sentiu incomodada.
-Pode me contar o que quiser Matsso. -ela por fim respondeu. Seu olhar era de compaixão. Nem ela acreditava no que 8a fazer.
-Eu sou um cidadão de Laicon há muito tempo. Eu fui pra lá com 14 anos depois que meus pais foram assassinados em Repon.
Vi que ela prestava atenção em cada palavra que saía de minha boca.
-Lá conheci uma garota que também era "órfã" -fiz aspas com os dedos- e ela me apresentou a casa dela. Era uma espécie de orfanato, sabe? Mas não tinha muitas crianças, só ela e Mattie, uma menina de oito anos na época.
Os olhos de Lila estavam lagrimejados e vermelhos, ou por causa do sono ou por causa da história.
-Dona Lid que cuidava delas como se fossem suas filhas... -Lila arregalou os olhos e me interrompeu.
-Lid? Eu acho que a conheço.
-Eu também acho. -encarei os olhos de Lila por um instante e ela me encarou de volta, então prossegui- a garota me apresentou para dona Lid e a mesma fez questão de que eu morasse com ela. Com elas, na verdade. E eu fui me apaixonando pela garota. -meus olhos já queriam soltar as lágrimas, mas eu as segurei.
-Nossa Matsso, e como ela era? -Lila chegou mais perto na tentativa de me deixar melhor. Mas eu estava bem, a garota estava bem ali do meu lado. Eu só precisava que ela se lembrasse disso.
-Ela é linda. A mulher mais bonita que eu já vi. Sua pele se mescla entre claro e escuro, e seu sorriso, não há brilho mais bonito. -a encarei novamente e em seus olhos havia algo diferente, havia Lila ali, a Lila estava voltando!
Ela me olhava enquanto tentava falar alguma coisa.
-E qual é o n-nome d-dessa garota? -ela disse depois de umas gaguejadas.
-Seu nome é Lila, Lila Rose.

Lila Rose

No instante que ele disse aquele nome meu corpo inteiro pulsou, senti dentro de mim uma sensação estranha, eu não sabia o que estava acontecendo. Vários momentos começaram a passar pela minha cabeça e eu vi a menina, igual à mim, os mesmos olhos, a mesma pele, tudo igual. Também vi Matsso e ela de mãos dadas e aí tive certeza de quem era Lila Rose. Era eu. Eu sou a Lila de quem ele tanto fala.

Matsso Nyage

Os olhos perdidos de Lila me mostraram que ela se lembrou. Ela se lembrou de mim, se lembrou quem ela é.
Eu não disse mais nada e ela também não. O silêncio que se instalou no pequeno vão entre nossos corpos deixou nítido o som dos ventos que balançavam os galhos das árvores e os centímetros de grama.
Eu não sabia o que dizer e muito menos o que fazer.
-Matsso... -Lila disse baixo.
-Oi Lila.
-Me ajude, por favor.
E foi aí que seus olhos se encheram de lágrimas até que uma por uma foi molhando suas maçãs do rosto.
Passei o braço por seus ombros e a puxei de encontro com meu corpo, e ali ela ficou, deitada no meu ombro e com certeza ouvindo meu coração que pulsava a mil por hora. Ou até mais.

Ordeno, matem-o. Onde histórias criam vida. Descubra agora