Lila Rose
Acordo num estreito corredor, estreito mesmo. Minhas pernas ficam coladas e meus ombros quase beijam meu pescoço e estou curvada. Estou nua. Sinto uma enorme dor na garganta e há sangue escorrendo por minhas pernas, muito sangue, que de pouco em pouco sujam o chão. Meus pés estão um pouco dormentes e essa posição me incomoda, mas não sou capaz de me mover, é como se eu tivesse acabado de ser atropelada, tudo dói. Não me lembro como fui parar aqui.
Não há um só som aqui. Será que estou sozinha? Não sei se torço para estar.
Depois de poucos minutos meus ouvidos captam um ruído bem ao longe, diminuo o ritmo da minha respiração para tentar ouvir o que as vozes dizem; não consigo compreender, mas sei que são mais de duas pessoas.
Desisto de ouvir e com certa dificuldade me encosto na fria parede atrás de mim, sinto o suor descer pela minha nuca, fecho os olhos na tentativa de descansar, mas na verdade nem sei o porquê de eu estar cansada, mas é assim que me sinto, sonolenta, quebrada, com o corpo todo dolorido.Matsso Nyage
Sentado na meio fio está Jack com um pedaço de palha na boca. Vou explicar bem resumidamente quem ele é: um mané.
Ele me olha como se soubesse o que estou procurando, ou melhor, quem estou procurando. Vou até ele em passos firmes e ele levanta a cabeça pra me olhar nos olhos.
- Cadê ela? -ele me olha com um sorriso debochado no rosto.
-Ora, ora, ora, Matsso Nyage não sabe onde está Lila. -ele solta uns risinhos enquanto bate algumas palmas. Quero chutar a cara dele.
- Jack, não comece a ser cínico. Você sabe onde ela está? -digo enquanto aperto os punhos.
- Não, eu não sei, mas há uma grande probabilidade de ela estar despedaçada, bem embaixo dos seus pés. -ele fita meus pés e cospe aquele pedaço de palha mastigado no intuito de acertar em mim, mas isso não acontece.
-Claro que tem essa possibilidade, mas se você, que é esse grande saco de merda, está vivo, é quase impossível que alguém como a Lila tenha morrido, certo? - ele se levanta e começa a me peitar.
-O que você disse? -vejo a raiva nos seus olhos.
-Acho que o som das bombas afetaram sua audição, Jack.
Ele me empurra, e eu só cambaleio um pouco pra trás.
-Você perdeu a Lila! Ela está morta! Você não foi bom o suficiente para cuidar dela! Se ela estivesse comigo ela estaria aqui, sã e salva! -ele diz gritando.
-Cala a sua boca. -digo baixo, quase inaudível. E sinto um soco no braço. Quando ele vem de novo me bater, seguro seu punho e o viro, e ele se contorce, viro mais até que ele fica de costas pra mim, quase ajoelhado; dou um chute no cotovelo dele e ele grita de dor, mais um chute e vejo o osso saindo pra fora. O solto e ele cai de cara no chão, gritando feito uma criança.
-Até mais Jack. - dou um sorriso de canto e saio sem olhar pra trás.Lila Rose
- Olá. É... Lila, né?
- Sim, Lila.
- Espera aí, vou ajudar você a sair daí.
Ele segura as minhas mãos e me puxa pra fora do aperto onde estava. Fico nua em pé na sua frente, mas ele não parece interessado, ele age como se fosse normal eu estar daquele jeito.
- Prontinho. Venha. -ele começa a andar na minha frente e eu sem saber o que fazer o sigo. Estou constrangida, não tem nada aqui pra me tampar e estou com sangue seco da vagina até os pés. Não é uma situação boa.
Chegamos ao que parece um quarto, ele abre a porta pra mim e me dá passagem para entrar primeiro, entro e quando olho pra trás a porta está fechada e ele não entrou junto comigo, sinto medo.
No canto do quarto há uma pia, vou até ela e bebo muita água, lavo o rosto e as pernas. Me sinto mais limpa agora. E então a porta se abre, e o mesmo homem entra com mais três.
O que está acontecendo aqui?
Olho atrás deles e entrandopela porta há mais um homem carregando consigo uma maca; quando elee a maca entram no quarto, ele tranca a porta e pede pra eu me deitar ali.
-Não. -exclamo.
-Vamos Lila, deixe tudo mais fácil.
- O que vocês pretendem fazer comigo?
-Cuidar de você, ora. -diz o primeiro homem
-Não vê que está toda machucada? -diz o outro homem.
- Eu posso me cuidar sozinha senhores. Mas muito obrigada pela gentileza.
-Ai ai Lila. Michel, pegue-a.
Um cara que não tinha falado nada desde então começa a vir em minha direção, ele é poucos centímetros mais alto que eu e sinceramente, aquelas tatuagens e a cara de mal não me assusta, nem um pouco.
Quando ele chega bem perto, abre os braços para me obrigar a ir pra maca, eu chuto a cara dele. É isso mesmo, com o meu pé direito, ele cambaleia e cai no chão feito maria mole. Olho para os outros homens e eles fingem que não estão surpreendidos.
- Ninguém vai me obrigar a fazer o que eu não quero! -digo e o cara que estava atrás da maca vem em minha direção.
Ele vem mais rápido e é maior que o outro. Ele agarra meus pulsos na tentativa -falha- de me imobilizar. Levanto o joelho e acerto ele no meio das pernas, ele solta um gemido de dor e libera meus pulsos, dou um soco na cara dele e ele cai no chão. O primeiro homem vem até mim e fica do meu lado sem fazer nada.
-Lila, calma, deixa eu lhe explicar.
Viro-me pra ele e tento manter a calma. Mas sinto uma pontada nas costas e quando viro lá está Michel, com uma seringa na mão sem nenhum conteúdo. Filho da mãe, ele enfiou algo dentro de mim, olho pra frente e o outro está dando uma risadinha, fui tola. Sinto minha cabeça girar e antes de cair dou um soco na boca do primeiro. Minha visão fica turva e minha respiração lenta. Desmaio.
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Ordeno, matem-o.
RomanceMatsso Nyage procura por Lila entre os destroços da guerra que destruiu uma parte da região de Laicon. Ele espera encontrá-la viva. O que ele não sabe é que os Chims (grupo de moradores da cidade rival) a sequestram e o que eles pretendem fazer com...