Cap II - A chegada

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Quando a estrada acabou no meio do centro do povoado já era noite. Nem fiz questão de descer. Retirei uma dúvida sobre a ponte que dava acesso À fazenda com um grupo de velhos que jogava truco em um bar e segui meu rumo. A estrada totalmente mergulhada no breu fazia meu coração saltitar. O farol alto e a estrada esburacada mostravam a potencia do meu carro e ao mesmo tempo do meu ego. Freei bruscamente em frente a uma cancela que eu desconhecia e desci, descalço mesmo, para abri-la. Meti meu pé em uma poça de lama, mas nem seque o sacudi. Era a vontade de chegar logo. Quando avistei a casa grande me sorri com sua luz fraca acelerei com mais gosto. Parei de frente a porta e buzinei antes de descer. Enquanto retirava minha mala da traseira ouvi um suspiro.

— Fabinho de Deus! Achei que você tivesse se perdido menino. Seu pai já ligou umas trinta vezes. — Fiz cara de desanimo antes de abraçar fortemente Dona Ana, caseira que tomava conta da nossa casa na propriedade. — E esse pé descalço menino? E nessa cor? Tu veio andando foi? — Constrangido, encolhi os dedos. — Vem tomar um banho quente que eu to com a janta quase que toda pronta. — Sem palavras a agradeci com um beijo na testa, e segui para o meu antigo quarto

.

Abri a porta com um empurrão. Quando ascendi a luz, o cheiro da nostalgia me nocauteou. Ali eu tive tantos momentos bons, ruins, engraçados, e outros que prefiro nem lembrar. Enquanto me despia comecei a remoer uma idéia, realmente teria sido uma boa idéia aquela temporada ali? Dirigi-me para o banheiro com esse mesmo pensamento, mas quando a água abundante me lavou a cabeça, pitbull veio me fazer companhia.

Terminei o banho e rumei para a cozinha. Sequer me ative a pentear os cabelos, apenas corri os dedos pelos fios, e vesti uma calça de moletom que encontrei em um malão no meu quarto. Nem sei se me pertencia. Entrei na cozinha de cabeça baixa, enquanto retirava a água do cabelo esfregando-o. Alteei meus olhos para saber o que me esperava para a ceia, e me surpreendi quando vi aquela figura ali escorada na parede. Meu coração trepidou, e meu olhos piscaram de excitação.


— Sem camisa e com o cabelo molhado Fabinho? Que pegar um resfriado menino? — chiou Dona Ana enquanto eu tentava não encará-lo. — Sente aí que já lhe sirvo. — Falou ela apontando uma cadeira e sentido algo diferente no ar. — Esse rapaz aqui é o Jasão, o responsável pelos cuidados dos cavalos agora. Se você não se importa ele nos fará companhia no jantar.


— Tem nada não. — As palavras escorreram da minha boca enquanto eu o mirava mais discretamente. Era um sujeito alto e de pele morena borrada pelo sol. Um cavanhaque mal desenhado enfeitava-lhe a face séria. Usava uma camisa de manga cumprida dobrada até os cotovelos e uma calça jeans suja. Um cinto marrom preso por uma fivela discreta e na cabeça um chapéu de couro. Desci meus olho até seus pés e me deparei com uma bota de bico quadrado. Marrom, o calçado era circulado por uma espora, e demonstrava ser usada todos os dias. Voltei meus olhos para Jasão e o encontrei me encarando de volta. Sem graça sorri torto, e ele devolveu com uma aceno de cabeça.

Sentamo-nos e desfrutávamos da bela ceia que Dona Ana havia preparado. Eu comi satisfeito enquanto ela me perguntava sobre todo mundo. Durante todo o jantar Jasão não deu nenhuma palavra. Mas ele conseguiu me intrigar mesmo assim. Eu tinha certeza que no moletom, meu pau estava marcado. Logo, não poderia me levantar dali tão cedo. Quando estava quase terminando me perdi encarando-o. Dona Ana havia se levantado para descascar algumas laranjas. Jasão comia de cabeça baixa. Sabe quando alguém está te espiando e você sente? Acho que foi isso que o fez altear a vista e se deparar comigo. Ele engoliu o resto da comida e soltou suas primeiras palavras.



— Algum problema, amigo?


— Não... — minha cabeça entrou em curto, e todas as palavras sumiram. — Não não, Eu estava pensando nos cavalos. — Elas foram voltando aos poucos. Meu coração podia ser ouvido a quilômetros.

Meu primeiro mestre [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora