[Cap - XI] - Sangue

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Chagamos com a sobra do crepúsculo nos ofuscando os olhos. Cavalgar foi difícil pra mim, confesso, mas eu não tinha do que reclamar. O sol batia tímido e me permitia admirar Jasão mais claramente. Se ele pudesse ouvir o maldito do meu coração, saberia na hora no que eu pensava. Desci do cavalo e ele se aproximou.
— Brigado pela companhia. — Sua voz firme soou quando ele estendeu a mão. E a apertei com gosto.
— Companheiro é companheiro. — Sorri.
— Agora vou ter que ir até o povoado avisar sobre os bezerros. A coisa vai ficar feia por essas bandas meu amigo.
— Quero nem pensar.
— Vai dormir cedo hoje?— Perguntou ele fazendo meu coração saltar.
— Talvez.— Forcei uma indiferença. — Por quê?— Enquanto dizia, fazia meu tesão se calar por dentro.
— Tava pensado e passar na casa pra tomarmos um conhaque.
— Beleza, a que horas mais ou menos?
— Devo chegar pelas dez.
— Bate la então! — Falei me afastando com o coração a mil

Entrei na casa e dona Ana me recebeu com um sorriso. Me colocou de castigo na mesa e afirmou que só me deixaria levantar dali depois de engolir um copo gigante de leite e comer quatro toras de bolo. Isso para esperar o jantar. Enquanto eu comia contava para ela dos bezerros. Dona Ana levou a mão a boca e me fez constatar um idéia apavorante. O que quer que tenha feito aquilo com os bezerros estava a metros de nós. E enquanto eu e Jasão transávamos, ele dilacerava os animais. Meu estomago rejeitou a comida. Me levantei e agradeci a atenção da senhora. Rumei para o quarto e me preparei para o banho. Quando a água começou a escorrer foi que percebi o quanto exausto estava. Parecia que quando o peão não estava por perto eu era somente um garoto, mas quando eu estava com ele, era um super-herói feito de aço.
Quando sai do meu quarto cheirando a sabonete, e como sempre com os cabelos molhados, me deparei com dana Ana indo em minha direção.
— Você tem visita. — Disse parando. — Pelo amor de deus, enxugue esse cabelo, Fábio.
— Quem é? Estranhei, passando a mão e retirando um pouco da água.
— Não quis entrar, tá lá no alpendre te esperando.
Com uma estranha sensação, me conduzi até fora da casa e me deparei com minha visita. Era Tomás quem me esperava na penumbra da noite.
— Tom? — Chamei. Ele se virou e vi algo de estranho em seus olhos rasgados. — Por quê não entrou?

— Não posso demorar. — Falou ele.
Aproximei-me e apontei uma cadeira. Ele não se sentou.
— O que foi? — Perguntei com um toque de preocupação.
— Vim lhe entregar isso. — O japa estendeu um envelope postal branco. Não tive reação nenhuma, estava sem entender. — Pegue fabio! — Insistiu ele como se dependesse que eu pegasse.
Ressabiado peguei o envelope, e o virei entre os dedos. Olhei novamente para tom e o japa fez sinal para que eu o abrisse. Levantei a aba e retirei um papel dobrado lá de dentro. Quando li a primeira linha já senti um soco no estomago. A caligrafia de pitbull estava riscada no papel. Voltei meu olhos para Tom querendo um explicação, mas ele implorou que eu lesse tudo.
Caro, Fabio. Sinto sua falta. Muita. Esse vermezinho que vc diz ser seu amigo, não é absolutamente nada se comparado a você. Meu escravo. Meu garoto. Meu cão com pedigree. Somente meu! Quero um encontro hoje a noite. E nem pense em recusar.
— É obvio que eu vou recusar! — Falei puxando o japa pelo braço até uma área mais escura da varanda. — Você viu do que esse cara é capaz. E o que ele nos fez. Você anda encontrando ele? — Tomás confirmou com o olhar. Não foram necessárias palavras. — Você é muito idiota tomás! Pega essa porra dessa carta e vasa daqui. Fala para aquele louco me esquecer!

— Ele disse que se você dissesse isso, para eu lhe entregar esse envelope também. — Falou o japa me entregando um novo envelope que retirou do bolso.
O rasguei com ânsia. E quando meus dedos tocaram o conteúdo, senti um choque no cérebro. Virei um pouco para a luz e vi as fotos em perfeita qualidade. Onde eu aparecia completamente nu ao lado de Tomás. E deixando clara a idéia de que estávamos transando. Ele provavelmente deveria ter tirado aquelas fotos enquanto nos dopava. Uma ira crescente correu em minhas veias. Foquei meus olhos de ódio no japa, mas ele pareceu mais assustado que eu.
— Ele falou que em três tempos solta essas fotos na capital. Inclusive para alguns contatos da sua faculdade e para a empresa do seu pai.
— Como ele tem esses contatos? — Tomás engoliu em seco, e acabou se entregando. — Filha da puta! — O empurrei. — Por que fez isso? Só para ser a putinha dele? — Ele fez que não com a cabeça.
— Ele me obrigou Fabio. Acredite.
— Desgraçado! Fala pro seu dono para ele se foder! Ou melhor, para ele te foder! Eu não vou pra lugar nenhum. — ative-me a não gritar, mas minha voz saiu dura o suficiente.
— Ele falou que se você não fosse, para eu lhe mostra uma coisa.
— Que foi? Um filmagem agora?
— Não. — Falou ele virando de costas e levantando a camisa. Por cima do manto negro da noite, vi os riscos vermelhos nas costas do meu amigo. Começavam desde a nuca e descia. Pareciam não parar quando chegavam onde a calça começava. Algo muito parecido com preocupação me assolou. — Se você não for cara, eu não sei o que vai ser de mim.

Fiquei parado alguns instantes. Remoi algumas idéias, e respirei fundo. Aquelas malditas fotos não podiam ser divulgadas, mesmo não sabendo se pitbull teria coragem para tal, eu não poderia arriscar. Mas quem me garanti que ele vai destruir as fotos? Isso seria um circulo vicioso. Mas e o japa? Se ele se encontra com o pitbull é por que gosta. Mas eu não saberia lidar com minha consciência. Contudo, depois de pensar em todas essas idéias não foi nenhuma delas que me convenceu. Foi uma que eu me odiei por pensar. Lembrei-me do meu ultimo encontro com o motoqueiro, e o pior, eu gostei.
— Vou pegar minha chave. — Falei colocando-me de prontidão para entrar.
— Não, vc tem q vir comigo.
— Mas eu vou no meu carro.
— Ele insiste que eu o leve Fabinho. — Clamou o japa. Consenti.e me apenas subi para avisar dona Ana que não jantaria em casa.
Tomás e eu não trocamos nenhuma palavra da fazenda até o povoado. Ele somente se virou para mim quando paramos em uma das vielas.
— Tenho que te pedir outra coisa.
— O que? — perguntei mostrando minha insatisfação de estar ali.
O japa retirou uma venda de dentro do cofre da caminhonete.
— Você não pode ver para onde vamos.
Não sei por que continuei. Não sei por que peguei a venda. Sentindo um misto de tesão e medo, comecei a levá-la até meus olhos. Mas parei quando notei uma presença numa casa ali próxima. Com as mãos na cintura, reconheci Jasão de costas, e de súbito, me lembrei que havia marcado com ele. O desgraçado do pitbull estava me fazendo furar com o cara mais perfeito que já conheci na minha vida.
— Não posso atrasar fabio, anda.

Sentindo meu coração pesar, vendei-me.
Tomás fez o caminho tortuoso que dava para o esconderijo de pitbull. Não sei se aquele tanto de volta era para me despistar, ou se realmente o caminho era complicado, mas fiquei aliviado quando ouvi o motor do carro desligar. Estava para me desvendar, quando ouvi mais uma suplica do japa.
— Espere, por favor!
Ele desceu e abriu a porta para mim. Me ajudou descer e me conduziu pelo braço. Depois de caminharmos alguns metros sobre algo que deduzir ser terra, ele abriu uma porta. No ato, senti um cheiro de Cigarro e sodomia. Estávamos na toca da fera.
— Meu convidado chegou. — Ouvi sua voz rasgar o silencio e me arrepiar a espinha. — Traga o aqui verme! — Ordenou fazendo com que o japa me guiasse até próximo dele. Em seguida retirou minha venda e o contemplei.
Juan Carlo pitbull, tão ordinário quanto perfeito, estava sentado em sofá todo furado. A sala é a mesma que estive na outra ocasião. Seu olhar também era o mesmo. Estava sem camisa, uma calça jeans torando suas pernas grossas, e o par de coturnos que fui obrigado a limpar com a língua.
— Bom garoto. — Disse estalando os dedos. Tomás se pôs de quatro e, como um cachorro, se aproximou de pitbull. Beijou-lhe os pés e levantou a cabeça na espera de receber um agrado. O caraça abriu a boca e deixo uma bola de cuspe cair sobre a boca aberta do japa que, satisfeito, saiu de quatro até o canto da sala. — Que bom te ver fabio.

— Cara, isso está indo longe demais. — Tentei argumentar.
— o que? — cinicamente, o motoqueiro me encarou. — Eu sentir sua falta? Eu querer ficar perto de você?
— Me entregue as fotos, e liberte o Tomás. A gente finge que nada disso aconteceu.
Ele abriu o sorriso largo.
— Achei que fosse pedir para tirarmos mais fotos. — Falou cruzando as pernas. — E quanto ao japonês? É ele quem não quer ir. Acha que vejo aluma graça nesse verme? Ele que implora pelo meu chulé, Pelas minhas palmadas, pelo meu cuspe, pela minha porra. Essa bicha quer tudo que você poderia ter sem nenhum esforço.
Olhei para Tomás de quatro no canto e constatei sem dificuldade que tudo que pitbull dizia era verdade. E que aquela cena para me convenncer a vir, não passava disso, uma armação. Tudo para me trazer para o covil e agradar seu mestre.
— Eu não quero nada disso. Pode dar tudo pra ele! — Falei com o peito cheio de ar.
— Mas eu quero é você. — Pitbull se levantou na minha frente e me segurou pela camisa. — Colé, acha que vou te entregar de bandeja para aquele peão de merda!

Meu primeiro mestre [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora