The end - 2

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Eu soube que ele era a
coisa pelo simples odor que ele exalava. Seus olhos eu encarei com firmeza pois
eu já os reconhecia. Meu coração disparou descontroladamente a encará-los outra
vez. Era ele, Malboro, O motoqueiro que tentou me assaltar no posto de gasolina
e que graças a pitbull não conseguiu. Fiquei em silêncio jogado no chão
enquanto ele me lançava um olhar faminto. Mais faróis surgiram às suas costas e
seus comparsas chegaram. Eram mais cinco homens, todos mal encarados e vestido
trajes característicos de motoqueiros. Couro, jeans e coturnos. Porem algo
sinistro assolava aquelas figuras, algo que, se eu já não tivesse certeza que
era o fora o medo quem me havia deixado estático, seria aquela cena. Todas
eles, principalmente Malboro estavam com as vestes sujas de sangue. Um deles,
um sujeito branco e de porte de urso segurava a cabeça decepada de um bezerro.
E os outros carregavam litros transparentes cheios com o liquido viscoso e
vermelho. A coisa havia atacado novamente.

            — Eu tenho a leve impressão que te conheço de algum lugar
garoto. — falou Malboro com sua voz arrastada que quase me arrancou a alma. Eu
não disse nada, não consegui. — Me lembrei. — Um sorriso riscou sua face
sombria. Os faróis me iluminavam inoportunos. Me impediam até de rezar. —
Rodrigão. — Chamou malboro e um sujeito grande, com músculos saltando pela
regata branca, e com um moicano arqueado se aproximou.  — Acho que encontramos nossa oferenda.

Só consegui processar o
que malboro havia dito quando o sujeito enorme caminhou em minha direção.
Minhas pernas bambas quase não me sustentaram quando ele me puxou pelo braço e me
pôs de pé. Rodrigão retirou uma corda fina da capanga que carregava na cintura
e amarrou meus punhos. Meu coração quase dilatou meu peito.

            — por favor.— Falei sem saber por que.

            Malboro bufou. Encarei o olhar de todos aqueles homens
famintos. O pavor veio em tanta quantidade que foi difícil senti-lo. O sujeito
enorme retirou outra corda e amarrou meus pés descalços.

            — Eu pago o que for preciso. Quanto for preciso. —
Supliquei quando encarei os olhos do sujeito que me amarrava. Era
intimidadoramente belo. — Juro que não conto a nimguem que são vocês. —
Implorei. Foi quando senti o grande soco no estomago. Rodrigão havia me
acertado. Cai de joelhos apertado de dor. Ele me vendou com um pedaço de pano
negro. Ouvi as gargalhadas dos motoqueiros e senti ele me suspender segurando
pela barriga. Fiquei pendurando enquanto ele me carregava gemendo de dor. Senti
o banco de couro pregar em minha barriga quando ele me colocou sem nenhuma
delicadeza no banco da moto. Rodrigão sentou em seu posto e me deixou dependurado
enquanto fazia o motor do veiculo rugir. As motos foram seguindo e rodrigão arrancou. Dependurado vi minha vida
em risco pelos meus olhos tampados. Sentia todo o cheiro nauseante do
escapamento da moto enquanto ele fazia um caminho desconhecido.

Medo. Muito medo. Foi a
única sensação que senti enquanto estava sendo seqüestrado pelo grupo mais
macabro que eu podia imaginar. Não estou me atendo a nenhum clichê, mas minha
vida de fato passou como um filme em minha mente. A infância regada a exageros
e falta de carinho, problemas em manter minha sexualidade confusa, amigos,
pretenções, Jasão, e por fim pitbull.

            Dei graças quando o rugido das motos parou e parei de
senti o inquietante vento da velocidade parar de esfregar em minha face.
Percebi que rodrigão desceu da moto e me tirou do banco. Por mais frio que
fizesse eu havia suado como um porco e minha barriga nua havia colado no banco
de couro. O motoqueiro me jogou no ombro como se eu fosse um saco vazio. Meu
estomago ainda estava doendo pelo soco enquanto ele me carregava. Senti o
sereno e a nevoa da noite sumirem e entrarmos em algum lugar que tinha um
cheiro pesado, predominantemente cigarro. Como se eu não mais estivesse vivo, o
bruto me lançou no chão. Minhas costas foram direto no assoalho gelado do
lugar. Respirei pesado quando ouvi os passos rodearem sobre mim. Alguém
arrancou a venda sem modéstia. Me vi em uma enorme sala que algum dia havia
sido de bom gosto. Moveis velhos entregados ao tempo e a poeira e uma lareira
que provavelmente a anos não via fogo eram minhas únicas testemunhas.  Encarei os seis seres gigantes me encararem
em circulo no chão. De tão apavorado não consegui encarar nenhum diretamente.

Meu primeiro mestre [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora