[Cap- XIII] - Assim como Edmond Dantes

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— Jasão, sente-se filho, o bolo já esta para ser servido! — Disse dona Ana retirando a forma do forno.

— Agradecido. — Disse o peão saindo e fechando a porta às suas costas. 

Fiquei estático por um bom tempo. Dona Ana já havia servido o bolo e Tomás já engolia um grande pedaço quando eu o fitei. Se fosse possível faze-lo engasgar naquele momento, eu teria feito. Com o coração apertado sai da cozinha sem comer. Minha vontade era sair correndo e dar um grande abraço no peão e dizer que ele era o melhor amigo que tive na vida, e que se eu pudesse largaria tudo para viver com ele naquela casa. Mas eu não fui. Não sei ao certo o que me empediu. Não sei se foi o meu maldito juramento a pitbull na noite passada, ou o olhar espião de tomás, ou uma idéia que me pentelhou quando sentei no sofá e peguei um livro jogado na mesa de centro. Junto às revistas antigassas, o livro estava coberto de poeira e quem lá estivesse o lendo, havia abandonado na metade. Mas o fez mal, pois eu já o havia lido, e era um história clássica e brilhante. “O conde de monte Cristo” narrava a história de Edmond Dantes, que após ser traído pelo melhor amigo, e daí ser preso, humilhado e perder a mulher que ama, volta rico e disposto a buscar o remédio mais cruel da humanidade, um remédio que eu estava disposto a usar para me satisfazer e tirar aquele filho da puta daquele japonês da minha vida: Vingança .

Tracei o plano inteiro antes mesmo dele terminar a terceira tora de bolo. Começaria pelo psicológico, passaria pelo abuso, e terminaria na chantagem. Tomás iria se arrepender de ter me traído e afastado, mesmo que por segundos, Jasão de mim. Eu também teria que fazer um sacrifício. Passaria o dia inteiro sem ao menos tocar no nome do peão. E estava disposto a conseguir.

Ele saiu da cozinha e se sentou na sala ao meu lado como ainda fossemos grandes amigos. Fingi que estava lendo o livro. Ele manteve-se em silencio apenas me encarando. Sabia que ele sentia inveja de mim por eu ser o desejado de pitbull. E estava ali disposto a me ferrar de qualquer forma. Mas eu era mais esperto.

— Não me lembro do final da noite de ontem. — Baixei o livro e o encarei. — Foi você quem me trouxe para casa e me trocou de roupa?

— Sim. — Respondeu ele apoiado os braços sobre os joelhos.

— Mas a noite foi muito boa. Amanheci todo melado. — Um risco de ciúmes traçou seu olhar. Segurei o riso.

— Você achou?

— Sim. O desgraçado do pitbull, digo, mestre, saber fazer o negócio direito. — Falei percebendo que, desequilibrar o japa seria mais fácil que eu imaginei. Ele era extremamente inseguro e infantil.

— Já está chamando ele assim? — Tentou forjar um sorriso de deboche.

— Sim. E estou disposto a fazer exatamente o que ele quiser. A partir de ontem decidi que quero levar essa história para frente. — Percebi a inquietude no silencio do japa.— Ele já lhe contou como nos conhecemos?

— Já.— Respondeu secamente dando a entender que não queria mais ouvir aquela historia. Mas insisti em conta-la.

— Ele me salvou. — Sorri maliciosamente. Meu pau saltitou na lembrança e marcou meu short. Percebi que ele reparou e continuei a contar a historia me atendo aos detalhes. Inclusive descrevi o quão magnífico ele estava e o quanto eu desejei. Por fim, deixei claro que agora que pitbull estava disposto a me querer, iria me entregar para ele.

Tomás se levantou do sofá com um espectro no olhar. Sorri ao perceber que minha vingança estava começando a fazer efeito. Acabei de ler mais um capitulo do livro e depois subi para o quarto. Passei o resto da manhã no notebook tentando escrever, que fosse, uma linha do meu trabalho. Nada. Minha mente se dividia em três partes idênticas. Jasão, Vingança, e pitbull. Isso mesmo amigos, por mais que me incomodasse, eu pensava no motoqueiro. Em seu hálito quente, e em seu toque apertado. A cada lembrança daquela sola delineada na meia preta meu pau me incriminava. Não era somente por vingança que eu queria acabar com Tomás. No fundo, por mais que eu tentasse afogar, um sentimento desconhecido crescia referente ao careca. Esse sentimento, diferente do que eu sentia por Jasão era inteiramente controlado pelo meu libido. Meu coração se calava quando meu pau ditava as regras. E eu como um cego em uma casa de espelhos, não fazia a mínima idéia do que fazer, ou qual deles ouvir. 

Meu primeiro mestre [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora