A carta e o soldado

Capítulo 2

Narração homem:

Já era o meu quarto dia como soldado na guerra, estava exausto. Minha vontade era de estar em casa junto com minha família, mas no entanto estava lá no meio de uma guerra sem saber se voltaria vivo para casa. 

No meu segundo dia ali eu vi um soldado do nosso acampamento ser morto, foi morte instantânea, pelo menos ele não sofreu. Mas se ele tinha família, eles sofreram e eu não quero que a minha passe por isso.

-- Abaixa Leon -- Ouvi um soldado me dizer -- Abaixa

A bala passou de raspão por cima da minha cabeça.

-- Essa foi por pouco -- falo -- Foi por pouco...

-- Você precisa ficar mais ligado -- ele diz -- Ta querendo morrer?

-- Desculpa -- falo me escondendo atrás da trincheira e posicionando a arma em direção ao inimigo -- Vou prestar mais atenção.

Narração mulher:

Estava no meu quarto, procurando pela caneta para que pudesse escrever a carta. Eu ainda não sabia o que escrever, mas me baseando em históricos, quando eu começa-se a escrever o negocio iria fluir.  Foi dito e feito, comecei a carta me apresentando e depois escrevi algumas coisas que na minha cabeça o deixariam melhor. Era o que eu queria, era o que eu esperava.

-- Com amor, Nilce Moretto -- falo repetindo o que estava escrevendo

Estava revisando a carta quando minha irmã veio me dizer que já estava tarde e precisávamos dormir. Guardei a caneta e coloquei a carta dentro do envelope.

-- O que é isso? -- Minha irmã perguntou

-- É uma carta para um dos soldados que está lutando na guerra -- falo 

-- Ah, a mamãe me falou -- Minha irmã diz bocejando. -- Qual o nome dele?

-- Leon -- falo -- Leon Martins

-- Você viu alguma foto dele? - Minha irmã fala deitando na cama.

-- Vi sim -- falo -- Mas ela estava muito pequena. Ele estava com roupa de soldado. A unica coisa que deu pra notar é que ele estava com a barba por fazer e a pele dele era rosada.

-- Legal -- Minha irmã diz bocejando novamente.

Apaguei as luzes do quarto e fui dormir, certa do que faria assim que acordasse.

...

Narração homem:

Acordei para mais um dia de guerra, não estava feliz, não estava disposto, não aguentava mais. Se eu aparecesse morto, talvez não fosse por tiro do inimigo.

Narração mulher:

Acordei para fazer o que tinha que fazer, estava feliz, estava disposta, estava animada. Saber que iria ajudar alguém, me deixava assim.

Narração homem:

Fui em direção ao campo de batalha, para mais um show de horrores.

Narração mulher:

Fui em direção ao centro que cuida desse projeto, para levar minha carta.

Narração homem:

Fazia o possível para ficar bem, mas as vezes a vontade que eu tinha era de ficar parado na frente do inimigo para que ele me matasse.

Narração mulher: 

Entreguei  minha carta para a moça.

-- Você parece estar muito feliz hoje - Disse a mulher.

-- Sinto que essa carta vai ajuda-lo muito -- falo 

Narração homem: 

Minha vida ali estava um inferno, não estava mais aguentando ficar longe da minha família. Tudo que eu queria era ter alguém para conversar, qualquer pessoa. Qualquer pessoa que não fosse outro soldado, os assuntos por ali eram apenas estrategias para acabar com o inimigo e eu já estava cansado daquilo.

Narração mulher:  

Voltei para casa muito feliz, eu não sabia se o Leon iria gostar da carta ou se ia me responder. Porém o que eu mais queria era que ele mandasse alguma resposta, estava disposta em ser sua amiga só dependia dele agora.

...

Narração homem:

Ao fim de mais um dia de guerra, voltei para o acampamento. Estava morrendo de sono porém parei para conversar com outro soldado.

-- Você está aqui a muito tempo? -- falo

-- Faz uns 2 meses já. -- ele fala mostrando cansaço 

-- E você está aguentando? -- falo -- Eu estou aqui a uma semana apenas e já quero me matar.

-- A gente tem que aguentar fazer o que. Mas se matar não é uma coisa que nunca pensei. -- Ele fala -- Comecei a receber cartas por meio daquele programa e tem me ajudado um pouco.

-- Não acredito que uma simples carta ajudaria. E acho que nem vou receber carta de ninguém -- falo -- sou muito azarento.

-- Realmente. Tem muito soldado, tem que ter muita sorte. -- Ele fala -- Recebo cartas de uma mulher chamada Isabel. Mas talvez você receba alguma também.

-- Sei lá -- falo