Capítulo 3

98 15 24
                                    

Narração homem:

Acordei para mais um dia ali naquele lugar, fui em direção ao local onde tinha água, para beber um pouco.

-- Você ficou sabendo? -- Ouvi um soldado dizer para o outro -- Aquele soldado que foi baleado ontem, infelizmente não resistiu.

-- As chaces de sermos os próximos é grande -- O outro soldado fala

Aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça, eu tentava não lembrar as grandes chances que eu tinha de não voltar vivo para casa mas era praticamente impossível. Acabei de tomar água e fui para mais um dia de guerra, correndo um tremendo risco de vida.

Foi um dia intensivo, a impressão que eu tinha é que as balas da guerra foram gastadas todas naquele dia.

-- Abaixa, abaixa -- Ouvia um soldado falar -- Atira, atira -- Outro dizia.

-- O soldado Rogério foi baleado -- O soldado ao meu lado falou -- Leve ele lá pra traz Leon.

-- Mas eu tenho que ficar de olho -- Falo

-- Leve ele lá pra trás Leon! Quanto mais pra trás ele for indo mais rápido de conseguir ajuda medica, se não morrer antes. - Ele fala

Peguei o soldado e me virei de costas, indo pro mais longe que desce com ele.

-- Leon, Leon a bala -- Ouvi bem de fundo

Senti a bala passar raspando pelo meu braço.

-- Não vire de costas -- Ouvi alguém dizer.

O dia continuou intenso, não dava nem pra contar quantos tiros passaram de raspão. Ao fim do dia fomos até o acampamento.

-- Tenho uma intuição que esse ano a guerra acaba -- O soldado Gustavo fala

-- Você acha? -- falo -- Eu não.

-- Bom é uma intuição -- ele fala -- Ou pode ser auto ilusão.

-- Do jeito que está indo não sei se acaba tão cedo - Falo

-- Leon Oliveira Martins ? -- Escuto o tenente falar 

-- Senhor -- falo levantando a mão

-- Tem uma carta pra você -- ele diz me entregando

-- Carta? -- falo surpreso 

-- É -- Ele fala se virando e indo embora

Me levanto e vou em direção a minha barraca. Chegando lá fico olhando para a carta por alguns segundos antes de abri-la.

Narração mulher: 

Já era a noite e eu estava olhando para fora com os braços apoiados na janela.

-- Esta fazendo o que? -- Minha irmã fala

-- Nada -- falo

-- Deve estar pensando em alguma coisa -- ela fala se aproximando

-- Em nada -- falo

-- Duvido -- Ela diz -- Pode me contar

-- Nada, só estou com uma sensação estranha porém boa -- falo -- Será que a minha carta chegou?

-- Acho que já sim -- ela diz -- Só não sei se ele ainda leu.

-- Isso está me deixando nervosa e ansiosa -- Falo 

-- Fique calma -- Minha irmã fala -- Mais tarde ou menos tarde chega.

-- Mas e se acontecer alguma coisa no meio do caminho e ela não chegar? -- Falo

-- Pensamento positivo Nilce -- Minha irmã fala -- Ela vai chegar.

-- Espero... -- falo

Narração homem:

Abro a carta.

" Cidade, dia tal de 1918 "

Ola, Leon Martins

Eu sou uma menina de 19 anos, adoro escrever e fiquei super animada em poder escrever cartas para algum soldado. Vi o seu nome na lista e tive certeza que era pra ti que eu deveria escrever. 

Essa guerra está muito cruel, tive alguns parentes que tiveram que ir contra a sua vontade. Não sei se esse é o seu caso, mas creio que nenhum homem queira passar por isso, na verdade não queríamos nem que a guerra tivesse começado. Mas eu disse pro meu primo antes de ele ir algo como: vai, vai com orgulho no peito de saber que você vai estar defendendo o seu país. 

Leon, eu não te conheço mas desde que eu decidi que ia te mandar cartas comecei a orar todas as noites pra que fique tudo bem contigo. Pra que você não desanime e venha a lutar com orgulho, voltando para a sua família como um vitorioso. Talvez não um vitorioso porque nosso país ganhou mas um vitorioso de quem deu o melhor pelo seu país.

Não desista jovem soldado, não desista. Faça isso pela sua família e pelo seu país. Não sei se você vai me responder, mas espero que pense no que eu falei. 

Com amor, Nilce Moretto.

Narração mulher:

-- Deus, cuida de todos os soldados que estão nessa guerra, em especial o Leon. Será que ele recebeu a minha carta? Eu espero que sim. Faça com que essa carta ajude ele por favor, mesmo sem nunca te-lo visto eu o considero muito especial e não aguentaria saber que ele esta sofrendo. Proteja eu e a minha família como sempre tem feito. Amém.

Depois de orar, apaguei a unica vela que ainda estava acessa e fui dormir.

Narração homem:

-- Nilce Moretto -- Falo em voz alta e passando a mão pela carta.


A carta e o soldadoWhere stories live. Discover now