Capítulo 7

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Narração mulher:

Cheguei no hospital era por volta de umas 10:30, já fazia 5 dias que o Leon estava em coma e eu ia todo dia pra o hospital para ver como ele estava. Nesse tempo pude saber mais sobre a vida dele além das poucas coisas que fiquei sabendo quando trocávamos cartas.

O médico havia falado que ele não corria risco de morte porém não tinha previsão de quando sairia do coma. Eu ia todos os dias ao hospital com esperança de o ver acordado, o mesmo que acontecia com a mãe e a irmã dele.

...

Era uma segunda feira e eu tive que ir a outra cidade resolver alguns problemas pessoais, não consegui ir até o hospital. Fiquei mal por conta disso, mas no outro dia tinha a certeza que estaria lá novamente.

Narração homem:

Abri meus olhos lentamente, sem entender muito o que estava acontecendo. Estava com muita dor de cabeça, e ainda com a vista um pouco embaçada comecei a olhar por todos os lados. Me dou conta de que estou em um hospital e me lembro de que eu deveria estar no meio de uma guerra.

-- Meu filho, você acordou -- Ouço a voz da minha mãe e a vejo entrar pela sala.

-- Mãe! O que aconteceu? -- Falo.

-- Você foi atingido por uma bomba e veio parar no hospital -- Ela diz se aproximando.

-- Isso foi hoje? -- Falo.

-- Não meu amor, já faz uma semana -- Ela diz.

-- Uma semana? -- Falo surpreso.

-- Você ficou em coma meu amor -- Ela diz fazendo carinho no meu cabelo.

Uma enfermeira entrou na sala e começou a fazer várias perguntas sobre como estava me sentindo e minha mãe foi buscar a minha irmã para me ver.

...

-- ... mas então você está se sentindo bem mesmo? -- minha irmã diz depois de já ter conversando bastante comigo.

-- Sim já estou melhor -- Digo.

-- A moça vai ficar feliz em saber disso -- Maíra diz olhando para minha mãe.

-- Moça? Que moça? -- Falo

-- A moça que escrevia cartas para você, a Nilce -- Maíra fala.

-- Ela esteve aqui? -- Falo surpreso e animado

-- A semana toda -- Minha mãe diz -- Só hoje que não, não sei o porquê.

Fiquei pensando naquilo que minha mãe havia dito por um bom tempo, mesmo nunca tendo visto a Nilce e sem fazer a menor ideia de como ela era, eu gostava dela e fiquei feliz em saber que ela se importava comigo também.

Narração mulher:

Era terça-feira de manhã e desde o dia anterior eu estava com uma sensação boa que não sabia explicar. Naquele dia me arrumei mais do que o de costume para ir ao hospital.

-- Porque hoje você se arrumou tanto? -- Minha mãe falou.

-- Não me arrumei tanto assim não -- Falo 

-- Mais do que nos outros dias sim -- Ela diz -- Ta linda.

-- Obrigada -- Falo com um sorriso.

Vou em direção ao hospital com essa sensação boa ainda rondando o meu coração e na esperança de sempre que o Leon ficaria bem.

Narração homem:

-- Leon? -- A enfermeira fala -- Sua mãe e sua irmã precisaram sair, mas a outra moça está aí. Vou avisar a ela que você está bom.

-- A... a Nilce? É a Nilce? Eu quero vê-la -- Falo.

-- Calma, calminha -- Ela diz -- Daqui a pouco.

...

Narração mulher:

-- Como assim o Leon acordou?! -- Falo surpresa 

-- Acordou ontem e já está em condições de ir pra casa -- A enfermeira diz -- Só esperar dar a noite.

-- Eu quero vê-lo, eu quero vê-lo -- Falo -- Por favor.

-- Espera só um segundinho que deixamos você subir -- Ela diz

Depois de poucos minutos de impaciência a enfermeira me autoriza a subir para vê-lo. Subo pelas escadas até o segundo andar e vou me aproximando da sala, um pouco antes de chegar vejo que alguém sai de lá.

-- Leon? -- Falo e vejo ele se virar lentamente.

Narração homem:

-- Leon? -- Escuto alguém falar e eu me viro.

-- Ni... Nilce? -- Falo.

-- Sim -- Ela fala abrindo um sorriso lindo.

-- Nilce ! -- Falo abrindo outro sorriso. 

Olho ela de cima a baixo. Estava com um vestido rodado de cor branca e sapatilha no pé ( considerem q a historia se passa em 1918 ). O cabelo estava preso mas com alguns fios soltos, ela era baixinha e toda fofinha. Pele branca e tinha os olhos verdes mais lindos que já vi.

Fico sem reação, sem saber o que fazer e com a certeza de que ela percebeu o quanto a estou admirando.

-- Você é linda -- Falo finalmente depois de um tempo de silencio.

-- Obrigada -- Ela diz ainda sorrindo

-- Mais linda do que eu imaginava -- Falo percebendo ela se aproximar.

Quando ela está bem próxima de mim, ela estica os braços e me abraça de repente. Um abraço apertado e cheio de sentimento. Retribuo o abraço e ficamos ali daquele jeito por pelo menos 1 minuto. O abraço dela me trazia muita paz e a vontade que eu tinha era de nunca mais largar.

-- Eu sonhei tanto com isso -- Ela diz desfazendo o abraço.

-- Eu também -- Falo com a voz baixa e lenta -- Você não tem noção do tanto que me faz bem.

Involuntariamente percebo minha boca ficar entreaberta, Nilce se aproxima um pouco mais de mim olhando para os meus olhos. Sentia a respiração dela, que trazia um alivio provavelmente por saber que eu estava bem. Passei a minha mão direita pela sua cintura e com a esquerda coloquei os fios de cabelo por traz da orelha dela.

Nossos lábios se tocam lentamente e quando me dei conta já estávamos nos beijando, não era apenas mais um beijo, era o beijo. Tinha sentimento, sentimento entalado durante o período que estava na guerra mas que agora estava sendo colocado para fora por ambas as partes. Se havia alguém no corredor nos observando, não importava ou não havíamos dado conta dessa possibilidade. 

Nos afastamos para pegar folego e eu fiquei olhando para os lindos olhos que ela tinha, ela parecia com um pouco de vergonha pelo que havia acabado de acontecer e virou os olhos para outra direção. Passei minha mão pelo seu rosto a fazendo soltar um pequeno sorriso.

-- Leon? -- Ouço a enfermeira falar -- Preciso que você me acompanhe pra fazer uns exames se não você não sai daqui hoje. 

-- Já vou indo -- Falo.

A carta e o soldadoWhere stories live. Discover now