12 - Explicações

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- A tua mãe não viu necessidade em que soubesses nada do que te vou retratar a seguir Cassandra e continuo a achar que não me compete a mim contar-to. - A Brianna sentou-se na sua poltrona e indicou que nos sentássemos no sofá em frente.

- És minha avó, de certo te confere grau para mo dizeres!

- Existem segredos feitos para proteger aqueles que não estão envolvidos neles e não para ferir os sentimentos de alguém. É de extrema importância que percebam isto meninas!

- Não vejo que mal viria ao mundo se soubesse que eras minha avó! - Atirei rispidamente.

- Não vês agora, talvez mais tarde o venhas a ver. - Respondeu a Brianna com uma tranquilidade intimidante.

- Brianna, acredito que a Cassandra seja "adulta" o suficiente para ouvir a verdade sobre a sua história e sobre o que raio se anda aqui a passar. - Interrompeu a Diana cansada de ouvir conserva de empate.

- Muito bem. Comecemos então. - Desviou o olhar para a janela e levou-nos de volta ao passado. - Quando a tua mãe não passava de uma jovem bruxa fascinada com os seus novos poderes conheceu um bruxo mais velho, experiente e muito poderoso, numa reunião de clãs. De renome internacional, Jack War, tinha um vasto conhecimento do mundo e de todas as criaturas que nele habitam. A Andrew sempre teve uma curiosidade desmedida ficando facilmente fascinada com algo diferente da sua realidade e o Jack podia oferecer-lhe tudo isso.

"Certo dia, dois anos depois de se terem conhecido, o Jack levou a Andrew num passeio até à cidade de Dolow, na altura conhecida como uma colónia de seres bárbaros, poucos tinham coragem de lá ir. Claro que ambos se tinham preparado intensamente durante os meses anteriores para serem capazes de se defender de qualquer ataque. Nessa altura a tua mãe ainda não sabia que estava de esperanças.

Lá foram atacados por dois vampiros que por ali se divertiam de tempos a tempos com os rudes e violentos humanos. - Parou para inspirar e avaliar as nossas expressões. - Connor e Klaus Blake, dois vampiros implacáveis com um longo historial de massacres em massa por puro divertimento. O Connor ouviu mais um bater de coração do que seria de esperar e foi assim que a Andrew e o Jack descobriram que iam ser pais. Naquele momento a Andrew deixou de temer pela própria vida, a mudança no seu olhar fez o Jack perceber que as prioridades tinham acabado de mudar, provavelmente de modo radical.

Estaria ele preparado para fazer o que fosse preciso para salvar o bebé? A resposta revelou-se negativa! Aproveitou a distração que a informação causara e conseguiu esfumar-se para bem longe abandonando a Andrew à sua sorte. Houve alguma coisa nela que impediu o Connor de a matar de imediato, algo que ainda me intriga, em vez disso manteve-a presa durante alguns dias, provavelmente os dias que achou suficientes para o Jack voltar para a salvar. Era um jogo à altura dos irmãos Blake. Quando viu a esperança evadir-se do olhar de Andrew, Klaus cansou-se de esperar pelo divertimento e atirou-se a ela. Aquela ação, tão típica dele, naquela noite causou o efeito contrário ao habitual, o Connor não se juntou a ele, em vez disso opôs-se e lutou com o irmão.

Antes que o Klaus recuperasse, levou a tua mãe para um sítio seguro e prometeu-lhe que apanharia o Jack e o faria pagar pelo que lhe fez. Meses mais tarde, a Andrew recebeu uma chamada a comunicar-lhe a morte do famoso Jack War durante uma expedição à ilha Biworld. A Andrew soube que era obra do Connor e interiormente agradeceu-lhe por não se ter esquecido dela. No entanto, apenas quando nasceste é que a Andrew voltou, de facto, a falar com o Connor.

Cassandra és bruxa porque a tua mãe o é e és vampira porque quando vieste ao mundo te transformaram. Não por vingança, não por maldade mas para te salvarem, tinhas o cordão umbilical enrolado no pescoço e estavas praticamente morta, não havia outra opção senão essa. A tua mãe ligou ao Connor e pediu-lhe que o fizesse."

Por breves momentos esperamos as três em silêncio que a Brianna continuasse, quando reparamos que tal não ia acontecer, soltamos a respiração que prendêramos praticamente no início da história. Não havia nada de belo ou mágico naquele relato, porém a tragédia espelhava uma força inimaginável. De entre as milhentas perguntas que seriam expectáveis, consegui verbalizar a única que não cruzara o cérebro de ninguém.

- Sabias disto Diana?

- Da história de como a tua mãe conheceu o Connor? Não, sabia apenas que fora em circunstâncias indesejáveis. - Olhou para mim e continuou. - Da tua história? Sim, estava presente nesse dia. Atrevo-me a dizer que é um facto de conhecimento comum entre o conventículo pois foi esse o motivo da grande separação.

Ali estava outra revelação que nunca esperara ouvir. A minha mãe raramente falava nesse assunto e quando o fazia, apenas dizia "Nem todos os bruxos dariam a alma para salvar outra". Confesso que nunca percebi o que aquilo significava mas era a única resposta a que tinha acesso por isso interiorizei-a, tinha a vaga esperança que durante a minha indeterminável vida o viesse a perceber. Pelos vistos não demorou o tempo que me predispus a esperar.

- Porquê? - Ouviu-se a Afrodite a perguntar.

- Sê mais especifica. - Argumentou a Diana enervada, se havia algo que a chateava eram frases incompletas, palavras perdidas e ignorância.

- Salvá-la. Porque se deu a tanto trabalho para a salvar? Como chegou a tempo se nem sequer se falaram até então?

- Receio que exista apenas uma pessoa que possa responder a isso. - Concluiu a Brianna.

- Porquê ficar? - Murmurei mais para mim do que para elas.

- Para te criar. Eras uma vampira no ceio de uma família de bruxas, eventualmente precisarias de coisas que não seriamos capazes de providenciar. - Disse a Diana.

Não era a resposta que esperava ouvir apesar de não saber o que esperar, ou pelo menos, preferia uma mais criativa e original. Por alguma razão, aquela explicação não me comprava.

- Por muito interessante que a minha vida seja, temos assuntos mais importantes a tratar. Brianna por qual acidente quer começar? - Ironizei.

- A única coisa que vos posso contar sobre isso Cassandra é que as mortes das famílias Brooker, Locker, Knight, Bishop e Bennett foram premeditadas durante gerações.

- Premeditadas...? - Questionou a Afrodite.

- Todos aqueles acidentes estranhos e deslocados das famílias fundadoras de Emor foram encomendados? - Interroguei confirmando as minhas suspeitas.

- Todas as mortes. - Confirmou.

- Apanharam o responsável na altura, certo? Porque os acidentes praticamente extinguiram-se durante umas décadas até agora.

- Sim Diana apanhamos e inclusive matamos várias criaturas da noite.

- Quem estava por detrás de tudo? - A curiosidade roía-me por dentro.

- Klaus.

- O irmão do meu pai? - Fiquei atónica.

- Sim Cassandra. Alguém que até há bem pouco tempo eu julguei que estava morto.

- Porque achas que já não está?

- Porque tu estás aqui!

A minha imaginação não dava para muito mais, não conseguia de todo encontrar uma relação entre a minha pessoa e um tio que nunca conhecera que supostamente deveria estar morto e enterrado.

- Raven Stocker.

- Ei Brianna a ideia era esclarecer alguns pontos, não acrescentar ainda mais à lista. - Resmungou a Diana.

- Qual era o objetivo do Klaus? Porque essas famílias? - Continuavam os choques múltiplos entre as peças.

- Inicialmente matava por matar, desgraçado era aquele que se cruzasse no seu caminho. Depois tornou-se pessoal, nós tínhamos algo que ele queria desesperadamente. No momento decisivo acabou por ser o Connor a derrotar o irmão, uma vez mais.

- Significa que os meus pais e.... o.... meu irmão não passaram de mais uns danos colaterais?

- A vossa geração talvez tenha sido apenas apanhada no tornado. - A crueldade das palavras atingiu a Afrodite como um estalo a vários quilómetros/hora.

A quantidade de informação para dirigir era esmagadora por isso não causamos grande oposição quando a Brianna decidiu terminar a conversa.

A Prisioneira LivreOnde histórias criam vida. Descubra agora