28 - Jogos

7 1 0
                                    

- O que é que disseste?

Poucas coisas chocavam a Diana nos dias de hoje mas havia uma, por muito velha que fosse, com a qual era impossível a qualquer bruxa conformar-se. A oferenda de sangue e vida de um humano pleno e consciente, em parte pela atrocidade do acto e por outra pela não atribuição completa de culpa, já não poderiam defender o pobre e assustado humano da sua desafortunada sorte. Se o contrariassem estariam a retirar o tão valorado e adorado livre arbítrio. Quanto a mim, aquelas palavras eram doces como mel, não requeriam análises ou segundos pensamentos, só ações.

- Martin! - A voz estridente de Hera ribombou pela divisão.

- A escolha é dele. - Reclamei avançando na direção dele com água na boca.

- Despacha-te lá com isso! - Resmungou esbugalhando os olhos.

Mal o som se esvanesceu no ar, os meus dentes encontraram a garganta de Martin num vórtice de energia, o meu coração acelerou, conseguia sentir todas as células do meu corpo a regenerar e a vida a circular pelas veias. As pupilas começaram a dilatar e o corpo a relaxar naquele êxtase mesmo a tempo da realidade me abalroar. Senti os impulsos dele a lutar contra mim, os guinchos e os gemidos enchiam-me a alma, havia desejos neles. Consegui sentir os esforços dele diminuírem e os berros à minha volta, a histeria delas não passava de uma nuvem ao fundo que comecava a crescer consideravelmente. A contra gosto parei, o Martin estava consciente, o que teria certamente de ser um ponto a meu favor. Larguei o seu corpo mole e cansado quando senti o sofá perto o suficiente para o apanhar.

- Estás louca? Oh melhor és louca!

- Pergunto-me o que mais precisa de acontecer para deixares de te chocar Afrodite? - Bufei irritada.

- Que tal agires como uma pessoa normal! - Gritou a Hera enquanto segurava na cabeça do Martin.

- Não faz parte da minha natureza. - Sorri enquanto saboreava o sangue nos meus lábios. - Mas posso sempre mudar a tua. - Rematei passando por ela em direção à porta.

- Ela está a brincar. - Comentou a Diana antes de a Hera protestar.

- Estará? - Lançou a Alana para o ar agudizando o pânico de Hera e provocando algum choque e desconfiança na Afrodite.

- Vamos embora, temos assuntos prioritários a tratar. - Devolvi revirando os olhos.

A Hera pousou delicadamente a cabeça de Martin no braço do sofá para que este ficasse confortável até recuperar os sentidos e repor as energias. Senti a relutância dela em deixá-lo sozinho e tão exposto mas arrastá-lo para uma zona de guerra seria cem vezes pior. Ainda não conseguira perceber qual o interesse dela nele, se amor de irmão ou paixão, no entanto divertia-me bastante às suas custas.

A Alana continuava fechada no seu casulo à espera do momento certo para voar e isso deixava-me, no mínimo, preocupada. As reações dela não eram completamente previsíveis e o barco só andaria para a frente enquanto as suas necessidades fossem, de algum mofo, preenchidas. Porém, o silêncio da Afrodite era o mais desconcertante, temia que o ódio dentro dela a dominasse, principalmente depois dos eventos de hoje.

Mesmo preso num círculo energético carregado com o poder de cinco clãs anciãos que ansiavam fervorosamente pelo derramar do seu sangue, Klaus Blake não perdia a compostura, os seus curvos olhos verde cor de floresta continuavam desafiadores e o vermelho dos seus carnudos lábios espelhavam o mesmo sorriso divertido e arrogante. Sabia ele algo que todas nós desconheciamos? Aquela pergunta assombrara-me durante todo o trajeto de volta de Bree para Emor.

- Devo confessar que não esperava que conseguisses Cassandra.

A voz da Raven ecoou no lugar descampado da parte do semitério onde estavamos e, de alguma forma, isso assustou-nos menos que o normal, provavelmente por estarmos á sua espera, não sabiamos o momento exato mas era certo que chegaria.

A Prisioneira LivreOnde histórias criam vida. Descubra agora