19 - Marie Bishop

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- Que sitio é este?

A paisagem ao meu redor não mudara completamente mas o que mudara saltava à vista, eram mudanças notórias, continuávamos em Emor, no cemitério, isso era claro. A diferença começava pelo número de campas que invadiam a vegetação verdejante, meia dúzia, dispersas entre si em manifestações sepulcrais minimalistas. Também a urbanização escasseava, nas proximidades não se avistavam mais que duas habitações modestas e discretas.

- Emor, 1875. - Respondeu calmamente uma voz, parando em frente a mim. - Sei o que desejas obter com esta visita.

- Ótimo. - Disse deixando o ar extasiado provocado pela admiração excessiva da envolvente. - Podemos ir diretas ao assunto então.

- Cassandra irei mostrar-vos o que anseia descobrir. A verdade e apenas a verdade aqui será visionada.

- De mentiras ando eu farta. - Protestei.

O ambiente mudou ligeiramente, de repente o sol desapareceu, dando lugar à lua que iluminava suavemente os céus, os traços tênues da luz lunar refletiram em onze jovens trajadas de branco nuns mantos compridos bordados a dourado. Todas se sentaram, com as pernas entrelaçadas uma da outra, à volta de uma pedra brilhante avermelhada do tamanho de uma mesa oval pequena. Seis das mulheres pousaram no meio das pernas um punhal metalizado com um cabo prateado, e todas deram as mãos entre si.

- Irmãs, todas sabem porque nos encontramos aqui nesta noite sagrada. Se tivermos sucesso muitas vidas serão poupadas no futuro.

A mulher que falara era claramente Marie Bishop, um pouco mais nova mas não 25 anos mais nova do que a versão diante mim.

- É um sacrifício que faremos de alma e coração pelo nosso clã.

Não reconheci a rapariga que falara de nenhuma fotografia ou retrato por isso não deveria pertencer a nenhuma das famílias fundadoras. A sua voz era grossa e confiante o que combinava com a sua estrutura entroncada.

- É nosso dever assegurar a proteção dos nossos clãs destes vis sanguinários. - Os traços assemelhavam-se a Amber Locker.

- Precisamos de parar os irmãos Blake de uma vez por todas. - Creio tratar-se de Savannah Brooker.

- Por isso criaremos esta noite um ser capaz de perseguir tais imortais pela eternidade, forte o suficiente para se debater com eles fisicamente e rápida o suficiente para os acompanhar, indestrutível pelo fogo e pela luz solar. Uma caçadora.

De soslaio olhei para a Marie postada ao meu lado tentando imaginar a ira latente dentro de si pelos seres imortais. Sem sombra de dúvidas que eram uma geração bem definida e separada, ensinada desde que nascera a odiar vampiros. Como poderia ela confiar num agora?

- Pelo poder reunido pelas nossas almas e com o poder do eclipse iniciaremos o ritual.

A voz de Dinah Knight soava autoritária e assim começaram o ritual. Uma luz amarelada envolveu as onze como um tornado abanando as copas das árvores mais perto. Apesar do ruído produzido pelo escudo energético a voz de Marie ouvia-se na perfeição.

Magicis, animas tibi
Caelesti virtute te
Placuit nobis

Naquele momento, as seis mulheres, com o punhal pousado nas pernas, ergueram-no a meia altura e mancharam os seus trajes imaculados de vermelho vivo quando o sangue pulsou da perfuração no estômago. Reprimi um grito. Apesar de saber que não passava de uma reprodução, de uma memória passada, era inquietante ficar imóvel e impotente. As outras cinco continuaram o encantamento enquanto a luz se apoderava dos corpos inertes.

Ignis
In terra
Immortalis est sanguis
Surge et de abyssis terrae
Dissipat lucem in tenebras
Nobis

O lugar antes ocupado pelos corpos ardentes dera lugar a uma mulher alta, elegante embora musculada de tom escuro, mesmo ao longe, consegui sentir os longos olhos penetrantes cor de esmeralda. Os longos cabelos pretos tapavam-lhe os seios e todo o seu corpo nu estava coberto de sangue. Aquele ser era simplesmente magnífico e hipnotizante. A imagem não se afastava muito da Raven que vira dias antes, para um imortal, 142 anos não se notam mais que meia dúzia de meses nos humanos.

A Prisioneira LivreOnde histórias criam vida. Descubra agora