Guerras sem fim

44 5 28
                                    

Apesar de nesse momento já estar acostumada com as terríveis atitudes que o ser humano pode cometer, as quais estampam manchetes em jornais todos os dias e ocupam horas no rádio, ainda consigo me surpreender. Aproposito, me chamo Annie Watson, e me considero uma garota de dezesseis anos comum, por assim dizer. Uma garota reclusa, que tem vergonha de conversar com os meninos bonitos da escola e que não tem dezenas de amigos, falando a verdade, não tem nenhum amigo.

Não que estivesse feliz com minha vida, mas acabei me acostumando do jeito que estava. Nem imaginava o que aconteceria algum tempo depois.

Era noite, eu e minha mãe, Grace, jantávamos o delicioso cozido de pato que ela fez, quando ouvimos disparos. Nos abaixamos rapidamente, buscando abrigo embaixo da mesa. Essa situação não era nova para nós, aquele talvez fosse o terceiro ou quarto tiroteio que ouvíamos, o que não impedia de me assustar todas as vezes.

Essa situação caótica em que estávamos inseridas começou há mais ou menos um ano e meio, quando novas leis governamentais foram instauradas em nosso país, a Inglaterra. Essas leis diziam que presidentes teriam mandato vitalício e que vereadores, senadores e deputados deixariam de ser eleitos pelo povo, cabendo aos demais políticos que ocupavam esses cargos escolherem os seus sucessores.

Essa troca ocorreria a cada quatro anos.

Foi decretado que todas as cidades do país teriam um líder escolhido pelo presidente, o qual, com a ajuda de um grupo de pessoas de sua preferência, cuidariam da administração do local. Ficando a capital, Londres, encarregada do próprio presidente.

A população começou a questionar o porquê da repentina implementação dessas leis, e a resposta que receberam dos responsáveis foi a de que tais medidas foram tomadas como um meio de o governo do país ter mais conhecimento sobre as cidades que o compõem, podendo assim dar mais atenção para elas e consequentemente fazer um melhor investimento na vida de seus habitantes.

Tal explicação enganou alguns, mas a maioria ainda se mostrava insatisfeita. Com o passar dos meses, a população percebeu que o valor dos impostos sobre os produtos aumentou, assim como a precariedade nas áreas de educação, saúde e segurança, ocasionando as primeiras ondas de protesto.

Começaram com pequenos grupos reivindicando pacificamente pelo direito à cidadania e melhores condições de vida. Esse número cresceu a medida que os dias avançavam, incluindo a quantidade de cidades afetadas por esses levantes da população. O problema começou no momento em que dentro dessas grandes multidões de manifestantes foram se formando grupos que queriam conquistar tais demandas através da violência. Eles incitavam as pessoas a agirem da mesma forma, propondo até a organização de uma invasão a capital.

Infelizmente, com o passar das semanas esse grupo aumentou, até se transformar na maioria dos manifestantes. Essas pessoas, agora intituladas rebeldes, começaram a pensar de forma mais meticulosa. Através do mercado negro, conseguiram estoque ilimitado de armas de fogo, foi nesse momento que as coisas realmente pioraram.

Os rebeldes começaram a invadir cidade por cidade, a fim de "livrá-las" do controle do governo. Faziam isso dominando os principais pontos de segurança e comunicação do lugar, além de assassinar dezenas de policiais e soldados, que não paravam de ser enviados pela capital.

A guerra estava instaurada.

O plano dos rebeldes era dominar todas os municípios, deixando a capital por último, pois o local era muito mais complicado de se conquistar do que pensavam. Através dessa estratégia, ganhariam aliados o bastante para realizar o seu movimento final sem dificuldades.

Capuz de Sangue - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora