Mistérios

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Depois de me colocar em uma cadeira cuidadosamente, minha mãe vai até o banheiro e pega uma bolsa onde guarda itens básicos para fazer curativo, na volta ela mexe na bolsa e pega uma pomada de cor azulada, passa sobre o corte, o que arde um pouco.

- Você tem que ser mais cuidadosa Annie, no dia que eu não estiver mais aqui, não quero que você acabe se matando. – diz ela severamente.

- Foi só um corte mãe. – ignoro seu comentário.

- Um corte que poderia ser muito mais profundo e se eu não te achasse a tempo, poderia estar sangrando até a morte no meio da floresta. A única coisa que eu pedi foi, "Annie não saia da trilha, vá e volte na trilha"; é tão difícil assim obedecer a uma simples ordem? – resmunga ela.

- Mãe, pare de exagerar. Estou bem. E já disse que por sorte Rick me encontrou e cuidou muito bem de mim. Então, mesmo se você não me achasse acredito que estaria viva nesse momento. – falo enquanto ela começa a enfaixar o local do ferimento.

- E você conhece aquele garoto de onde? – indaga ela.

- Acabei de conhecê-lo naquele momento, ali na floresta. – respondo.

- Não gostei dele, você sabe de onde aquele rapaz veio? – fala minha mãe.

- Não tive tempo de perguntar, quando ele vir me visitar ficarei sabendo. – digo.

- Faça o favor de não ficar dando conversa pra ele, pode ser algum rebelde disfarçado ou algo do tipo. – ela avisa.

- Rebelde disfarçado? – dou risada. – Dessa vez você foi longe.

- Ultimamente não podemos duvidar de nada. – responde minha mãe.

Depois que minha perna está devidamente medicada e enfaixada, Dona Grace me acompanha até o quarto, o qual compartilhamos. Sento em minha cama, ela coloca um travesseiro sob o membro lesionado.

- Vou ao centro médico conseguir alguns remédios para aliviar sua dor, depois vou aos mercadores para comprar alguma coisa para comermos, não demoro. – ela me beija a cabeça. – Tenha mais cuidado da próxima vez minha filha, você conhece sua mãe, sabe como eu sou, quando te vi machucada daquele jeito no meio da floresta, quase tive um ataque do coração.

Os mercadores são um grupo de homens e mulheres que viaja por entre os distritos levando coisas que nós precisamos e até às vezes não temos acesso, tirando daí o seu sustento. Depois que a guerra começou, essa profissão foi bastante prejudicava, pois a capital que era o maior fornecedor, parou de fornecer seus produtos, para assim se concentrar no conflito. Por sorte um dos homens que vieram conosco para o vilarejo é um mercador e algumas semanas atrás conseguiu contatar seus colegas que agora fornecem seus produtos a nós. Os produtos dos mercadores são comprados com a moeda do país mesmo, decidimos manter sua utilização, não só com os mercadores, mas também entre as pessoas do vilarejo, pois é um meio mais fácil de conseguirmos aquilo que desejamos. Todos aqui arranjaram uma atividade da qual tiram sua renda, temos marceneiros, padeiros, entre outras profissões. Minha mãe e eu sobrevivemos da venda das peças de roupa que ela costura, não dá muito dinheiro, mas é o bastante para não morrermos de fome.

- Me desculpe mãe, por ter sido tão descuidada, não era minha intenção te causar tanta preocupação, estava simplesmente andando pela floresta. – explico.

- Não precisa se desculpar meu amor, coisas assim acontecem, só temos que ter cuidado e preveni-las. – fala minha mãe em tom suave.

Dona Grace sai e eu pego um de meus poucos livros na cômoda ao lado direito da cama e começo a ler, a fim de "matar" o tempo. Depois que ela retorna, me pergunta sobre o paradeiro do facão de seu pai, peço desculpas, pois acabei o esquecendo na floresta, ela afirma não ter problema, no dia seguinte pedirá a algum dos homens que cuida da segurança para procura-lo.

Capuz de Sangue - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora