18- Naufraga na propria mente

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Minha mãe me colocou em seu colo, seus sorrisos e lágrimas me faziam não querer tirar os olhos dela e imaginar o que ela havia passado até ali. Ela acariciou meus cabelos enquanto estive deitada no sofá vermelho, seu cafuné me fez sentir segura, foi até mesmo um sentimento estranho, quase não o reconheci, mas foi ele que me possibilitou cair no sono finalmente.
Lá estava eu, olhos nos olhos de Julia, seus olhos lacrimejando, um deles arregalado de pânico, o outro totalmente inchado e roxeando aos poucos, tudo estava escuro, sua boca inchada e sangrando balbuciava querer falar, o supercílio cortado fazia seu sangue de misturar ao suor, Deslizei meus olhos mai para baixo e vi uma faca enterrada em seu peito fiquei em choque, e quando olho de novo minhas mais estavam nela, eu soltei em desespero e caminhei passos para trás como quem queria fugir, aquilo não era real, não poderia. De repente esbarrei em algo, me virei para ver, era Ryan, com um olhar sombrio e um sorriso obscuro e frio, e antes que eu pudesse gritar algo me chamou atenção, seu corpo foi mudando, como uma alveja de filme de ficção científica e então era uma mulher, ela tirou os cabelos do rosto lá estava. Era eu. Meus olhos se arregalaram em desespero total, o mesmo olhar que vi em Ryan, sombrio e cruel, um sorriso malicioso obscuro e frio, e um prazer ao olhar para mim e para Julia simultaneamente. Eu gritei e acordei nos braços de minha mãe que me olhava assustada. "Foi só um sonho" eu pensei e respirei fundo.
-Calma minha filha, eu estou aqui.- ela me trouxe para mais perto de si e eu deixei algumas lágrimas deslizarem. Ele ficou ali comigo cantarolando musicas de ninar e me fazendo carinho no rosto e cabelos até que meu pânico fosse diminuído aos poucos, o acontecimento de Julia ainda me consumia a mente e eu tinha medo de perguntar o que aconteceu com ela para alguém para saber que história chegou aos ouvidos das pessoas.
-Mãe a senhora tem que ir para casa. - eu disse aquilo, mas tentando ser o mais altruísta que eu podia, eu quero que ela ficasse comigo, que não me deixasse sozinha com minha mente.
-Hoje vou ficar aqui minha filha, amanhã pela manhã tenho que ir, e de noite retorno e ligamos para a polícia tudo bem ? - mesmo que eu ainda não estivesse pronta para falar com a polícia era reconfortante ouvir ela dizer que ficaria comigo, então aceitei de bom grado. Ela se levantou e foi para a cozinha, eu quis ajudá-la, mas ela insistiu que eu ficasse deitada e se possível fosse dormir, mas mesmo que eu quisesse eu não conseguia, o pesadelo que tive estava tão cristalino em minha mente que eu não conseguia fechar os olhos que lá estava ele diante de mim novamente, eu me via com aqueles olhos assustadores é aquele prazer com o sofrimento alheio que me assustava muito.
Como uma boa mãe a minha achava que uma boa comida curava todos os males, preparou um delicioso bolo para mim, e quando nos sentamos para comer com uma troca de olhares ela entendeu que aquela não era a hora de me encher de perguntas, ela sorriu como quem dizia que me compreendia, mas eu sabia que ela estava se esforçando o máximo que ela podia. O bolo de cenoura cremoso estava simplesmente divino e eu percebi o quanto eu senti falta da minha mãe, pedi que ela dormisse comigo, com todo o carinho que só uma mãe pode ter ela aceitou e fomos para a cama. Ela em leu um livro como fazia quando eu era menina, acariciou meus cabelos, e me contou histórias engraçadas sobre minha infância e traquinagens, e por um momento eu me senti sua menininha de novo.
Eu vi uma menina no escuro, o rosto sujo e toda encolhida, ela estava nua, assustada e com os olhos mareados, vi um homem muito mais velho, ele teria idade para ser seu pai talvez, ele se aproximava da menina com um sorriso, acariciou seu rosto.
- Você é linda.- ele dizia com convicção é diferente do que se espera depois de um elogio a menina deixou uma lágrima escapar, ela deveria ter pouco mais de seis anos, parecia apavorada olhando fixamente para o homem, eu queria ajudá-la , mas me sentia amarrada, não sentia meu corpo. O homem se aproximou e a garotinha temeu o lábio.
-Por favor não. - ela disse quase em um sussurro, deixou uma lágrima cair de novo -Por...por favor não.- ela repetiu juntando ainda mais seu corpo.
-Eu amo você- o homem disse enquanto desatava seu cinto indo em direção a pobre menina, ele tira seu cinto e então... Eu acordei aos gritos. Minha mãe se assustou.
-O que foi minha filha?- ela disse confusa.
-Essas coisas mãe-eu dizia desesperada olhando para os lados como se eu estivesse sendo vigiada ou perseguida.- Essas coisas aqui dentro mãe- eu golpeava de leve minha cabeça gesticulando com os olhos arregalados e desesperada como o que acabara de ver- Ela estava lá e eu ... Eu não pude fazer nada... Ela ... Ela, mãe não pode ser isso, ela estava lá.., eu não pude fazer nada mãe, nada eu juro.- eu falava uma palavra em cima da outra suava e balbuciava, sentia meu coração bater tão forte como se fosse sair do peito.
-Quem filha? Quem ? - ela disse me abraçando e ficando assustada.
-Ela mãe, a menina... A menininha, eu queria tanto... Meu Deus.- eu estava em estado de choque com o que acabara de ver.
-Calma filha foi só um pesadelo, calma.- minha mãe foi até a cozinha e me trouxe um calmante, me colocou em seu colo e em pouco tempo consegui me tranquilizar, as imagens daquela garotinha não saiam da minha mente, que pesadelo terrível, que visão terrível, tentei forçar minha mente a pensar em algo melhor, sonhar com algo mais agradável e partimos deste princípio, depois de muito esforço minha mente decidiu colaborar e lá estava, uma doce menininha sentada em sua sala brincando com suas bonecas e rindo com elas como se falassem mesmo, ela assistia um desenho muito colorido e divertido, correu para o sofá animada e alegre.
-Volto logo querida- disse uma mulher que acredito ser a mãe, a menina afirmou com um aceno de cabeça e sorridente voltou para seu desenho. Quando a porta bateu parece que a menina finalmente entendeu que sua mãe foi sair e começou a olhar para os lados apreensiva como se algo estivesse errado, ela parecia bem preocupada e começou a se encolher, sua atenção não era mais no desenho e sim nos corredores da casa, algo não estava certo, era visível em seu olhar. Um homem saiu do corredor, ele sorria para a menina e se aproximava, ela se encolhia e seus olhos marejavam.
-Por favor.- ela dizia quase sussurrando, parecia apavorada.
-É só um pouquinho, vai ser rápido.- ele afirmou e se aproximou, a menina se tremia e apertava os braços abraçando as pernas, ele se aproximou e remou abrir as mesmas, mas ela travou suas perninhas e por mais que ele forçasse elas se mantinham juntas, a menininha chorava, mas ele continuava tentando até que o choro ficou alto, ele pareceu preocupado, com medo que alguém ouvisse, bufou e deu um passo para trás.- Tudo bem, tudo bem .- ele disse respirando fundo.- Você quer que eu te deixe em paz?- a menina acenou com a cabeça afirmando mas ainda tinha seu olhar muito desconfiado, ela não desarmou.- Então vai ter que fazer uma coisa para mim.- os olhos dela marejaram de novo. - Vamos, você não vai ter que fazer nada, só me seguir, e depois eu prometo que te deixo em paz.- a menina ficou ali imóvel e engoliu seco, ele tomou seu braço e a arrastou para o banheiro, ele trancou a porta e assim como eu tudo o que aquela menina queria é que sua mãe chegasse na televisão momento para salvá-la, uma angustia atravessava minha garganta me sentia impotente e inútil tendi que assistir tudo aquilo. Ele a tomou pela cintura com uma mão e a trouxe para perto, com a outra ele abriu o botão da calça e abaixou o zíper, ele canecos a descer as calças e meu coração acelerou e tudo o que eu e a quena garotinha queríamos era gritar, em seu rosto eu via o medo, o pavor, o nojo, o desconforto e a angústia, eu só queria salvá-la, mas não podia. Ele abaixou as calças e colocou seu membro para fora, fiquei enojada e quis gritar, mas era como se algo me tapasse a boca, via que com a garotinha era o mesmo, ela franzia o cenho e fechava os olhos, virava o rosto na ele a obrigava a olhar e ali a cena que me deu enjoos, ele começou a masturbar-se na frente da garotinha, apertava sua cintura a impedido de sair e quando via o quanto ela tentava fugir com os olhos ele a forçava a olhar de novo, a menina tão desconfortável e compartimos escorrendo dos olhos, e mesmo fechando os olhos ela podia ouvir ele gemendo e suspirando, era um verdadeiro filme de terror e tudo o que eu queria era gritar, ele gemia e dizia coisas imundas ao lado da garotinha, ela tentou tapar os ouvidos, mas ele destapava, ele queria que ela vivesse aquilo e eu me sentia amarrada sendo forcada a ver o sofrimento daquela criança inocente e me gerava um nojo sem fim e quando ele estava quase lá ela começou a chorar e então... Eu acordei, eu estava chorando, eu era a garotinha. Quando percebi isso então entendi que Ryan não era primeira pessoa que me torturava e que fazia minutos se tornarem horas, me lembro de todo o nojo que sentia de tudo e inclusive de mim mesma, do desespero, da angústia, da impotência e da perda da dignidade. Eu chorava como um bebê, soluçava profundamente e novamente minha mãe tentou me acalmar, mas ela não podia fazer nada, estava tudo dentro de mim, uma enorme guerra que ninguém poderia me ajudar.
A manhã chegou e com ela minha mãe se foi, fiquei muito triste já que agora eu estava vulnerável, sem ninguém para estar lá por mim. Mesmo assim eu tinha que encarar, então me levantei e fui preparar meu café, sorri ao ver uma chocará quentinha no meu balcão e um bilhete de minha mãe, dei um gole no café e então fui ler o bilhete.
"Lembre-se, nada mudou, você ainda é minha menininha, eu te amo." Eu fechei os olhos e coloquei o bilhete perto do peito como se ele fosse me reconfortar, era isso, eu ainda era sua menininha, eu ainda era a Lizi. De repente uma imagem se formou lá estava eu com aqueles olhos cheios de crueldade e aquele sorriso assassino. Gritei, e acabei deixando-a. Chocará cair. Céus olhe o que eu fiz, comecei a recolher os cacos e repetia para mim mesma "era só um pesadelo, era só um pesadelo, você não é isso". Joguei tudo no lixo, respirei fundo e encostei na bancada, nossa, quase parecia real. "Está tudo bem" eu dizia para mim mesma enquanto respirava fundo "foi só um pesadelo", du me tranquilizando aos poucos e meu batimentos foram voltando ao normal, a paz de manter os olhos fechados me fazia sentir melhor, ok acho que agora está tudo bem.
Ouvi um barulho ao longe, como um burburinho, levantei a sobrancelha, mas mantive os olhos fechados, logo depois parou, deve ter sido algo lá fora ou da minha cabeça, nada de mais. Outra vez, o burburinho agora está mais alto, comecei a achar estranho, mas decidi esperar para ver o que era e de onde vinha, e então parou de novo, abri os olhos e estava tudo normal na cozinha e na sala, me mantive encostada na bancada, achei melhor não me mover. O som voltou mas agora parecia um choro, um choro infantil, baixo, porém eu podia perceber que vinha do quarto, a porta estava fechada quando olhei. Meu coração apertou e galopou, estava acelerado, minha boca ficou seca e eu comecei a caminhar lentamente para a direção da porta de mogno do meu quarto, respirei fundo e aproximei o ouvido da porta, o som parou, eu me afastei um pouco, cerca de três passos, engoli em seco e esperei novamente olhando fixamente para a porta na minha frente, minhas mãos suavam e eu as fechei pela ansiedade que corria por minhas veias. Novamente ouvi o choro infantil, ainda estava baixo como na vez  anterior, um choro de dor e parecia de quem estava assustado, eu temi por que não vi ninguém entrar, coloquei minha mão sob a maçaneta, o choro persistia, eu encarei a maçaneta alguns segundos me faltando a coragem para abrir. Então fechei meus olhos apertando e finalmente virei e abri a porta, mantive os olhos fechados, não tive coragem de abri-los, percebi que o choro vinha do lado onde ficava minha cama, dei alguns passos ainda de olhos fechados, o choro continuava e meu coração acelerava ainda mais, sentia como se fosse romper meu peito, engoli em seco e fui abrindo os olhos lentamente. Ali estava, ao lado na minha cama, olhando para o criado mudo, sentada no chão e de costas para mim, uma menina, devia ter pouco mais de seis anos de idade, cabelos longos da cor de fogo que tapavam suas costas, eu me aproximei devagar com uma das mãos esticadas para toca-la.
-Olá querida... C...co... Como veio parar aqui?- não pude evitar gaguejar, era surreal, a menina não disse nada e eu continuei a me aproximar devagar.- eu não vou te machucar.- e então ela começou a se virar devagar, e eu não pude acreditar do que vi, rirei e sai correndo para a sala em desespero, me sentei no sofá juntei minhas pernão ao meu corpo, eu olha fixamente para a parede com lágrimas nos olhos e meu corpo todo tremendo. " Não pode ser real, não pode ser real" eu repetia em minha mente.

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