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Lily não sabia dizer o que a despertou. Talvez fosse a fraca luz do sol que passava por uma fresta na cortina da janela. Ou o seu celular ter vibrado duas vezes indicando que havia recebido uma mensagem. Ou o barulho distante de um prato caindo no chão do apartamento do vizinho.

Ou — o mais provável — a respiração morna que sentia soprar na pele do seu rosto tão leve quanto uma carícia suave e reconfortante.

Por algum tempo não quis abrir os olhos com medo de que ao menor movimento pudesse acordar Scorpius de seu sono tranquilo. Podia sentir o braço dele ao redor do seu corpo, a mão descansava na sua cintura. Podia sentir, com sua cabeça apoiada no peito dele, o som rítmico dos batimentos cardíacos. Podia sentir o cheiro dele — uma mistura de perfume masculino, suor e cigarros. Podia sentir tudo isso mesmo com os olhos ainda fechados.

Por fim, a curiosidade venceu a sua decisão de fingir que ainda dormia.

Quando abriu os olhos, o seu primeiro pensamento foi como queria ter em mãos um lápis e uma folha de papel naquele exato momento. Nunca havia visto a expressão de Scorpius tão relaxada quanto naquele instante. Era tão serena e indiscutivelmente bonita que seus dedos coçaram para tentar reproduzi-la em um quadro.

Sorriu de lado, quase acreditando que aquilo não passava de um sonho. Os traços de Scorpius eram quase perfeitos como se o próprio Michelangelo o tivesse esculpido. Estudou — de uma forma que jamais seria possível se ele estivesse acordado — o belo rosto em seus mínimos detalhes. A barba de pêlos loiros bem aparada, os longos cílios, o maxilar quadrado, a pele clara e sem imperfeições exceto por uma pequena cicatriz levemente rosada no lábio superior. Nunca havia notado antes aquela marquinha quase invisível que só servia para deixá-lo ainda mais atraente. Perguntou-se como ele havia conseguido aquela cicatriz. Em uma briga, talvez. Ou na infância...

Ergueu a mão, quase hipnotizada, para tocar com a ponta dos dedos a pequena cicatriz quando foi interrompida.

— Não faça isso. — a boca de Scorpius mal se moveu ao avisar. Com o susto por ter sido pega, Lily recuou a mão. Os olhos dele permaneciam fechados, mas a respiração já não era mais tão leve quanto antes.

— Não estou fazendo nada. — ela respondeu, soando inocente e brincalhona.

Ele abriu os olhos e direcionou um olhar quase irritado a ela.

— Você sabe que isso é errado.

— Gostar de você?

Scorpius recolheu o braço que estava ao redor dela e se sentou na cama, ficando de costas como se não quisesse olhar para ela. Lily suspirou. Sabia que aquilo estava bom demais para continuar por muito tempo. Toda vez que ela ameaçava chegar perto demais dele, Scorpius recuava como uma fera encurralada.

— Não vai dar certo. — ele declarou por fim.

— Você não é o tipo de pessoa que se arrisca, não é? — provocou em um tom petulante fazendo com que ele lançasse outro olhar para ela por cima do ombro.

— Não quero que você crie expectativas e fique frustrada depois.

Lily também levantou e sentou-se ao lado dele, olhando-o demoradamente, tentando compreender porque, apesar de tudo, ele continuava mantendo aquela casca grossa e impenetrável.

— Por que eu ficaria frustrada?

— Porque não sou o tipo de cara que você espera.

— Você não sabe qual é o meu tipo.

Para a surpresa de Lily, Scorpius abriu um sorriso. Era debochado, como se ela tivesse contado uma piada.

— Sim, eu sei. E eu não sou. — ele demorou apenas um segundo olhando nos olhos delas antes de levantar-se da cama e atravessar o quarto como se precisasse fugir dali.

InstintosWhere stories live. Discover now