Green Eyes

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Sentada sozinha em um banco de pedra com o seu terceiro copo de café e o volume da música no máximo, Lily tentava manter os olhos abertos. Suas pálpebras pareciam pesar duas toneladas e a cada cinco segundos abria a boca para bocejar. A noite mal dormida começa a surtir efeito, ela se sentia tão exausta como se tivesse sido atropelada por um trem de carga desgovernado. Esperava que a cafeína afastasse logo o sono que parecia querer engoli-la inteira antes da próxima aula que começaria em vinte minutos.

O ar estava frio e fazia Lily sentir vontade de estar embaixo de uma coberta assistindo a alguma série na Netflix. O seu primeiro dia na faculdade não foi nada do que havia imaginado, mas isso não significava que fora ruim. Apesar de ter se perdido algumas vezes a caminho das salas, tivera as melhores aulas que poderia imaginar — até mesmo História da Arte, que parecia ser a matéria mais enfadonha da sua grade de horários, fora desafiante o suficiente para fazer Lily ficar fascinada. Adorava novos desafios.

Mas ali, faltando apenas mais uma aula para poder ir embora, Lily finalmente sentiu o resultado de ter passado grande parte da noite acordada. Dessa vez, nem mesmo o café parecia fazer muito efeito.

Com um suspiro, destravou o celular. Não havia novas mensagens de Hugo. Sentiu vontade relatar como estava sendo o seu dia e tudo o que havia acontecido até agora, mas sabia que naquele momento ele estaria trabalhando na loja de logros do tio George e não poderia responder. Arrastou o dedo pela tela, distraída, e viu algumas fotos que ele havia postado no dia anterior.

Estava em um bar com os amigos, alguns copos de chope sobre a mesa. Ela reconhecia alguns dos outros rapazes da foto, mas prestou atenção apenas em Hugo. O cabelo ruivo estava desarrumado e um sorriso divertido brincava em seus lábios como se alguém tivesse batido a foto no meio de uma piada. Não parecia estar sentindo tanto a sua falta assim, Lily pensou e balançou a cabeça. Era um pensamento mesquinho até mesmo para os seus padrões, mas não podia evitar sentir uma leve pontada de de ciúmes. Sorriu triste. Ela sentia falta dele.

Quando Dominique decidiu ir embora para Paris morar com Victoire, fora Hugo quem ocupou o imenso espaço que ela havia deixado. Eles sempre tiveram uma boa relação, mas ficaram ainda mais próximos com a partida da melhor amiga de Lily. Passaram os últimos dois anos tão grudados que era estranho estarem separados agora.

Curtiu a foto. Ficava feliz por ele estar se divertindo, mesmo que sem ela. Estava tão absorta nos próprios pensamentos que não percebeu alguém se aproximar até que estivesse em pé na sua frente.

— Oi, minha dupla!

Lily tirou os fones de ouvido, interrompendo no meio a música "How you see the world", e olhou para a garota. Reconheceu imediatamente a sua nova parceira da aula de Estudo do Espaço Cênico.

— Oi. — Lily sorriu — Lexa, não é?

— Isso mesmo. E você é Lily.

Concordou com a cabeça, ainda sentindo a sua mente anuviada pelo sono. Tinha conhecido algumas pessoas ao longo do dia, mas mesmo após saber que trabalhariam juntas pelos próximos meses, não havia trocado nenhuma palavra com Lexa.

— Me diz que você também está indignada com esse trabalho. — a garota disse enquanto sentava-se ao seu lado no banco.

— E quem é que não está? — Lily questionou.

A primeira coisa que o professor Longbottom fez ao iniciar a aula foi anunciar que iriam trabalhar em duplas fixas até o final do semestre em um trabalho particularmente complicado sobre "a caixa cênica italiana" que valeria 30% da nota final. Ninguém ficou muito feliz.

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