Capítulo 23 Verdade Seja Dita

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Então em um segundo tudo volta ao normal, as pessoas voltam a conversar, as garçonetes voltam a anotar os pedidos, os carros voltam a passar e o mundo volta a girar. Minha visão fica embaçada e percebo que é por causa  das lágrimas que estou segurando.
Thomas me vê e o sorriso iluminado que estava em seu rosto some, eu pisco e as lágrimas caem, no mesmo instante as limpo e saio da lanchonete. Desço os degraus com pressa e atravesso a rua. Estou procurando as chaves do meu carro na bolsa quando sinto uma mão apertar meu braço. Thomas. Ele me vira e ficamos frente à frente.

-Precisamos conversar. Não é o que você está pensando.-Ele fala suplicante e vejo verdade em seus olhos.

-Eu...eu não estou pensando nada Thomas.-Falo e lágrimas escorrem dos meus olhos.

-Só...por favor, só me ouve.-Thomas espera alguns segundos e como eu não digo nada ele recomeça.-Aquela mulher que você viu sentada comigo é a Teresa, minha irmã. E o garotinho, ele é meu filho Ingrid, é o Max.

Ouvir que Thomas tem um filho despertou coisas diversas em mim e eu não soube o que fazer nem o que falar, então eu apenas chorei.

-Não chora meu amor.-Thomas olha para mim e limpa as lágrimas que rolam por minhas bochechas.-Por que você está chorando? O Max é um amor de criança, eu...eu tenho certeza que ele vai te adorar!-Ele parece um pouco desesperado.

-Ah, meu Deus Thomas! Você tem um filho, Thomas! Um filho.

-Eu sei, mas ele é uma criança incrível! E...

-Eu ia ser mãe Thomas!-Interrompo ele.-Eu ia ser mãe!

-Como assim? Ia?-Thomas procura por meu rosto respostas que procura.

-Eu estava grávida no início do ano, mas eu perdi.-Olho no fundo de seus olhos.-Eu perdi meu filho.

-Oh!-Ele começa a chorar e me abraça.-Eu sinto muito, muito mesmo.

Me aconchego no abraço de Thomas e deixo todas as minhas dores saírem de mim. Ficamos assim por um bom tempo até eu me afastar.

-Preciso ir embora.-Digo limpando meu rosto.

-Eu vou com você.

-Não.-Nego com a cabeça.-Você tem que ficar com o Max.-Sorrio ao me lembrar do garotinho sorridente que eu vi momento atrás.

-Não. Eu vou com você. Precisamos conversar.-Ele pega meu queixo e o ergue.-Vou avisar a Teresa para levar ele para casa, me espere aqui.

Espero Thomas dentro do carro, a noite está estrelada, casais e famílias passeiam por toda parte, alguns fazendo compras, outros apenas aproveitando a brisa fria. Após esperar alguns minutos Thomas entra no carro e eu arranco com o mesmo.

                             *
Sento no sofá e tiro as sapatilhas puxando as pernas para cima, Thomas senta do meu lado.

-Era o Simon, o pai?-Ele me pergunta. Assinto com a cabeça.-E como...como você perdeu?

-Estava com três meses. Foi em uma noite em que chegamos de uma festa, eu fui para o banho e parece que minha pressão baixou ou coisa do tipo, então caí. Tentei chamar o Simon mas ele já estava dormindo por causa da bebida, pouco depois eu desmaiei.-Minhas lágrimas voltaram a cair.-Eu acordei no hospital e soube da notícia.

-E como ele reagiu?

-Nada.-Olho seriamente agora.-Ele não queria o bebê.

Thomas me puxa e me abraça, volto a chorar em seu peito. Como no estacionamento, ficamos assim por um bom tempo, digerindo todas as palavras ditas e verdades desvendadas.

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