Capitulo 3.

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     - Hey, Gabi, quer carona pra escola ? - Ele desceu o morro correndo assim que me viu sair de casa. Era 6 da manhã, ele estava arrumado ainda, com certeza tinha acabado de sair do baile. Luana estava atras dele, com seu vestido minusculo e bebada.

- Você vai dar carona pra essa nojenta?

- Cala a boca Luana. - Ele se dirigiu a ela com um tom tão rigido que causou medo em mim.

- Quero não Pedro, brigada. - O queixo de Luana caiu quando ela ouviu eu chamar o vulgo pelo nome real.

- Você vai deixar ela te chamar de Pedro ? - A menina disse num tom bebado e raivoso.

- Eu já não mandei você calar a boca vagbunda. - Ele deu um tapa no rosto da menina que por pouco não cai no chão.

Até então eu não tinha visto PH agir com agressividade. Aquilo me assustou um tanto, acabei por apertar o passo pra sair o mais rapido possível dali.

Mais da metade dos adolescentes sairam da escola. A minha sala com 32 alunos passou para 12, e foi assim com várias outras salas. A maioria era vapores de PH, tinham que treinar tiro e cuiarem da distribuição para a invasão, não tinham tempo pra escola. Eu ainda não entendia o que levava esses adolescentes a deixarem a escola, na verdade, eu ainda não entendia o que era o tráfico.

Cheguei em casa no horário habitual. PH estava fazendo churrasco com seus soldados, amanhã seria a invasão a vila mosquito. A casa pequena estava lotada, e o som alto faziam as paredes da minha casa tremer. Assim que ele me viu, me chamou pra participar do churrasco, mas o mar estava cheio de ondas e o sol trincando, eu não podia perder um dia perfeito desses.

Passei o dia todo surfando com fabinho, meu melhor amigo, morava no asfalto. O sol se pôs, e eu voltei pra casa. O churrasco já havia acabado, e o que restava era um PH bêbado me encarando com uma carranca.

- Eu não quero você andando com esse tal de PH! - Minha mãe disse brava assim que entrei em casa.

- Mas eu não ando com ele.

- Ah não? E por que ele tava gritando teu nome bêbado hoje?

- Eu não sei...- Foi quase impossível esconder um sorriso que insistia em aparecer.

- Bom, já ta avisado.

- Ta bom mãe.

Tomei banho, fiz minha tarefa e jantei. Eu já estava deitada, pronta pra dormir, quando ouvi PH rezando. Coloquei o ouvido na parede pra poder ouvir melhor:

- Meu senhor, fornece a blindagem do meu corpo amanhã, essa terra não é minha, mas eu já a amo, amo o teu povo, amo aquela menina...Perdoa meus pecados, minhas falhas. Fortalece minha fé, me dê a coragem pra ir pra guerra amanhã, eu estou com medo senhor... - Meu coração apertou, e eu senti que ele precisava de alguém.

- PH ? - Eu disse batendo na parede. - Consegue me ouvir?

- Gabi?

- Sim, vem pra varanda.

- Ta bom.

Eu averiguei pela casa se minha mãe estava realmente dormindo. Eu pisava com cuidado no chão gelado pra fazer o minimo barulho possível. Quando consegui sair, avistei-o sentado no parapeito de costas pra mim.

- Oi...- Eu disse timida.

- Oi. - Ele parecia um tanto envergonhado também. - Você ouviu ?

- Sim, achei lindo. A dona do teu amor é uma menina sortuda. - Minha cabeça estava baixa, e meu coração doia de ciumes. 

Ele abriu aquele sorriso maravilhoso. Passou as pernas pelo muro e pulou pra dentro da minha sacada. Segurou minha mão e me puxou para mais perto.

- Essa menina é você. - Ele disse tão baixo que mal pude ouvir.

Ele foi aproximando o rosto, e automaticamente eu fechei meus olhos. Nossos lábios se tocaram e nossas linguas se cruzaram, era um beijo quente e apaixonado, apesar de não ter beijado muito, fazia tempo que não recebia um beijo tão bom.

- Eu sou apaixonado por você des daquele dia que te conheci. Te olhava surfar, ir pra escola, te olhava tocar violão na sacada, te olhava olhar as estrelas, foi difícil não me apaixonar por você. - Ele disse enquanto acariciava meu rosto.

- Vá pra aquela guerra, e volte amanhã pra mim, promete ?

- Prometo.

Na subida da Favela. (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora