Era sábado. Dia de baile. Eu não iria pois minha mãe não deixou. PH disse que ficaria comigo, e eu me senti aliviada por isso. Ele disse que não me deixaria, e cumpriu sua promessa. Pelo menos por em quanto.
Era noite quando descemos junto para comprar o pão que minha mãe pediu. Ele andava comigo de mão dada, mesmo sob o cochicho do povo. Com certeza eu ouviria bronca da minha mãe por horas, mas valia a pena.
Olhei pra ele e admirei sua beleza. A pele morena e o cabelo ainda mais claro queimado por causa do sol. As correntes de ouro e a fuzil pendurada nas costas combinavam com ele. Andava esquisito pra destacar o tênis colorido da Nike, ou por causa da pistola em seu quadril. As tatuagens contrastavam com a pele. E as cicatrizes de bala na costela combinavam com o olhar intenso.
- Você precisa fazer a barba. - Eu disse quando percebi a "penugem" já crescida em seu rosto.
- Por que? Não gosta do meu bigode? - Ele passava a mão nas poucas dezenas de pelos loiros a cima da boca.
- Que bigode? - Eu perguntei rindo.
Derrepente rojões são escutados. E em um movimento rapido ele me empurra pro beco.
- Koé Jacaré ? - Ele pergunta em seu radinho. Ele estava alerta, como se estivesse no meio de algum tipo de caçada.
- Os verme tâo aqui na gaza, tão querendo desenrolar com tu. - Mesmo pelo radinho eu podia perceber a raiva na voz de Jacaré.
- Demoro, manda os menor fica na atividade, coloca os soldado na mira e manda o povo circular, eu ja to colando ai.
- Demoro, demoro.
Ele desligou o radinho e me procurou com o olhar.
- Você. - Apontou o dedo pra mim. - Fica aqui. Não sai daqui.
Eu balancei a cabeça afirmando, ele me entregou uma arma e me ensinou como destravar e atirar, mas obviamente eu não aprendi.
- Se alguém tentar qualquer coisa, atira. - Eu balancei a cabeça novamente, e ele me abraçou. - Eu já volto pra te buscar meu amor.
Ele saiu correndo. E como eu não aguentei não saber o que acontecia, fui atrás dele. Existia uma trilha na serra que levava a um pico de surf, e de lá era possível ver a entrada da favela bem de perto.
Fui correndo pra lá e me escondi no meio das árvores. Havia uma viatura policial e cinco homens sem fardas, com o armamento inferior aos dos soldados. Contra os homens só havia PH e Jacaré, cada um com uma fuzil na mão.
- Fala ai chefe, algum problema? - PH perguntou a um dos homens.
- Fala pro teu superior que ele vai ter que aumentar a verba. - O homem disse enquanto destravava sua pistola. Meu corpo todo estremeceu só de pensar em algum mal acontecendo a Pedro.
- E por que isso? - Ele parecia não sentir medo algum.
- Por que nois ta mandando caralho!
PH soltou uma risada irônica, e eu percebi que aquele ali não era o meu PH.
- Des de quando tu manda aqui?
- Ae Xerife, to achando que eles não tem dinheiro não. - Um dos homens disse fazendo com que todos dessem risada, inclusive PH e Jacaré.
- Também to achando...Pois se não tiver, vamo ter que invadir.
PH enfiou a mão no bolso e atirou cinco bolos de notas de cem na frente dos homens, eu dei risada da atitude. Derrpente escuta-se tiros, e eu fecho os olhos rezando para que PH estivesse bem. Eu não tinha coragem de abrir os olhos. Escuta-se mais um tiro, e eu abro os olhos por causa do susto. PH e Jacaré continuavam em pé, pra minha alegria. Mas a cena que vi, me marcou pra sempre. PH atirava na cabeça dos corpos no chão, fazendo com que explodissem feito melancia. Ele sorria cada vez que o sangue espirrava em sua roupa. Naquele momento eu entendi o porque de minha mãe não me querer com ele.
Corri desesperada até o beco. Eu estava em panico. Eu me odiava por ter me apaixonado por uma criaturava desalmada. Ele entra no beco, sujo de sangue, e eu me desespero mais ainda. Caio em prantos e ele me socorre. Eu sinto nojo cada vez que ele toca minha pele.
- Sai daqui! Seu monstro! - Eu gritava por entre lágrimas.
- O que foi? Gabi, o que aconteceu? - Ele estava realmente confuso, e o seu tom de voz era diferente daquele de alguns minutos atrás.
- Você já parou pra pensar que eles podiam ter familia?! Filhos?!
- Ah, você viu...Merda! Eu falei pra ficar aqui! - Ele gritava com odio, e eu me encoli por causa do medo. - Desculpa... Gabi, era a gente ou eles...
- Não, isso não precisava ter sido assim. Eles só queriam dinheiro, não era ? Era só ter dado!
- Gabriela, as coisas não funcionam assim.
- Funcionam sim! Eles não mereciam morrer...
- Ah é ? E os jovens da comunidade, merecem morrer? Os trabalhadores, os idosos, tua mãe, meus soldados, todos merecem morrer? Eu mereço morrer Gabriela? Lá no condominiozinho da onde você veio, você não via, mas eles matam gente pobre feito galinha! Então não venha querer me julgar, você não sabe o que é matar ou morrer, é só mais uma patricinha alienada. Deixa de ser otaria! - Ele gritava por entre os dentes feito um cachorro bravo.
Eu observei-o sem acreditar em tudo que eu ouvi. Ele suspirou fundo, abaixou a cabeça e sussurrou um "Desculpa". Mas me senti super ofendida, como se não fizesse parte daquele lugar. Tudo que ele me dizia não fazia sentido algum. Eu simplesmente levantei dali e fui correndo pra casa. Me tranquei no quarto e me droguei com seis comprimidos de dipirona, eu fazia muito isso pra dormir, e era o que eu precisava, já que não queria encarar a realidade imposta a mim. Logo o cansaço tomou conta, e eu adormeci com a cena das cabeças sendo explodidas por um PH sorridente na minha memória.
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Galerinha, da uma atenção aqui!
Eu to fazendo um grupo no whats pros meus dois livros. ( Ao som do rap é o outro )
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Na subida da Favela. (Revisando)
Teen Fiction" A nossa realidade é outra, a nossa verdade é outra. No meio da contradição, o certo agindo errado e o que era pra ser errado agindo certo. No meio da morte, No meio da fé, da entrega da coisa mais preciosa que se tem pra honrar o lugar da onde se...