Era hora do recreio, e eu estava descendo as escadas para o refeitorio, quando a menina de cabelos cacheados esbarra em mim de propósito.- Enlouqueceu Luana? - Gritei.
- Quem enlouqueceu foi você! De papinho com o homem dos outros.
- Que eu saiba, ele nem é teu homem.
Nesse momento uma rodinha já havia se formado em volta de nós.
- Eu só não te dou um pipoco por que eu sei o que PH quer de tu. Ele te tratou bem, não foi? Todo romantico... Logo ele vai quer te fuder, e você vai deixar, por que é uma otaria! Ai ele vai te largar, e voltar pra danada aqui. Entendeu? Escrota. - Ela saiu andando sem me dar direito de resposta, e eu fiquei ali parada, raciocinando o peso de suas palavras.
Eu passei o resto da aula e o caminho todo de volta pensando nas coisas que ouvi. E Luana estava certa. Me lembrei da promessa que tinha feito a mim mesma, que não iria me deixar levar pelos encantos de PH.
Cheguei na favela, e não era dificil notar as coisas diferentes. Adolescentes e crianças circulando armadas e com roupas caras, lajes lotadas de crianças com fogos de artifício. Não se via mais viaturas, nem turistas. Mas o povo parecia mais contente, sorriam mais. As meninas encurtaram suas roupas, já que era mais facil agora vender o corpo para os envolvidos do que trabalhar, e quem era envolvido, via motivo pra andar de nariz em pé.
Minha cachorra não me esperava no pé do morro como o habitual. Olhei pra cima a procura dela. Ela estava na boca, sentada ao lado de PH. Havia uma fila de usuários de drogas que seguia da metade do morro até a boca. Fui subindo o morro, resando pra ele não me ver. Mas quando seus olhos encontraram os meus, ele abriu aquele sorriso maravilhoso. Eu decidi fechar a cara e continuar subindo, minha cachorra veio atrás sem eu precisar chama-la. Olhei de relance antes de entrar em casa, e vi Lara indo na direção dele, ele apertou a bunda dela ali mesmo, na frente de todos. E pela primeira vez na vida meu coração fora partido.
...
Passei o dia todo deitada, sozinha em casa, com uma dor no peito esquisita que insistia em não me deixar. No único momento que sai na sacada para apreciar o pôr do sol, encontrei o garoto moreno de trancinhas, fumando um negócio com cheiro forte.
- De koé primeira dama, tua mãe pediu pra te avisar que ela não volta hoje. Fiquei encarregado de cuidar da tua segurança.
- Ah, obrigada...E eu não sou primeira dama.
Ele me olhou e deu risada.
- O que foi que patrão aprontou?
- Isso não é da sua conta. - Eu estava meio mau humarada, com certeza.
- Ixi, qual foi? To querendo ajudar só... desabafar as vezes é bom.
- Ah, desculpa... Eu to estressada hoje. Qual teu nome mesmo ?
- Jacaré.
- Não, teu nome, esses apelidinhos de vocês são horriveis.
Ele soltou uma gargalhada e me olhou debochado.
- Meu nome é Matheus, dona.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na subida da Favela. (Revisando)
Teen Fiction" A nossa realidade é outra, a nossa verdade é outra. No meio da contradição, o certo agindo errado e o que era pra ser errado agindo certo. No meio da morte, No meio da fé, da entrega da coisa mais preciosa que se tem pra honrar o lugar da onde se...