Capítulo Um

3.2K 508 804
                                    

00:15

Já se passava da meia-noite quando Dominic caminhava impaciente pelo local onde tinha marcado se encontrar com o sujeito. O miseráble estava atrasado, e se tinha uma coisa que o irritava mais que a falta de compromisso de uma pessoa, era alguém que o deixava esperando.

Irrecevable!

Olhando para o céu sem estrelas, ele sentia a brisa gélida no rosto como um bálsamo para sua cabeça quente. Sua mente que estava a todo vapor, repassava seu plano seguidas vezes, para não haver margem de erro. Algo lhe dizia que essa noite seria longa. Muito longa.

Relembrou sua conversa há três noites atrás naquele mesmo lugar, com aquele maldito que o havia contratado. Ele, Le Monsieur, que se orgulhava da sua sagacidade não percebeu naquele instante quantos problemas surgiriam ao aceitar aquela proposta fora do comum. O homem que pedia seus serviços, mal mostrou o rosto e se recusou a dizer seu nome, muito menos o da vítima. Apenas mostrou uma foto do infeliz e ofereceu 5 milhões, o que era uma quantia astronômica por apenas a cabeça de um homem. Dominic nem sonhava que o "infeliz" da foto era Baltazar Gower. Sabia por alto a terrível fama daquele sujeito, sabia que ele comandava uma facção que amedrontava o mundo negro do crime. E pelo pouco que falaram dele, sabia que ele não era nada bonzinho. Muito menos com as pessoas que tentavam matá-lo.

Agiu sem estudar o caso. Aceitou na hora em que lhe foi proposto. Dominic achou estranho todo aquele mistério que aquele desconhecido fez, claro, mas como sempre o que acabou jogando-o naquele abismo foi sua incontrolável e insaciável sede por dinheiro.

Dominic nunca tinha o suficiente, sempre queria mais, mais e mais. E essa era sua maior fraqueza.

Ele sabia que era um defeito terrível, e nas profundezas de sua alma, sentia que aquele complexo teve origem na sua infância tenebrosa em Paris. Aquela vida miserável, suja, sombria, dolorosa...

Ele odiava se lembrar. Odiava com todas as suas forças. Por isso prometeu a si mesmo nunca voltar a lembrar ou falar desse assunto. Nem mesmo Leroy, seu único amigo e fiel escudeiro sabia do que ele tinha passado. E ninguém jamais saberia.

Jamais.

Atraído por um som familiar, Dominic se vira vendo um carro preto se aproximar. Se posicionando da maneira mais distinta o possível, Dom espera o rato vir até ele.

Que comece le spectacle!

Pensa, enquanto observava com atenção o homem que descia do carro. Saiu sozinho lá de dentro, mas Dominic não se deixou enganar. Poderia haver homens escondidos, e ele precisava estar preparado.

Vindo lentamente em sua direção, Dominic se mantém na maior elegância que podia, não tirando os olhos da figura masculina que se aproximava. Era mais velho do que se lembrava, se bem que na primeira vez em que o tinha visto, o farsante estava de chapéu e mal dava para ver-lhe o rosto.

Parando finalmente à sua frente, agora podia ver com toda a clareza a fuça do homem que mandaria embora desse mundo.
Os dois se encaram como se cada um esperasse que o outro se pronunciasse. O homem do carro levantando a sobrancelha num ato zombeteiro, estende a mão para Dominic que ignora o gesto sem cerimônia.

— Não pensei que fosse um homem tão rancoroso, Baltimore. — O velho finalmente fala quebrando o silêncio.

Dominic percebeu que ele havia usado seu sobrenome para cumprimentá-lo, sendo que ele nunca dizia seu nome a pessoas que pagavam por seus serviços. Aquilo só podia significar uma coisa: O velho tinha feito investigações sobre sua vida, e isso não era bom. Nada bom.

Le ℳonsieurOnde histórias criam vida. Descubra agora