Bônus: O Garoto Leroy

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"[...]Não se decepcionem com o homem que me tornei."

(Trecho retirado de: Diário de Leroy Hanks)

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Inglaterra, 10 anos antes.

A lua reinava no céu em mais uma noite fria em Londres.

As ruas estavam desertas, e em uma das sarjetas, próxima a uma cabine telefônica, se encontrava um jovem com um caderno e um lápis em mãos.

O cabelo ruivo e desgrenhado do garoto dançava contra o vento conforme a brisa fria se intensificava. Seus olhos verdes cansados se fechavam e abriam automaticamente, quando a exaustão daquele dia tomava conta de seu corpo franzino.

Ele sentia frio.

Mas apesar de sentir a mão congelando ao movimentá-la para escrever, o garoto Leroy Hanks não parou de anotar os acontecimentos de mais aquele dia:

18 de Novembro

Hoje eu consegui três libras com os truques de mágica. Várias pessoas passaram por mim, mas poucos sequer me olharam. Quem dera dar algum dinheiro, então...

Estou com fome. Não comi nada o dia todo, mas tirando o cansaço típico do dia, em compensação hoje fiz um amigo! Ele também mora nas ruas e é jovem como eu. Ele se chama Tony, e sinto que nos daremos bem como parceiros!

Pois cada dia que passa se torna mais difícil sobreviver sozinho...

Leroy olhava fixamente para o caderno em sua mão lendo as linhas que acabara de escrever.

Colocar naquelas folhas o que acontecia em seu dia-a-dia, o ajudava, pois ele não queria perder nenhuma daquelas memórias vividas naqueles dias difíceis.

Leroy não sabia explicar o porquê, mas simplesmente não queria esquecer.

E com a intenção de não deixar nenhuma de suas memórias para trás, ele começou a escrever esse seu diário. Sabia que as lembranças eram traiçoeiras e podiam fugir ou lhe serem confundidas, por isso sempre colocava o máximo de detalhes que podia em cada frase que escrevia.

E sentia-se estranhamente bem ao fazer aquilo.

Levanta-se da sarjeta finalmente, suspirando. Fecha o caderno, e abre sua velha mochila que estava ali ao seu lado. Guarda o diário dentro dela, e pega um cobertor surrado jogando-o sob seu ombro.

Começa então a caminhar lentamente pelas ruas desertas, tentando ignorar o frio que sentia.

Ele se encaminhava até um velho depósito abandonado que dormia todas as noites, desde quando fugiu da casa de seus tios um ano antes.

Seus pais morreram há três anos em um acidente de carro, e então sua guarda foi passada para seus únicos parentes vivos, seus tios: Ivy e Gordon Hanks.

O casal já tinha três filhos, e subitamente ter que tomar conta de mais um - que nem era deles -, foi algo inconcebível para eles.

Sem contar, que Gordon Hanks e seu irmão mais velho Harry, o pai de Leroy, nunca se deram bem. Eles tinham personalidades distintas, e por isso sempre havia conflitos entre eles. Harry era calmo e gentil e prezava pelo bem estar de todos, enquanto Gordon era impaciente e egoísta demais para se importar com questões alheias. A divergência era tão​ grande entre os irmãos, que ambos sempre fizeram questão de manter distância.

Le ℳonsieurOnde histórias criam vida. Descubra agora