Fase 2/Capítulo 13-TPM

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"Os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro"

(Carlos Ruiz Zafón)

Onze meses depois.

Luna

Estou deitada na minha cama pronta para dormir. Hoje é quinta-feira, amanhã minha mãe estará aqui. Estou com tanta saudade dela. Não vejo a hora de contar todas as novidades.

Finalmente ele se declarou para mim, estou muito feliz. Acho que ele vai me pedir em namoro. Esperei tanto por isso e agora só quero contar para minha mãe.

Ouço o barulho na sala. Acho que alguém chegou e pela hora não pode ser minha mãe. O som dos passos está mais próximo e sinto calafrios. Minha nuca pinica como aviso do perigo, é como um sexto sentido aguçado que possuo. Eu sei exatamente quem é, mas mesmo assim finjo que é outra pessoa. Fecho os meus olhos para que pense que estou dormindo.

A porta do meu quarto abre lentamente como se a pessoa não quisesse me acordar. Sinto sua presença cada vez mais perto. O cheiro de bebida forte paira no ar. Ouço um baque e me assusto.

– Você está acordada não é Luar? Só esperando minha bênção.

Só existe uma pessoa, ou melhor, uma criatura que me chama de Luar.

Está muito escuro e não consigo enxergar nada em volta. Permaneço quieta como um coelho acuado pela raposa. Meu sangue parece correr gelado por minhas veias, devido ao medo. O corpo todo está trêmulo, pressentindo o pior.

Minha cama afunda com seu peso e eu sei o que vem a seguir. Ele acaricia meu cabelo, imediatamente aperto os olhos na vã esperança de que ele suma da minha vida. Sua respiração pesada na minha nuca e seu bafo de bebida forte e barata impregna o ambiente.

Vejo um clarão de celular aparecer no meu quarto, mas continuo virada para a parede onde está minha janela. Finalmente uma música começa a tocar, ele colocou aquela música de novo. Um cantor italiano falando para a lua. É insano da parte dele achar que música ajuda em algo. Eu simplesmente odeio essa música com toda a minha alma.

– Essa música captura a minha alma e disseca tudo o que eu sinto – declara com a fala arrastada.

Ele desce a colcha que me envolve lentamente como se sua intenção fosse tomar todo o tempo que puder. Quando sinto suas mãos, um ruído de angústia escapa por meus lábios.

– Quietinha Luar. Sabe que não gosto de ruídos – sussurra em meu ouvido enviando ondas de desespero por meu corpo.

Ele puxa meu corpo para que fique de frente para ele. Começa a beijar meu pescoço e com suas palavras entrecortadas de bêbado, ele profere todo o tipo de imundície. Sinto uma necessidade descomunal de gritar pelo amor de Deus para que ele pare. Por que ele não vê como isso é doentio?

– Seu corpo é como um santuário. Deve ser adorado até os mínimos detalhes Luar. Então receba a minha adoração.

A primeira lágrima escorre. É apenas a primeira de muitas que virão hoje. Mas é impossível calcular todas que derramei a cada noite e a cada retorno seu ao meu quarto durante a semana.

Ele começa a tirar minha roupa lentamente e eu não luto mais. Já lutei, Gritei, implorei. Tudo foi inútil. No fim ele sempre consegue o que quer de um jeito ou de outro.

Vira o meu corpo para que eu fique de bruços na cama. Agora só me resta esperar até que fique satisfeito e termine com essa atrocidade.

Decido fazer o que faço sempre. Marco a lua como um ponto e não desvio o olhar nem por um segundo. Só quero que acabe logo. Espero que não seja como alguns dias em que ele quer outras vezes.

Ele Vai Ser MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora