"Os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro"
(Carlos Ruiz Zafón)
Onze meses depois.
Luna
Estou deitada na minha cama pronta para dormir. Hoje é quinta-feira, amanhã minha mãe estará aqui. Estou com tanta saudade dela. Não vejo a hora de contar todas as novidades.
Finalmente ele se declarou para mim, estou muito feliz. Acho que ele vai me pedir em namoro. Esperei tanto por isso e agora só quero contar para minha mãe.
Ouço o barulho na sala. Acho que alguém chegou e pela hora não pode ser minha mãe. O som dos passos está mais próximo e sinto calafrios. Minha nuca pinica como aviso do perigo, é como um sexto sentido aguçado que possuo. Eu sei exatamente quem é, mas mesmo assim finjo que é outra pessoa. Fecho os meus olhos para que pense que estou dormindo.
A porta do meu quarto abre lentamente como se a pessoa não quisesse me acordar. Sinto sua presença cada vez mais perto. O cheiro de bebida forte paira no ar. Ouço um baque e me assusto.
– Você está acordada não é Luar? Só esperando minha bênção.
Só existe uma pessoa, ou melhor, uma criatura que me chama de Luar.
Está muito escuro e não consigo enxergar nada em volta. Permaneço quieta como um coelho acuado pela raposa. Meu sangue parece correr gelado por minhas veias, devido ao medo. O corpo todo está trêmulo, pressentindo o pior.
Minha cama afunda com seu peso e eu sei o que vem a seguir. Ele acaricia meu cabelo, imediatamente aperto os olhos na vã esperança de que ele suma da minha vida. Sua respiração pesada na minha nuca e seu bafo de bebida forte e barata impregna o ambiente.
Vejo um clarão de celular aparecer no meu quarto, mas continuo virada para a parede onde está minha janela. Finalmente uma música começa a tocar, ele colocou aquela música de novo. Um cantor italiano falando para a lua. É insano da parte dele achar que música ajuda em algo. Eu simplesmente odeio essa música com toda a minha alma.
– Essa música captura a minha alma e disseca tudo o que eu sinto – declara com a fala arrastada.
Ele desce a colcha que me envolve lentamente como se sua intenção fosse tomar todo o tempo que puder. Quando sinto suas mãos, um ruído de angústia escapa por meus lábios.
– Quietinha Luar. Sabe que não gosto de ruídos – sussurra em meu ouvido enviando ondas de desespero por meu corpo.
Ele puxa meu corpo para que fique de frente para ele. Começa a beijar meu pescoço e com suas palavras entrecortadas de bêbado, ele profere todo o tipo de imundície. Sinto uma necessidade descomunal de gritar pelo amor de Deus para que ele pare. Por que ele não vê como isso é doentio?
– Seu corpo é como um santuário. Deve ser adorado até os mínimos detalhes Luar. Então receba a minha adoração.
A primeira lágrima escorre. É apenas a primeira de muitas que virão hoje. Mas é impossível calcular todas que derramei a cada noite e a cada retorno seu ao meu quarto durante a semana.
Ele começa a tirar minha roupa lentamente e eu não luto mais. Já lutei, Gritei, implorei. Tudo foi inútil. No fim ele sempre consegue o que quer de um jeito ou de outro.
Vira o meu corpo para que eu fique de bruços na cama. Agora só me resta esperar até que fique satisfeito e termine com essa atrocidade.
Decido fazer o que faço sempre. Marco a lua como um ponto e não desvio o olhar nem por um segundo. Só quero que acabe logo. Espero que não seja como alguns dias em que ele quer outras vezes.
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Ele Vai Ser Meu
Lãng mạnAté onde você iria para ter a pessoa que ama? E se essa pessoa fosse impossível para você? Quem conhece Luna toda cheia de vida e espirituosa não imagina as obscuridades que ela carrega. Sua vida passa por mudanças e ela conhece Ricco Calazans, u...