Capítulo 23-Tudo tem um Por que.

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"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida."

(Platão)

Ricco

Estou correndo pela estrada deserta com a minha moto em um dia chuvoso. Somos eu e meu brinquedo veloz a mais de 200 km por hora. Sinto-me como nos velhos tempos quando não havia quaisquer preocupações com nada além da minha próxima medalha.

Sinto o vento frio na minha pele, gotículas quase congeladas parecem agulhas espetando meu rosto. Sinto-me como se fosse The Flash correndo por toda a cidade.

O dia tão aguardado da competição chega, estou sendo aplaudido e ovacionado pela multidão. Estou nadando, vejo que meus adversários começam a me deixar para trás, eu tento com tudo o que posso ultrapassá-los, mas algo parece estar me segurando, quando olho em volta vejo uma espécie de lama, algo negro e espesso, debato-me para me soltar, mas é inútil. Meu coração está batendo tão rápido que quase posso ouvi-lo.

Estou afundando. A lama está me tragando.

Até que a vejo. Ela grita para que eu segure sua mão. Eu tento segurá-la, ela não para de tentar me salvar. Minha menina corajosa.

Ouço um choro ao fundo, olho em volta e vejo meu pai sentado naquela maldita cama a arma em punho encostada ao lado da cabeça.

Ainda preso na lama tento gritar com todas as forças, mas nada sai, continuo tentando até um nó se formar em minha garganta e sinto meus pulmões queimarem sem ar por conta do esforço inútil.

Veja a cena se repetir bem diante dos meus olhos, mas agora sou um homem, tenho obrigação de impedi-lo. Não serei covarde novamente. Meu pai não será vítima de suas decepções. Preciso chamar sua atenção.

Algo muda, ele olha em minha direção. Seu olhar é gélido sem qualquer emoção. Ele parece pronto para dizer algo.

– Como ousa Ricco? Cómo tuvo el coraje de hacer eso conmigo? Usted confió en una mujer. No te dije que todas son falsas y mentirosas?

Tento argumentar, mas é impossível com toda a lama entupindo meu corpo, cada tentativa que faço para sair acaba por ser um facilitador para minha morte. Luna sumiu e meu pai ainda com a arma em sua cabeça gritando que eu o decepcionei e não ouvi seus conselhos, por isso ela irá me trair.

Meu corpo fica completamente imerso na lama negra.

Acordo completamente encharcado de suor, meu coração salta como se quisesse abrir um buraco em meu peito para sair, sinto tremores por todo o corpo. Ainda sinto os pulmões clamarem por ar. O dia ainda não amanheceu, pego o celular para constatar que são quatro e meia da manhã, limpo o suor do rosto exasperado. Os gritos dele ainda podem ser ouvidos se eu continuar parado.

Essa é porra fodida que carrego comigo!

Levanto e sigo para o banheiro, por falta de uma piscina encho a banheira rapidamente permitindo que a afasia da submersão me envolva para que assim eu descarregue os fantasmas do passado e alcance meu momento de paz deixando as lembranças no limbo que encontro na água.

Acordei muito antes do horário que eu deveria, quando finalmente o dia clareia decido sair adiantado. As ruas de São Paulo são bem movimentadas, e o trânsito é quase sempre caótico, mesmo a essa hora do dia. Saí bem cedo para evitar o congestionamento, parece que foi inútil. Todos tiveram a mesma ideia.

Vou encontrar o técnico Jorge Freitas, coordenador da maior clínica de natação do Brasil, ele é professor de pós-graduação em ciências da natação. Foi treinador nas olimpíadas de Beijing em 2008 e Londres em 2012. Seu currículo é impressionante. Jorge possui uma unidade no Rio de Janeiro e uma em São Paulo, ambas muito bem equipadas com o que há de mais moderno em termos de tecnologia aquática. As unidades possuem um ótimo programa para treinamento, preparação física, um ótimo trabalho de nutrição e fisiologia, além de ser referência na biomecânica e fisioterapia. Esse programa por módulos que possuem, é completo além de ser mais objetivo, assim posso determinar qual área o atleta precisa focar mais. Estou bem confiante que vou conseguir o apoio dessa lenda das águas.

Ele Vai Ser MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora