The Two Friends And The Bored Ones

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 Natasha Shirakami's POV: ON

 Estava em bicos dos pés, em cima do parapeito da varanda. Estava a adorar sentir o vento a voar com os meus cabelos rosados, presos em totós. Estava descalça; acho um saco ter que usar sapatos.

 Não queria tentar perceber o Kanato. Acho que não o conseguirei fazer; como é que ele pode ter sido tão simpático, tão amável e depois ter-se tornado alguém bruto e que me fez tremer de medo? Eu gostei tanto de ter estado com ele...

 O ideal seria pedir ajuda aos irmãos dele.

 -- Estás pensativa, Natasha-san. -- comentou a voz masculina que me fez estremecer. -- Se ficares distraída assim, alguém poderia aproveitar isso para te machucar.

 -- Isso seria preocupação? -- perguntei, ao rapaz de cabelos liláses atrás de mim, e tentei parecer indiferente.

 Porém não estava a conseguir; estava a morrer de medo de que ele me magoasse outra vez, não queria ter esta má ideia dele, quero o Kanato que conheci antes.

 -- Não. Seria um aviso. -- respondeu.

 Olhei para ele pela primeira vez hoje; ele estava pálido e com olheiras, na verdade, parecia o estilo dele. Sentei-me no parapeito, virada para ele, e simplesmente fitei-o.

 -- Kanato-kun... Sou um saco de sangue? -- perguntei, sem expressão, com pouca vida nos olhos. -- Serei eu uma boneca sem vida? Um brinquedo sem quaisquer sentimentos?

 O seu olhar pacífico - meio mórbido -, mudou para um confuso e bipolar, mas não mostrei qualquer sentimento, não mostrei medo, ou raiva, ou outro sentimento qualquer.

 Se sou a boneca de Kanato, então serei sem vida com ele; se sou um saco de sangue, serei indiferente perante a sua presença, sem lhe mostrar o que sinto; se sou um brinquedo para o de cabelos liláses, farei o que ele quiser; mas que ele não se atreva a pedir a minha preocupação, que me desespere se algo lhe acontecer, muito menos que fique a seu lado quando precisar.

 Ele avançou até mim, o de cabelos liláses estava a milimetros de distância, e puxou a minha cintura para ele, ficando no meio das minhas pernas. Fiquei intrigada com essa ação, e quando ia desviar o olhar, ele puxou o meu rosto para a frente, olhando-me nos olhos.

 -- Não disse que eras isso! -- gritou.

 "Libriano..." - reclamei mentalmente.

 -- Kanato-kun... Magoaste-me. -- disse, com lágrimas nos olhos, e mostrei-lhe a marca de suas presas, -- Não é disto que falo, estou a falar de me teres feito sentir como um saco de sangue.

 -- ... 

 O mesmo nada respondeu, e eu continuei:

 -- O meu problema não é seres um vampiro, e sim que me trates mal. -- disse, e o mesmo ficou cabisbaixo. -- Eu percebi que fui mandada para aqui por isso, mas eu quero que me trates como pessoa, e assim não me importo de satisfazer a tua sede... -- esclareci, e baixei a cabeça, deixando que alguns cabelos cobrissem o meu rosto.

 Magoaria-me muito que as minhas palavras não o alcançassem, mas ao menos assim sei que ele ouviu o que sinto, então, estou de consciência limpa.

 -- Todas... Todas elas desprezavam-me por ser vampiro. -- admitiu.

 Acho que ele deve estar a falar das noivas...?

 -- Mas eu não me importo com isso, trata-me como pessoa, só te peço isto. -- disse, e levantei a sua cabeça com as mãos.

 Olhei-o nos olhos, e sorri-lhe. Estavamos numa posição meio estranha, ele no meio das minhas pernas, com as suas mãos na minha cintura, e as minhas mãos frias (já que estou aqui fora à já um bom tempo) no seu rosto, fazia com que parecessemos um casal.

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