Capítulo 22

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Anabel

Qual a primeira coisa que você faz quando abre seus olhos?
O que você vê?
Eu não vejo nada além de uma imensa escuridão, aonde quer que eu vá está sempre tudo escuro, seja dia, seja noite. Agora mais do que nunca vejo uma imensa escuridão, de um momento para outro meu mundo foi terrivelmente abalado de uma tal forma que conseguiu me derrubar e quase enterrar.
Minha mãe parecia estar se agradando de ver meu estado, pois não parava de falar como estou melhor agora longe de Allana, mas eu não me sinto bem, ao contrário, me sinto desfalecida.
Drama?
Só quem sofreu, perdeu alguém na qual amou sabe, apenas quem sentiu sabe bem o quão forte é a dor e o sentimento que fica é te marca pro resto de sua vida.
- Eu fiz um bem pra você te afastando daquela falsa!
Isso era o que minha mãe declarava.
Todos os dias, uma, duas, três semanas apenas sobrevivendo pois eu desisti de viver a partir do momento em que minha mãe declarou guerra contra quem me salvou um dia e contra o mundo lutou por mim.
- Abre esse quarto, tá um sol imenso lá fora, vá dar uma volta!- mamãe diz.
- Abrir o quarto pra que, sendo que nem ao menos me lembro como é o sol- digo ríspida.
Ela então mais uma vez se vai me deixando sozinha no meu quarto que agora parece tão imenso. Não há um dia que eu sonhe com Allana, consigo até mesmo sentir o toque dela em meu corpo, seu cheiro não sai de sua blusa que eu peguei e consegui esconder da minha mãe, sua voz dizendo que me ama não sai da minha mente, queria ao menos saber como é seu rosto, a cor dos seus olhos, a cor do seu cabelo. Mas infelizmente a vida não é uma fábrica de realizações de desejos certo? A velha e boa citação de John Green.

Lágrimas não param de rolar a cada lembrança que invade minha mente e me faz sentir mais falta de Allana do que eu deveria estar sentindo. Nossas férias as mais perfeitas, aposto que fiquei com um bronzeado lindo pois meu próprio pai me elogiou pouco antes da minha mãe interromper o que era pra ser meu feliz para sempre.

- sentindo?- Allana pega minha mão e coloca sobre seu corpo.
Sinto umas batidas, seu coração.
- Eu sinto, esta rápido!
- É como ele fica quando você está perto de mim- Allana diz.
Meu coração acelera juntamente com o dela, meus olhos enchem de lágrimas que não vão se derramar.
- Eu te amo tanto Anabel, não sabia que iria depois de 26 anos conhecer o que é o amor!
Meu sorriso aparece automático.
- Eu também não sabia que poderia sentir isso por alguém, ou alguém por mim- falo sorrindo de lado.
- Pois eu sinto por você, um amor, que não pode ser medido, nem descrito com as mais belas palavras ou juras de amor!
Cada palavra que saia da boca de Allana fazia meu coração jubilar de alegria.
- Você não se importa de passar cada dia seu ao lado de alguém que nem ao menos sabe como você é?- pergunto.
Sinto sua mão em minha bochecha, tão quente e macia, com perfume de lavanda.
- Eu aceito cada dia ao seu lado, quero cuidar de você, pois a verdadeira prova de amor é sua, que mesmo não me vendo, consegue me amar!
Sinto então seus lábios pousando nos meus.

Lágrimas rolam com cada lembrança, eu não queria sofrer assim, chorar assim, queria mesmo era sorrir agora com alguma piada idiota de Allana, quem dera eu estar agora ao lado dela sentindo suas mãos acariciando cada parte do meu corpo, seus beijos calmos em minha testa; quem dera eu estar ao seu lado agora.
- Filha, posso entrar?- ouço a voz do meu pai.
- Entra- digo.
Não me movo de minha poltrona, ouço a porta se fechar e passos dele se aproximando, posso sentir ele parado a minha frente.
- Você não pode ficar assim!
- Porque não?
- Você é tão nova, muita coisa para viver, vai chorar por um amor fracassado?
- Você vê por aí algum homem casado com uma pessoa deficiente?- pergunto.
Ele fica calado.
- Você sabe bem o que eu sinto pela Allana, vocês concordando ou não, eu amo ela. Não me julguem por ela ser do mesmo sexo que o meu, ou por amar ela cada gesto que ela fez por mim, não me julguem por ela ter me dado o amor que eu sempre procurei. Não me julguem por amar alguém- digo.
- Eu não queria que você fosse afastada dela- ele diz baixo.
- Você ajudou sua esposa a fazer isso, então, parte da minha dor é sua culpa- digo ríspida.
- Se eu pudesse eu mudava isso!
- Você não pode, então peço que me deixe sofrer minha dor em paz, posso não enxergar a Allana, mas enxergo a alma dela que é boa e pura, muito mais do que de qualquer um nessa casa!- digo não evitando a raiva em minha voz.
Ouço passos, porta se abrindo.
- Eu sinto muito filha!
Então novamente sozinha aqui nesse quarto, quando isso tudo irá acabar? Essa solidão, quando eu irei novamente ir em busca do meu amor?

Isso poderia ser o final de tudo
Então por que nós não vamos
Para algum lugar que só nós conhecemos?
Algum lugar que só nós conhecemos
Oh! Coisa simples, aonde você foi?

(Lily Allen- Somewhere Only We Know)

Não posso dormir pois sei que nos meus sonhos ela vai estar, como uma loucura viciante, ela está em tudo que eu vá fazer. Sinto sua presença mas não consigo sentir ela aqui perto de mim, justamente o que eu mais queria era ela aqui. Bebo litros de café para me manter acordada tudo para não dormir e sonhar com algo que me faça sofrer ainda mais.
Quando isso vai acabar?

Conforme o Vento Assopra (Romance Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora