Capítulo 29

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Anabel

Tem vezes que você faz planos, começa a construir algo para seu futuro e bem a vida mostrando que não importa o que você quer ou deixa de querer, a vida lhe dá a porção que você precisa pra crescer e aprender.
E quando tudo acontece você tem que se adaptar com as consequências para assim aprender a lição, não adianta se indignar, nada vai ser como era antes, uma vez feito nada fará ser desfeito.
E assim eu vivo todos os dias em si em uma pequena escuridão, na qual eu não pedi para estar, mas a vida achou por bem me dar esse presente, e automaticamente tive de me adaptar da melhor forma, pois se queixar e se entregar pra vida não faz meu feitio.

Sinto minha mãe me balançar, me tirando dos meus sonhos lindos com unicórnio e arco íris.
- Filha, é hoje!- ouço sua voz.
Abro um breve sorriso, minha consulta com o médico que irá me dizer se com uma cirurgia posso voltar a enxergar, e enfim sair dessa escuridão
- Já vou mãe!
Sento na cama, rodo meus pescoço para estralar, bocejo uma, duas vezes e então levanto da cama apalpo meu criado mudo achando meu rádio, aperto o play e minha música favorita começa tocar. Somewhere Only We Know. Caminho devagar até o banheiro, conheço cada centímetro dessa casa, mas por bem sempre andando com cautela. Ligo o chuveiro e tomo um banho para lavar meu cabelo.
- Ao menos não vai arder meus olhos de cair shampoo- brinco comigo mesma.
Terminando, saio do quarto e caminho para a sala de jantar, aonde meus pais estão tomando café da manhã juntos.
- Bom dia- sorrio.
- Bom dia filha- ouço meu pai me saudar calorosamente.
Sinto então um braço me envolver pela cintura.
- Marcos- sorrio largo.
- Bom dia meu amor!
Sua voz pela manhã era maravilhosa.
- O que faz aqui?- pergunto.
- Vim tomar café com vocês e levar você ao medico!
- E o trabalho?
- Eles esperam!
Sorrio, então começo a tomar café, panqueca com calda de chocolate, e café com chocolate, meu café da manhã preferido.
- Vamos querida?- mamãe me chama.
Me levanto devagar da cadeira, sinto então as mãos do meu pai em meu rosto, sua respiração quente se aproxima e então ele planta um beijo demorado na minha testa.
- Vai com Deus minha filha, boa sorte!
- Obrigada pai- sorrio.
Esse homem era tudo na minha vida. Ele sempre me ajudava e estava comigo pra tudo, foi difícil eu me a adaptar com o Marcos, pois é surreal que um empresário que pode ter todas mulheres escolheu a mim para amar, apesar do meu problema de saúde.

Na clínica minha mãe me guia até a sala do doutor. A ansiedade é a todo vapor, pois aquele querer a voltar a ver o mundo ao seu redor é infinito, borboletas no estômago, mãos suando, mas ao mesmo tempo aquele medo de ouvir algo que possa me fazer desabar. Com base no que ele vem me falando a uns meses, eu vou conseguir, e ano que vem, voltarei a ver.
- Anabel Matarazzo- ouço meu nome.
Marcos segura minha mão, e do outro minha mãe, caminho devagar adentrando a sala do doutor Carlos.
- Olá Bel- ele me saúda caloroso.
- Oi doutor- sorrio.
- Ansiosa para um diagnóstico?
- Muito!
- Então sem mais delongas vamos acabar com isso! Noivo, mamãe, esperem lá fora!
Eu não gostava que me vissem sem óculos, vergonha tomava conta de mim, e esse exame preciso estar relaxada.
Ele me leva até sua cadeira grande, tiro meus óculos e deixo em meu colo, ele coloca uma espécie de bolinha dura que faz meus olhos ficarem total abertos, ele pinga gotas em meus olhos e eu os sinto queimar, essa era pior parte.
- Relaxa, prometo ser rápido- ele pede.
Tento me acalmar e renegar a ardência e pequena dor na cabeça que começava. Então ouço o barulho da maquina, que não sei bem qual é, mas sei que ela vai dizer se posso voltar a ver algum dia.
Minutos depois o barulho cessa.
- Pronto! Seca os olhos e vou te levar para beber algo- Carlos diz calmo.
- Mas qual o resultado?
- Tem que esperar um pouco Bel.
Seco meus olhos e com a ajuda dele vou até minha mãe.
- Filha vou conversar com o doutor!
- Tudo bem mãe!
Fico na sala com Marcos, ele acariciava meu cabelo com calma, até parecia que eu era uma criança, nem estava prestes a fazer meus enfim 18 anos.
Eu conheço Marcos desde meus 13, mas apenas com 17 me senti vem para enfim deixá-lo era notar em minha vida pois sei que ele cuidará de mim em todos os momentos.
- Bel já volto, sua mãe está me chamando!
Então fico sentada sozinha esperando, qual seria a primeira coisa que vou fazer quando voltar a ver? Com certeza ver como é agora o rosto de Marcos, dos meus pais, ver a flor que eu adoro, Jasmin ou flor de cerejeiras.
Ver o por do sol, um arco íris brilhando pra mim, as tardes cinzentas de chuva, ver o sorriso de cada pessoa, e poder ver também a filha que um dia terei.
Muitas coisas passam a minha mente, creio que farei todas no momento certo.
- Filha, vamos pra casa?- ouço minha mãe.
- Mas o doutor não vai falar comigo?
- Hoje não amor- ela responde.
Sua voz não estava a mesma. Sinto a mão de Marcos pegar na minha, então voltamos para casa.

Eu vou direto para meu quarto, Marcos entra junto comigo, eu sento na cama.
- Deita aqui amor- peço.
- Não posso, tenho que ir trabalhar, sua mãe está subindo para falar com você!
Sinto uma Beijo no topo da cabeça e então ouço a porta.
Estou sozinha?
- Filha?!
Não.
- Oi mãe- respondo.
- Como você se sente?
- Com dor de cabeça- aviso me recostando na cama.
- Hoje o exame foi diferente!
- Deu dor, estranho que não costuma ser assim, acho que não relaxei!
Ouço um silêncio repentino.
- Mãe?
- Estou aqui- sua voz mudou.
Voz embargada, ela queria chorar.
- Porque está triste?- pergunto.
- Como sabe?
- Sua voz, eu reconheço mãe!
Então um soluço ela deixa escapar.
- O que aconteceu? Meu irmão de novo?
Um silêncio novamente.
- Mãe me responde- insisto.
- Seu médico, ele...- ela para.
Espero segundos, ela permanece calada, meu coração acelera.
- Mãe fala!- grito.
Minha voz sai em tom de desespero pela verdade.
- Você não vai voltar a ver, pois se você fizer a cirurgia, você não vai resistir!- sua voz sai baixa.
Meu mundo desaba de uma tal forma, como se eu tivesse revivendo aquele dia em que eu recebi a notícia que estava cega. Meu coração de quebra de uma forma que fico surda e não ouço mais nada, só cada batida rápida, sinto lágrimas escorrerem pela minhas bochechas, e então me dou por vencida.
Você venceu vida.
Meus sonhos, planejamento, tudo acabado por aqui, o que uma garota de apenas 17 anos poderia fazer sem ter a visão? Nada.
- Filha...?
- Me deixa- peço.
- Mas eu...
- Me deixa sozinha- grito.
Ouço a porta bater devagar, então sei que estou sozinha no quarto, me permito chorar o quanto for necessário. Deito abraçada colocar o travesseiro, contando as horas para Marcos chegar e poder me acolher em seus braços e me consolar como se preciso.

Ouço minha porta bater, chorei tanto que peguei no sono, minha cabeça dói mais forte.
- Anabel?- ouço a voz de Marcos.
- Amor você chegou- sento na cama.
- Eu vim te dar adeus!
- O que?- pergunto sem entender.
- Eu vou embora daqui, vou pra Alemanha!
Mais uma vez, meu coração se quebra.
- Marcos você não pode me deixar- digo com a voz embargada.
- Eu amo muito você, mas preciso trabalhar!
- Mas e nosso futuro Marcos? Nossos filhos!
- Eu não tenho tempo para filhos Anabel, nem para se casar- sua voz fria ecoava pelo quarto.
Ouço então o barulho da porta.
- Marcos?- O chamo em prantos.
Levanto correndo da cama, mas a tropeço em algo no chão, e caio batendo a cabeça contra o chão. Sinto uma forte dor, e um barulho ecoar pelos meus ouvidos, mesmo assim junto forças para levantar, abro a porta e escorada nas paredes vou até a sala, mas paro na porta.
- Você não pode fazer isso com ela- meu pai diz bravo.
- Porque não?- Marcos perguntam
- Ela precisa de você! Ela o ama,  isso só vai quebrar ainda mais quem ela é- minha mãe o responde.
- Não posso fazer nada, eu quero alguém que possa acordar e ao menos ver como esta horrível descabelada, quero alguém para fazer café da manhã para mim, ou ao menos saber aonde vai, que tenha uma carreira- ele diz ríspido.
Sinto como se uma faca entrasse dentro do meu coração tão forte que me deixa sem ar.
- Marcos, seu canalha!!- meu pai ruge.
- Não tenho culpa, não sirvo para cuidar de alguém a vida inteira, não quero ser preso à alguém que vai depender a vida toda dos meus olhos para ser os dela!- Marcos finaliza.
Corro para o meu quarto, caminho reto não tinha como errar. Passo o trinco na minha porta e me permito jogar tudo ao chão, e gritar, com ódio, raiva, de mim mesma por ser essa inútil dependente de todos.
Todos a minha volta são presos a mim, sempre tenho que estar com alguém ao meu lado, não posso sair sozinha pois sei que irei cair, mesmo guardando caminho, vou ser uma eterna criança indefesa.
Deixo meu quarto a baixo, piso em cima de tudo, e é enfim caio no chão, chorando sem um rumo e a menor esperança. Minha vontade é não acordar nunca mais, não há razão para isso, lutei o quanto eu podia mas agora eu me sinto realmente sozinha. Me seguro no criado mudo para levantar, então sinto umas caixinhas em minha mão, meus remédios. Mil coisas se passa a minha mente, meu irmão, minha mãe, meu pai, mas se eu for embora desse mundo eles não serão mais presos, serão libertados desse fardo que eles não pediram para ter. Os abro e coloco um vidro atrás do outro na boca, engolindo várias cápsulas de comprimidos, um frasco, dois, três.

Pílulas e poções, estamos tendo overdoses Estou com raiva, mas ainda te amo Pílulas e poções, estamos tendo overdoses Não suporto mais, mas ainda te amo.
(Pills n Potions- Nicki Minaj)

Conforme o Vento Assopra (Romance Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora