Pensando no Reino

É oficial, só Você desata todos os meus nós.

Sabe Jesus, é igual quando eu tinha uns dois, três anos e a minha mãe levava a gente pra brincar em algum lugar. Estabanada incorrigível que sou, eu caía, me machucava e começava o choro. Mas ela me pegava no colo, e cara, viu que linda aquela borboleta que passou ali? Olha, ouviu o passarinho piando? Ele tá com saudades da mamãe dele. Calma, passarinho. Fala pra ele, Sarah. Calma passarinho, a mamãe foi buscar comidinha, ela já vem... Calma, passarinho.

Aquilo me acalmava, me distraía, e aos poucos o choro cessava e eu esquecia da dor.

Pensar que até hoje eu ainda caio nessa, me faz rir. Talvez porque eu ainda seja sua criança.  Você é meu Pai, e eu tenho acesso a geladeira.
Ter acesso a geladeira quer dizer que não há nenhuma parte da Casa que eu não possa entrar, porque eu sou sua filha. Preciso entender e aceitar isso. E parênteses aqui, é mais fácil entender o sistema de sacrifícios judaico do que Seu amor, sabia? Não me leve a mal. Mas é que ele é tão escandaloso. Como seres tão condicionais como nós podem receber um amor incondicional como o Seu? É louco, cara. Pensar que seu amor não muda, que não há nada que eu possa fazer pra que me ame mais ou que me ame menos. Você simplesmente me ama, porque amor é quem Você é. E Você é tão lindo...

O que mais me impressiona na imutabilidade do seu amor, é que você me fez livre. Não importa o que eu faça, o Seu amor por mim não muda. Independente de qual seja a minha escolha, você continuará me amando da mesma maneira. E por isso não consigo usar isso como desculpa pra pecar, porque o Seu amor me constrange. Porque eu vou sair do caminho, se em casa tenho seu abraço? Porque vou buscar os manjares do mundo, se em casa o pão de queijo está no forno, o bolinho de chuva na panela e o café no coador, para o chá da tarde? Que é quando você vai me colocar do seu lado na mesa e me contar as histórias da eternidade?

Sabe, mais cedo, quando eu estava naquela confusão toda, eu mal consegui orar, cara. Eu estava tão confusa... Eu sou cheia de nós, Jesus. E sem a sua graça, eu seria eternamente um nó cego. Eu tenho nós cegos com as dúvidas, com meus medos, com expectativas, comigo e com as pessoas. Mas Você vem, e nó por nó, vai desatando cada um deles. Eu sou como mendigo que saiu pra mendigar o pão, mas que foi adotado tão amavelmente na Sua casa, que não quer mais ir embora. Você desata até os nós mais cabulosos, enquanto usa a técnica do passarinho.

-Então, gostou da sala?

-Adorei. Não imaginava que ela seria como é. É incrível, Jesus.

-Obrigado. Mas sabe que ainda tem muitos outros lugares do meu coração pra descobrir, não é?

-Eu tenho acesso a todos eles?

-Com toda certeza! Alguns são somente seus.