Khal

Capítulo 7

Capítulo 7

Quando vi Alex interagindo com Sol, algo mexeu dentro do meu peito. O que estava na minha frente era um fato inédito, Sol sempre foi meio cabisbaixa, ela era uma menina feliz porém parecia que faltava algo. Quando Daniel e Khal apareceram na livraria, a menina não parava de falar nos dois. Era como se ela o conhecesse há tempos atrás... Como se eles passassem alguma segurança. Mesmo estando com a livraria movimentada aquele dia, não deixava de olhar para eles de vez em quando.

E claro que não podia deixar de notar o quanto Khal era bonito, todo o seu porte físico, os músculos que com toda certeza existiam por baixo daquela camisa. As coxas que marcavam na calça jeans, me davam uma idéia do quanto ele podia ser definido por baixo de toda aquela roupa.

Comecei a rir, me sentindo uma boba. Sabendo que agora ele estava bem distante em uma realidade totalmente diferente da nossa, com toda certeza ele estaria bem acompanhada com a Barbie e nem sequer se recordava da nossa existência.

Estava nesse exato momento esperando Sol voltar da escola, já havia se passado duas semanas desde que ela teve a aula com Alex, todos os dias quando terminava de fechar a livraria, ela fazia questão que eu revisasse com ela toda a matéria que Alex havia ensinado.

Até eu estava ansiosa para que o dia dessa prova chegasse e ela finalmente se visse livre, era a única recuperação que ela havia ficado. E não podia colocar pressão nela, sabia que em todas as matérias ela havia passado com sucesso, também com todo esforço e dedicação. Sempre lembrava o quanto eu trabalhava para que ela pudesse ter algum conforto e um bom estudo. A minha irmã devia ter noção desde cedo, que tudo nessa vida há um preço. No momento eu reivindicava os meus sonhos para que ela pudesse ter o melhor.

Não que eu visse isso como algo ruim... Mas no fundo, sentia falta de viver, de ter algo para mim. Não que minha irmã fosse um fardo, mas queria que as coisas fossem um pouco diferente.

Antes que eu pudesse me aprofundar um pouco mais nas minha divagações, avistei a pequena cabeça com os cabelos longos e platinados correndo em minha direção com um papel na mão.

- MILLE!!!! PASSEI! – O sorriso que ela trazia em seu rosto, me lembrou do quanto tudo valia a pena, que eu encontrava esse sorriso, essa alegria nela. Ela veio correndo para os meus braços, me dando vários beijos. – Precisamos ligar para o Alex, ele disse que eu devia falar para ele!

- Meu amor, primeiramente parabéns! Você se esforçou muito! – A enchi de beijinhos e apertei ela bem forte em um abraço. E logo em seguida a coloquei no chão. – Segundo, não temos como falar com o Sr. Alex, ele não deixou qualquer contato.

- A gente pode procurar na internet...

- Sol... Não dá. Eles não deixam telefones de pessoas na internet fácil assim. – Ela olhava para os lados, sabia que ela estava tentando achar alguma saída para o problema que estava a sua frente. – Vamos, podemos fazer algo legal hoje! Podíamos ir para a praia e ir comer aquela pizza que você ama! Vamos comemorar a sua nota!

- Sim! Eu ia amar! – Ela segurou na minha mão e seguimos de volta para a livraria. Todo o caminho ela ia falando com as pessoas, sempre fazendo questão de chamar todos pelo nome. E falando da sua nota e da ajuda que havia recebido para tal.

Ah pequena...

- Eu acho que vou querer de chocolate, frango com catupiry e calabresa. – Olhei para Sol ao meu lado na mesa, com a boca aberta. Acho que ela não tinha a dimensão do quanto a nossa pequena saída iria afetar no orçamento do mês, mas pelo esforço que ela estava tendo nas últimas meses iria valer a pena se apertar um pouquinho. Ver ela feliz por ter conseguido uma nota tão boa. Tinha me deixado mais feliz ainda.

- E onde você acha que vai caber isso tudo mocinha? Posso saber?

- Aqui! – Ela sorriu, mostrando a sua barriguinha ao levantar a camisa.

- Só podemos escolher dois sabores Sol. Que tal a de frango e catupiry e chocolate preto?

- Ótimo! – Chamei o garçom para que pudesse colher o nosso pedido, quando senti Sol puxando o meu braço, fiz o sinal com a mão para que ela esperasse por alguns segundos. Ela obedeceu e eu pude passar o resto das informações para o garçom.

Quando virei para Sol e saber o que tanto tinha chamado sua atenção. Não a encontrei na cadeira ao meu lado, me levantei da mesa procurando ela por toda a pizzaria até que achei a pequena um pouco mais a frente com a cara encostada no vidro olhando para fora. Quando segui o meu olhar na direção de onde Sol olhava, pude então perceber qual era o real motivo da pequena está tão entretida.

Daniel, estava do outro lado da rua. Com vários fotógrafos a sua volta, enquanto ele atravessava a rua, podia ver a agitação de Sol aumentar. De repente ela começou a pular, correndo em direção a porta. E eu corri em direção a ela para que pudesse impedir de sair da pizzaria.

- Sol! – Mas já era tarde demais, antes que eu pudesse tomar alguma atitude em mantê-la perto de mim, a menina já estava indo em direção a multidão que estava ao redor de Daniel que chegava na porta da pizzaria. Enquanto chamava por ela, mais o barulho dos repórteres aumentava, sabia que seria uma missão quase impossível achar ela naquele meio, estava afastando as pessoas que olhavam cada vez mais com a cara feia para o meu lado, mas não podia perder a pequena.

- Olha Mille! Daniel ta aqui, ele disse que pode comemorar com a gente! – Olhei para a princesa nos braços de Daniel, que estava com um sorriso enorme no rosto.

- Sol! Você está em uma encrenca, você sabe bem disso não é?

- Mas Mille, era o Daniel que tava...

- Mas nada! – Estiquei os braços me aproximando de Daniel para pegar Sol dos braços dele e a colocar no chão. – Vamos ter uma conversa bem séria quando chegarmos em casa.

Levantei minha cabeça, olhando para Daniel, quando para minha surpresa Alex estava ao lado dele. Algo se apertou dentro de mim, um frio subindo pela minhas costas, uma sensação diferente que subia pelo meu ventre.

- Vamos entrar? – Alex se aproximou de mim, colocando as mãos na minha costas e me conduzindo para dentro da pizzaria. Logo veio um homem todo arrumado em nossa direção.

- Sr. Daniel, por favor, me siga. A mesa de vocês já está pronta.

- Eu... – Tentei mostrar que já estávamos em uma mesa.

- Vamos Camille. – Quando ouvi a voz firme de Khal, decidi não mais contestar, fora que a traíra de Sol estava me arrastando praticamente. Assim que chegamos a mesa, ela fez questão de dizer a Daniel o que já tinha pedido e os dois começaram uma discussão sobre qual era o melhor sabor. Não segurei o riso ao ver os dois se trocando. Quando olhei para o lado, vi Alex sério mexendo no telefone, devia ser algum problema.

- Então Camille, me conte como é as coisas aqui. O que você faz na loja, quanto tempo trabalha lá?

- Isso é uma longa história... A Annalise é a dona da loja, ela foi a pessoa que me deu a mão quando eu cheguei na porta dela um dia. E permitiu que nós morássemos na casinha dos fundos para que na época não tivesse risco de perder a Sol...

- Como assim você chegou na porta dela? Perder a Sol? Por quê? O pai dela queria tomar ela de você? – Olhei para Daniel, ele estava perguntando demais, exigindo demais. Tudo de uma vez só.

- A nossa mãe morreu, quando eu era bem pequena. E era muito perigoso pra mim e pra Mille viver na rua com todos aqueles zumbis. – Quando olhei para o rosto de Daniel e Alex, podia ver o espanto e a chuva de perguntas que estavam por vir. O pior de tudo era o medo que habitava dentro do meu coração ao tentar imaginar a reação deles ao saber a verdade sobre tudo.