Capítulo 11

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Capítulo 11

Khal

A semana estava um caos. O problema que Daniel tinha falado por telefone parecia ter piorado cada vez mais, o vazamento de água em um dos canos da parte do hotel, tinha afetado diversos quartos e seria necessário fechar dois andares para que fizessem o reparo necessário.

Fora uma série de compromissos que era necessário meu comparecimento, para cumprir as aparências. Por mais que eu estivesse habituado, que tudo isso fizesse parte da minha rotina, agora estava me irritando. Os afazeres que antes eram um passatempo, agora aparentavam ser um verdadeiro peso.

Estava sentado na minha sala, olhando para a tela do computador, quando resolvi entrar no facebook, tinha uma conta que mal usava. Não gostava de publicar nada nas redes sociais, tentava manter minha vida o mais privada possível, lidar com as revistas e sites de fofoca já era uma tarefa árdua, resolvi procurar pela pessoa que estava na minha cabeça ultimamente, mas seria uma missão quase impossível.

Digitei o nome de Camille e notei que eu não sabia nada sobre ela, sobrenome... Não tinha como achar ela no meio das 2.000 Camilles. Bufei pela tamanha lerdeza. Mas porque eu estava escolhendo o caminho mais longo se eu poderia encurtar?

Peguei meu celular e iria resolver esse problema agora.

Khal: Tô começando a achar que você é um agente secreta.

Olhei para o meu celular esperando alguma resposta... Olhei para a sala ao meu redor, tentava imaginar o que ela estava fazendo naquele horário. Aqui era umas 10 horas, provavelmente ela deveria estar terminando de fazer o almoço para retornar as atividades na livraria.

Como seria ter a responsabilidade de criar uma criança? Sabia que as coisas que Camille lidava não se limitavam apenas a cuidar dela, mas de cuidar de uma casa com o papel de dona de casa e provedora do lar.

Estava habituado a sempre ter tudo na mão, mas as coisas aparentavam ter perdido a sua graça com o passar do tempo. A casa vazia não tem mais o mesmo atrativo de antes, as festas que varavam pela noite não tinham a mesma diversão de antes.

Companhia, alguém com quem ter uma conversa boa sobre como foi seu dia, alguém que vai te apoiar quando tiver desanimado. Porque o carinho, o contato físico qualquer pessoa pode conseguir, isso é fácil. Mas o sentimento, o cuidado... Isso sim era o mais difícil hoje em dia. Uma pessoa que realmente estava preocupada com você.

Antes que eu continuasse com meus pensamentos, a porta do escritório se abriu.

- E aí! Tenho uma boa e uma má notícia. 

- Qual foi dessa vez?

- O problema do vazamento foi resolvido. Mas... O nosso vôo amanhã infelizmente só vamos conseguir ir no fim do dia.

- O que houve?

- Precisam fazer algumas manutenções, estava agendado faz tempo.

- Certo... - Me escorei na cadeira e cruzei os braços.

- Eu estava pensando... Será que você poderia levar a Sarai? Poderíamos combinar um encontro de casais. Eu com a Camille e você com a Sarai. O que achas?

- Você usou?

- O quê?

- Drogas? 

- Claro que não Khal! Você sabe que eu não uso essas coisas. 

- Ah bom... Porque eu estava começando a achar que sim.

- Idiota. Então, você vai levar a Sarai?

- Não.

- Porque?

- Porque não.

Eu não queria admitir para Daniel o que eu realmente queria dizer com as minhas respostas, mas eu estava a ponto de explodir na cara dele. Tinha certeza que ele estava fazendo aquilo de propósito para me irritar e para ver até onde iria minha paciência. Mas não poderia deixar que ele percebesse, porque nem eu mesmo sabia o que estava se passando aqui dentro de mim.

Camille

Eu estava terminando de limpar a cantina da livraria quando eu ouvi batidas nas porta da frente. O dia hoje tinha sido puxado, geralmente aos sábados eram assim, parecia que as pessoas aproveitavam o final de semana para vir desbravar a livraria e ver as novidades, era algo bom, pois significava lucro e movimento. Mas me deixava extremamente cansada, muita coisa para se dá conta.

Atender as pessoas na livraria, correr para cantina quando aparecesse alguém pedindo algo e ainda cuidar da Sol, eu me dividia em mil. Muitas vezes chegava a me perguntar como conseguia conciliar tantas coisas ao mesmo tempo.

Quando fui caminhando para a porta da frente.

Meu coração começou a bater um pouco mais rápido e senti um friozinho na barriga.

Durante essa semana eu e Khal tínhamos trocados algumas mensagens. Ao ver ele na minha frente, sentia um misto de vergonha e ansiedade.

Abri a porta devagar.

- Já fechamos há algum tempo.

- Eu sei... Mas eu não vim ver a livraria, vim ver outra coisa.

- E que outra coisa seria essa? - Ele começou a rir, cruzando os braços e se encostando na porta. Olhando bem nos meus olhos, ele me encarava. Eu sabia bem a resposta para minha pergunta, mas eu queria que ele dissesse. Eu queria que ele me falasse aquilo que eu estava querendo ouvir.

É engraçado... Quando a gente sente essa atração. Sabe o que existe entre as duas pessoas, mas não temos coragem de dizer, ou temos orgulho. As vezes não queremos aparentar ser tão fáceis. E isso nos impede muitas vezes de viver e aproveitar momento.

- Você. Sabia que você ainda não me deu uma resposta sobre suas redes sociais? Estou começando a achar que você é uma pessoa de muitos segredos Camille...

- Só agora você descobriu isso?

- Já imaginava, agora eu só confirmei. Mas isso é algo bom... Porque eu gosto de desbravar o desconhecido.

- Bobo... - Balancei a cabeça, comecei a rir. Era um misto de emoções ter ele ali perto, era algo diferente das outras vezes quando nos encontramos. - Entra... Estou terminando de ajeitar a cantina. Sol está dormindo já. Hoje ela cansou...

- Mas já? Pensava que ela dormia mais tarde, ainda são 20:00.

- O certo seria você dizer já são... Sol é pequena Khal, ela precisa dormir cedo.

- Verdade... - Ele puxou uma cadeira de frente ao balcão da cantina e me olhava enquanto eu terminava de ajeitar as coisas, estava lavando alguns pratos.

- O que você acha de irmos lanchar?

- Lanchar? - Parei o que estava fazendo e olhei para ele espantada. Passando a mão na toalha de mão e colocando as mãos na minha cintura...

- Sim, comer. Você não deve ter parado o dia todo. Com toda certeza precisa de algum descanso.

- Mas... E a Sol? Não posso deixá-la sozinha.

- Verdade... Tive uma ideia! O que você gosta de comer?

- Pastel? - Comecei a rir. Poderia ser uma péssima escolha, mas eu adorava comer besteiras e coisas simples.

- Sério?

- Sim!

- Eu posso pedir para comermos na sua casa... - Podia ver o receio no seu rosto, a incerteza de saber se estava no caminho certo.

Eu sabia muito bem que Khal era de um mundo diferente do meu. Uma realidade distante da minha... Mas algo mudou desde o dia que ele entrou pela primeira vez aqui, eu queria saber. Eu queria conhecer mais dele.

Queria saber do mistério que se encontrava por trás dos olhos verdes, tanto quanto ele queria saber dos meus.

- É uma ótima ideia Khal...

KhalOnde histórias criam vida. Descubra agora