I A - "Ano novo, vida nova..." fala sério, quem é que acredita nisso?

1K 85 403
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

  "As coisas vão melhorar" é o que as pessoas dizem em todas as viradas de ano, quando prometem que dessa vez tudo será diferente e que suas vidas darão uma guinada

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

  "As coisas vão melhorar" é o que as pessoas dizem em todas as viradas de ano, quando prometem que dessa vez tudo será diferente e que suas vidas darão uma guinada. Por mais que me aborreça, fiz os mesmos juramentos que todos ao meu redor, pois, por mais que tente fugir dos padrões, não passo de mais um maldito clichê.

  Acredito que já sabia que todas as minhas palavras e juras para o novo ano que se iniciava não passavam de coisas do momento desde que saíram da minha boca, mas agora que já estávamos no começo de fevereiro e não tinha começado a cumprir nenhuma daquelas coisas, tinha certeza disso.

  O mais triste era ver que meus amigos pareciam estar ainda mais desinteressados em cumprir com suas expectativas para esse ano do que eu.

  Enquanto o carro do meu padrasto vagava, quase parando em meio ao transito que parecia com o de São Paulo e não com o de uma cidade do interior, meus olhos estavam perdidos na paisagem ao lado do meu vidro, que no caso era um garoto maromba de uns dezenove anos que estava em cima de uma bicicleta e que me dirigia um sorrisinho vez ou outra.

  A garota sentada ao meu lado também esboçava uma animação que não era muito do seu feitio, mas tenho certeza que a beldade da bicicleta não tem nada a ver com isso. Os cabelos pretos em corte chanel e com pontas roxas esvoaçavam soltos em direção ao meu rosto enquanto ela se debruçava para olhar pela minha janela. Seus olhos puxados mostravam a maior animação já vista; esta era causada pela belíssima possibilidade de um novo começo.

  — Sempre me esqueço do quanto aqui é diferente de Bê-Agá — observou Alice, entusiasmada.

  Por conta do pai, que tinha arrumado um emprego pica das galáxias em uma das várias empresas do setor canavieiro daqui, Alice, que é prima do meu meio-irmão, fora arrastada de Belo Horizonte para cá com ele. A garota não lutou muito, não via o menor problema em se distanciar da mãe, que nunca havia se dado ao trabalho de dar muito afeto para ela, nem das suas centenas de colegas homofóbicos com quem era obrigada a dividir o mesmo ar todos os dias.

  — Você quer dizer o quanto essa cidade é pequena se comparada com a que você morava, certo? — Perguntou meu meio-irmão, que estava acomodado no banco do carona.

Manual (muito útil) de como sobreviver ao Ensino Médio - Segundo AnoOnde histórias criam vida. Descubra agora