V - Rosa Agridoce

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[AVISO DE GATILHO: distúrbios alimentares]

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Fazem 133 dias

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Fazem 133 dias.

Por mais que eu tente, sou incapaz de me livrar da culpa que toma conta de mim e me faz querer colocar tudo o que há de ruim para fora. Minha promessa de tentar seguir em frente parece ser na verdade a responsável por me causar tanta dor.

Por mais que eu tente, não faço a menor ideia de quem é aquela pessoa olhando de volta para mim no espelho. E isso me aterroriza.

Não sou capaz de me reconhecer naquele reflexo distorcido.

De fato a garota presa na superfície fria do espelho tem a mesma altura, mesma cor de cabelo e cor dos olhos que eu. Mas não me lembro de ter olheiras tão fundas e nem de ser tão pálida.

As imperfeições teimam em me perseguir por mais que eu feche meus olhos e finja que elas não estão alí. Por sorte, não é tão difícil dar uma aparência mais saudável ao meu rosto. O verdadeiro problema se concentra no resto do conjunto. Meus braços são grossos demais, as coxas estão apertadas na calça e acima do cós uma dobra horrorosa de gordura se forma toda vez que curvo meu corpo.

Não importa quanta maquiagem eu use ou as roupas que vista, nunca estou boa o suficiente. Nunca estou perfeita.

Posso ouvir as vozes sussurrarem no pé do meu ouvido. Você sabe que se sentirá melhor depois que colocar toda a sua angústia para fora, dizem elas, faça um esforcinho. Você sabe que quer.

Por alguma razão, as vozes dos meus demônios interiores são similares às vozes dos meus irmãos e da minha tia Antônia.

Tia Antônia, não sei dizer ao certo por quanto tempo ela foi minha maior influência no quesito beleza. Talvez seja porque nunca tenha deixado de ser. Ela sempre fora tão linda e graciosa, uma modelo de passarelas que teria um futuro brilhante se não fosse por um acidente de carro que a deixou com sequelas permanentes.

Titia sempre disse que via um grande potencial em mim desde pequena, mas aos dez anos eu era uma criança gorda demais para as passarelas até mesmo de desfiles infantis. Ninguém quer ver uma marca de sucesso associada à uma menina que mais se parece com uma rolha de poço com um algodão doce nas mão, era o que ela costumava me dizer sempre que eu era recusada nos testes.

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