Capítulo 11: Ápeiron (7th Anniversary)

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– Como você fez tantos? – Ela já sabia a resposta, mas tinha esperança de que fosse outra coisa. Qualquer outra coisa.

– Você me fornecia DNA diariamente – passou por ela, orgulhoso de seu feito. Apontou para um dos tubos. – Esse aqui manipula eletricidade! Não é o máximo? – Quando ela apenas ficou calada o fitando em misto de emoções negativas, ele contorceu o rosto com um sorriso sarcástico: – Não me leve a mal. Quando eu fui te buscar, eu realmente precisava de você... mas era só do seu DNA. – Ela apenas abaixou a cabeça. Ele se aproximou, dando um leve suspiro: – Pisei muito na bola?

A parte obscura da história que ninguém sabia latejava no fundo de sua mente. Fora há mais de um ano. Ele aparecera em sua casa no meio da noite dizendo que iria fugir. Como se não fosse obviamente previsível que ela iria, o discurso de adeus fora friamente montado. Três meses em uma casa isolada foram suficientes para que ele coletasse, em segredo, o material que precisava de um metahumano enquanto fingia que se deixava converter por suas insistentes tentativas de fazê-lo... mudar?

Quando a primeira parte havia sido concluída, voltaram para a civilização. Então, com a ajuda de uma amiga infiltrada, Rylai teve acesso a alguns registros. No dia seguinte à chegada deles, Lynda Carter entrou na LexCorp disfarçada para apresentar a verdade a Templarix.

Como ele fez Ririo renegar o anel, como ele sabia que Talkie estava presa em Atlantis por Circe, como ele tinha um plano – descobriu tudo de uma só vez. Ao tentar confrontá-lo, foi apagada e levada inconsciente para a Ace Chemicals. Lá, ele deu a ela uma escolha: poderia ver um míssil ser lançado em direção a Atlantis ou explodir a Ace. Em qualquer uma das escolhas, milhares morreriam.

Para um Luthor, nada nunca é suficiente. Mesmo após ter material para criar um exército de metahumanos, ele precisava mantê-la consigo – para sua própria vaidade. A história que lhe contou quando foi perguntado o porquê de ser ela a escolhida era suspeita.

Ao lado de uma bomba, dissera que a primeira vez que a tinha visto fora quando o pai dele descobriu as pesquisas da mãe dela sobre um corpo celeste que era, na verdade, uma base espacial dos Luthor. Temendo pesquisas e eventuais descobertas, providenciou a morte de Alura Vengeance, a mãe de Rylai.

Contudo, pesquisou sua vida antes e, numa falha de segurança, Lex clamou ter visto uma foto de Rylai em um painel. Contou para sua mãe, que o encorajou a procurá-la quando conseguisse sair de sua prisão. Das cinzas da fortaleza, ele disse ter salvado apenas a foto dela.

Mas isso foi o que ele disse, e todos sabem o quão mentiroso e manipulador um Luthor pode ser.

Não foi uma novidade ela ter acreditado sem questionar. Providenciou para que ele se afastasse da Ace quando ela impediu que o míssil fosse lançado – explodindo a si própria. Salva por um escudo de gelo que envolveu todo o local, ela diminuiu grandemente as dimensões da explosão, salvando milhares de vidas. Mas não salvou todas.

Rylai foi levada para Belle Reve por Batman, onde teria ficado até seus últimos dias, nos quais definharia deprimida até a morte – se Lislac não tivesse aparecido.

– Você quem começou a briga – sorriu sarcasticamente, continuando a conversa.

Surpreendida negativamente pela frieza de Luthor quanto a não se importar nem, pelo menos, com o próprio filho, começou a respirar de forma desregulada, em seguida levantou o rosto em prantos:

Você é um monstro! – Bradou e abaixou o rosto novamente, com a visão completamente embaçada. – Eu tinha dezessete anos – deu um soluço alto quando suas pernas começaram a fraquejar. Como que se doesse mais que queimaduras, passou a se curvar na direção do chão. – E eu fui a única a acreditar em você – deu mais um soluço alto, quando suas lágrimas e muco pingaram no chão logo abaixo. – E você me bateu até que eu engolisse meu próprio sangue – terminou em um fio de voz.

Luthor não negou. Em de seus tiques, tremeu o pescoço em resposta e fechou os olhos como se gostasse do que ouvisse. Abriu-os em uma expressão ardil que ela nunca havia visto e perguntou:

– Então sem chances de voltarmos à fase da lua-de-mel?

Em um único movimento, Rylai ergueu uma barreira de gelo na direção dele, que saiu de pouco mais de um metro de altura e foi crescendo como uma cordilheira até chegar a Luthor. Ele tentou fugir, mas as pontas gingantes e desregulares o atingiram, levando-o para cima e perfurando o teto, crescendo cada vez mais.

Templarix se virou e fez o mesmo na direção contrária, erguendo a mão e destruindo uma linha inteira de metahumanos artificiais. Quando se preparou para destruir mais clones, foi atingida por Luthor.

– Você não vai destruir os meus metahumanos.

Com um brado, Rylai segurou-o pela armadura e, em menos de um segundo, segurou-o acima de sua cabeça e partiu na direção do teto, atravessando vários andares. Quebrou o chão e o teto de dezenas de andares com Lex, até chegarem ao terraço da LexCorp, onde ela o soltou e segurou-o pela perna como um boneco, jogando-o com força de volta para cair em queda livre por dezenas de andares.

Quando ele atingiu o chão com um enorme estrondo, ela mergulhou em sua direção. Enquanto chegava perto, forjou duas lâminas enormes de gelo nas palmas das mãos, pronta para cravá-las em Luthor até saírem por suas costas.

Antes que o alcançasse, ele a atingiu com uma explosão de cristais solares que a fez voar para cima. Quando começou a cair na direção dele, jogou o peso para a direita, caindo em um andar aleatório. Com a armadura de Luthor fortificada com cristais solares e ela sem prática, não teria a menor chance e acabaria morrendo ali.

– Daemoz – levou o dedo à orelha e só então percebeu que não estava mais usando o ponto. Olhou em volta, procurando-o. Sem sucesso.

Reclamou baixo e pensou em algo que pudesse ajudar. Teve uma ideia. Então, correu e saltou por uma das janelas. Passou a voar circulando o prédio, formando e jogando enormes e informes pedras de gelo. As pedras atravessavam as paredes, vidraças, sustentações. Quebravam móveis, destruíam eletrônicos.

Percebeu que poderia causar grandes estragos, mas não conseguiria atingir seu objetivo apenas lançando projéteis. Quando Lex apareceu atrás dela e passou a investir com dezenas de tiros dos quais ela desviava com dificuldade, teve uma última ideia.

Utilizando o voo supersônico, passou a circular o prédio voando de lado. Ergueu as mãos na direção da construção e lançou uma contínua nuvem gelada. Aproximava-se cada vez mais do prédio e congelava tudo o que podia enquanto descia os andares, transformando algumas partes da estrutura externa do prédio em enormes pedras de gelo.

Quando chegou ao primeiro andar, aguardou Luthor aparecer em seu campo de visão. Então, ergueu o dedo médio para ele, forçou um sorriso no rosto molhado de lágrimas e, com um único impulso, atravessou uma das partes congeladas da parede do prédio. Quando Luthor ouviu o enorme estalo vindo da parede, não pôde se privar de arregalar os olhos e bradar:

– Não!!!

Enquanto Rylai atravessava o primeiro andar do enorme prédio, as rachaduras das partes congeladas abriam enormes fendas no prédio até seu último andar, dezenas de andares acima. Quando atravessou a parede paralela à que entrou, saindo do prédio, passou a voar de costas por alguns quarteirões. Com um misto de vingança e mágoa, viu a poeira subir por centenas de metros quando o prédio, por inteiro, veio abaixo.

Quando a poeira chegou a ela, fechou os olhos. Dali, não sabia mais o que fazer. Passou alguns segundos parada – até ver uma figura dentro da fumaça vindo em sua direção. Preparou-se para atacá-lo de volta. Quando ergueu a mão para lançar uma rajada gelada, nada saiu de seu corpo. Olhou sua mão e tentou novamente: sem sucesso.

Merda!

Congelar o prédio havia sido demais para ela: estava sem poderes. Correu para a esquerda, tentando desviar de Lex. Utilizando a poeira para confundi-lo, correu por entre os elementos das ruas. Se depois daquele estrago ele a encontrasse sem poderes, não queria nem imaginar o que aconteceria.

Então, sentiu seu braço ser agarrado.

Beyond Heroes 3: StelliumOnde histórias criam vida. Descubra agora