Beyond Heroes 3: Stellium

Cena extra: Sol (1/3) (7th Anniversary)

O relógio marcava três da tarde. Depois de tudo, ainda fora discutido o que se faria quanto a Rylai ter ajudado Lex em vários de seus feitos, ainda que ela estivesse em erro quanto a alguns. Absolvida de todos por ter sido um dos que deu fim à guerra, por seus antecedentes e, para a surpresa da mesma, pressão popular. As pessoas não queriam que a garota que arrancou o coração de Lex Luthor e "salvou" a todos fosse presa. Todavia, fora obrigada a comparecer a sessões terapêuticas semanais durante um ano pela própria Liga – o que caracterizava mais uma forma de ajudá-la do que de puni-la, e ela concordava com isso. Assim que retornou da missão em Kahndaq deu início às sessões.

Quatro meses após o início, ela estava, como de costume, deitada no divã da Dra. Gallard para falar sem parar por uma hora, quando a profissional começou:

– Rylai, eu tenho o seu diagnóstico. Preciso que você seja forte, certo? – Quando a garota girou a cabeça para encará-la e concordou com a cabeça, ela continuou, após respirar fundo: – Após nossos encontros nesses quatro meses, posso finalmente lhe dizer que você desenvolveu Síndrome de Identificação de Sobrevivência... ou, como é mais conhecida, Síndrome de Estocolmo – quando Rylai voltou a encarar o teto e começou a tremer, temendo o que ouviria a seguir, Dra. Gallard continuou: – Não se assuste, mas preciso apontar que você tem pontos em comum com essa síndrome, como: você a desenvolveu em situação de refém e criou sentimentos positivos em relação ao seu captor. O fato de ele ter demonstrado "bondade" quando promoveu o vazamento da sua localização, entregando a si próprio para ser preso e fez você perceber que ele havia "libertado" você, foi o estopim. O fato de você ter ficado com ele os três meses na cabana apenas pioraram o seu quadro à medida que você passou a se identificar cada vez mais com ele, ao passo que detestava mais e mais os que o faziam mal, ainda que essa pessoa fosse você mesma. Por isso é claramente perceptível que, ao mesmo tempo em que se sente culpada por causa dos seus amigos, também se sente culpada por ter machucado Lex – fez uma pausa para que Rylai pudesse digerir o que ela havia falado. – Todo o contexto de você ser adolescente, com direito a todos os problemas de adolescentes, e ser também uma metahumana recém-transformada à época competiram para uma fragilidade emocional e mental muito maior, o que lhe tornou mais suscetível a sofrer um prolongamento no quadro, que foi o que aconteceu. Ainda no quesito idade, o fato de você ser muito mais nova do que ele apenas piorou tudo pela imposição que ele tinha sobre você e no respeito que você se sentia no dever de ter por ele, segundo o que você mesma fala, mesmo que não perceba. O fato de ele ter tentado te manter por tempo indeterminado foi interpretado por você como uma forma de amor que ele podia demonstrar, no limite do possível, levando em conta a história que ele dizia ter. Esses são os pontos que você tem que ter em mente para iniciarmos o tratamento. Há mais coisas, mas vou me ater a isso, para início.

Enquanto a garota cerrava os dentes, reprimindo gemidos de choro, derramava muitas lágrimas ao ouvir o que a profissional dizia. Em determinado ponto passou a segurar a própria mão, numa tentativa desesperada de não tremer ou se sentir um pouco menos vulnerável. Talvez menos sozinha.

– Rylai, como você é maior de idade, preciso que você entenda seu quadro e a gravidade dele, e também que consinta o tratamento, que vai envolver certo tempo de afastamento das suas atividades relacionadas à Torre de Vigilância e constantes sessões.

Rylai, então, acenou que sim com a cabeça, ao passo que se permitiu chorar o mais alto que pôde, soluçando e levando as mãos ao rosto enquanto continuava balançando a cabeça positivamente, ainda que deitada.

Ao fim da sessão, após Rylai ter pego os documentos necessários para o afastamento de dois meses, retirou-se com os papéis que diziam que as sessões para a tentativa da cura da síndrome se perdurariam por tempo indeterminado – até que surtisse efeitos.

Saindo do prédio, avistou Jessica encostada em um poste do outro lado da rua. Desceu a perna que antes estava apoiada no objeto e acenou. Rylai foi até ela, carregando os papéis.

– Acabei de falar com o seu primo, ele e Ririo encontraram um metahumano com poder atômico – pôs-se a seguir Rylai, que a havia contornado e começado a andar pela calçada. Como não obteve resposta, perguntou: – Tudo bem?

Ignorando a pergunta de Jessica, se abaixou para ver um panfleto que estava no chão. Pegando-o, sentiu seu coração bater um pouco mais rápido ao ler que a Universidade de Gotham abrira inscrições.

Aquela vida de lutar pela Torre parecia horrível demais. Estava tão cansada... Não poderia ser muito tarde para que ela tentasse, poderia?

Os cantos de sua boca se elevaram em um sorriso inconsciente enquanto ela se levantava.

– Vamos para o Big Belly Burger – ela falou enquanto dobrava o panfleto com cuidado e o juntava aos papéis que carregava. – Estou morrendo de fome.

– Está tudo bem? – Jessica repetiu, caminhando mais rápido e parando à frente dela.

– Não – ela finalmente respondeu e soltou o ar pesadamente. – Mas vai ficar. No tempo certo, vai tudo ficar bem – então contornou a amiga novamente, continuando a andar.

– Eu carrego isso – pegou os papéis dela quando concluiu que não havia muito além para fazer afim de melhorar o que quer que estivesse acontecendo.

– Que cavalheiro – Rylai riu, dobrando a esquina para a esquerda, sendo seguida por Jessica.

– Finalmente está fazendo sol em Gotham – a amazona disse após ignorar a observação de Rylai. Abaixou a cabeça para proteger os olhos dos raios que agora vinham da frente delas. – Nem lembro quando foi a última vez que fez sol aqui.

Continuando seu caminho para o restaurante enquanto sentia a leve brisa de fim de tarde soprando e fazendo as folhas caídas das árvores dançarem no ar envolta dela e de Jessica, Rylai disse:

– Agora é primavera – por cima do ombro, ela olhou para trás e sorriu com todo o rosto, embora os olhos estivessem inchados pelo choro anterior. – Vai ter sol todos os dias.