Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.
- Paulo de Tarso
Com passos trôpegos, Emma correu até a origem do grito, deixando marcas negras no assoalho envernizado da casa. Pelo que parecia, eu não era o único mal acostumado com minha peculiaridade.
Seguimos os passos dela. Até a srta. Peregrine seguiu, mesmo após ter sibilado algo sobre não correr nas escadas. Naquele ritmo, porém, Emma estava quase nos ares de tanta velocidade. Ao chegar no local que aparentava ser um quarto, toquei na maçaneta, emitindo instintivamente um gemido de dor. O piso das escadas não foi os único a ser atingido pelo calor de Bloom.
- Horace, acalme-se! - Emma expeliu, com uma expressão ilegível. "Horace", o menino que não parava de se contorcer, caiu da cama e finalmente despertou de seu provável e tenebroso pesadelo.
- Ow! - reclamou ele, traçando círculos ao redor da cabeça. Ele olhou para Bloom como se ela fosse a criatura mais bela desse mundo - E-Emma? Oh, você está aqui!
Eles se abraçaram. Não pareciam irmãos ou namorados, mas fizeram com tanto amor que retiraram toda a tensão da sala abafada. Horace pousou os olhos na mentora, ignorando à mim e à Cassie como se nós dois estivéssemos realmente invisíveis.
- O que houve, meu bem?
- Mais um sonho, srta. P. - respondeu ele, entre respirações profundas - Eu vi 5 refugiados peculiares. Eles estão vindo para cá.
- Quando? - perguntou Emma, inquieta e com a mesma paranoia de quando nos conhecemos - Quem são eles?
- Não faço ideia. Por outro lado, sei o nome de um deles. Enoch Shepherd O'Connor. Soa familiar?
Os olhares das duas mulheres do orfanato deslizaram pelo chão, como se este fosse responder com prontidão. Alma deu de ombros e suspirou um "não" pesado.
- Tem certeza que não são acólitos? Eles podem estar em todos os lugares.
- Acólitos? - dessa vez fora Cassie quem falou, rompendo o silêncio que teria se submetido há alguns minutos.
- Vocês têm muito a aprender, crianças. - piou a ave peregrina, num sorriso modesto - Quanto ao sonho, deixe-o para depois, sr. Somnusson. Não precisamos de mais preocupações, por hora.
- Sim, claro. - o menino de terno elegante sorriu, pegando uma cartola que se pendurava num rústico cabideiro. Só se deu conta que estávamos aqui agora - Quem são estes? São idênticos aos peculiares que eu sonhei alguns dias atrás.
Queria esconder o espanto que senti assim que Horace me revelou, indiretamente, sua peculiaridade. Meu estômago se comprimia a cada palavra que saía da boca de uma das pessoas estranhas que acabamos de conhecer. Era real! Isso tudo era real. Eu estava falando com uma ave, uma garota de fogo e um vidente numa sala escura de um excêntrico orfanato dos anos 40. Como isso poderia ficar melhor?
- É porque são eles, seu besta! - Emma reprimiu o riso, apontando para mim e para minha namorada, em seguida - Millard Nullings e Cassandra Valentine.
- Cassie, por favor. - Cassie corrigiu. Lembro de ela ter me falado que, se pudesse, trocaria seu nome. Eu, por outro lado, o acho tão bonito quanto ela. Horace segurou sua mão e projetou um beijo suave, olhando para Cassie como se ela tivesse virado sua musa. Cocei o pescoço, como sempre fazia quando tinha ciúmes de alguém. Essa era minha técnica.
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MIRROR ;; millard n. ( ✓ )
Fanfiction⠀˗ˏˋ⠀𝐌𝐈𝐑𝐑𝐎𝐑⠀ˎˊ˗ ⠀⠀⠀EU JÁ FUI UM garoto normal, certa vez, mas faz tanto tempo que às vezes é difícil de recordar aquela época catastrófica. Ora, a quem estou enganando... lembrar da minha juventude era algo que me trazia dor. Essa era a única...