A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais.
- Epicuro
Fui, tropeçando em meus próprios pés, até o quarto de Cassandra, que deveria estar deitada nesse exato momento. Bati na porta e ouvi um grunhido abafado como resposta. Disse que era eu e que era importante. Na mesma hora, ela me deixou entrar. A garota estava pálida, os cabelos desgrenhados escondiam o brilho dos seus olhos. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, lancei-me contra ela e a beijei, deixando-a assustada.
- Pra que foi isso? - perguntou com um sorriso mais realista no rosto - Não que eu não tenha gostado.
- Eu te amo. - respondi como se fosse a coisa mais óbvia possível - E não é um mal entendido que vai nos separar, amor.
Ela me abraçou novamente e descansou a cabeça em meu peito - ainda me perguntava como ela conseguia olhar para meus olhos, como se eu fosse visível. Talvez fizesse parte de sua peculiaridade. De repente, senti sua mão tocar na minha, a que segurava com firmeza a fotografia. Com agilidade, ela roubou o papel de mim e o analisou como se estivesse procurando por defeitos.
- O que é isto?
- É o que está me importunando. - falei, um pouco entristecido para dizer a verdade - Pelo que as circunstâncias indicam, esse deve ser "Morte".
- Não acha que está exagerando? - ela opinou, sem tirar os olhos do homem misterioso da foto - Nunca vimos uma fotografia dele. Além disso, Morte só entrega as flores negras.
- É, mas olhe para cá. - mostrei um dos pedaços engolidos pela chama. Cassie acompanhou - Srta. Peregrine sempre queima as flores de morte. Ela deve ter ido queimar isso também, mas acabou escapando do fogo.
Ela olhou para mim com mais seriedade, como quando ficava nervosa com alguma coisa. A foto era mais do que pensávamos, disso eu tinha conhecimento. Era por isso que precisávamos falar com a própria Alma Peregrine.
- Está pensando o mesmo que eu? - perguntei.
- Precisamos falar com ela.
. . .
- Ora, minhas crianças! Esses são modos? - Alma nos reprovou, assim que lhe contei o que acontecera. A mentora nos encarava com repúdio, assim como o homem da imagem. No lugar de guardá-la, srta. Peregrine rasgou a fotografia em 16 pedaços, o que tornou mais clara sua raiva pelo rapaz.
- Quem é ele, senhorita? - Alma não nos olhou nos olhos como sempre fazia. Ela parecia preocupada e sentida, como se eu tivesse tocado numa ferida ainda não cicatrizada - Um namorado seu?
Alma ficou rubra de vergonha. Cassandra me deu um olhar de reprovação e pediu desculpas à mentora por mim. Não tocamos mais no assunto de quem era o indivíduo, por isso tentei procurar por mais questionamentos na minha cabeça. Cassie parecia fazer o mesmo, seu olhar perdido evidenciava isso.
- Por que ele está enviando tantas coisas? - Cassie tomou a iniciativa antes de mim - Ele gosta da senhora?
- Vamos dizer que Morte tem uma concepção doentia de o que é gostar de alguém. Eu gostava dele há muito, muito tempo. Mas isso já passou, acreditem.
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MIRROR ;; millard n. ( ✓ )
Fanfiction⠀˗ˏˋ⠀𝐌𝐈𝐑𝐑𝐎𝐑⠀ˎˊ˗ ⠀⠀⠀EU JÁ FUI UM garoto normal, certa vez, mas faz tanto tempo que às vezes é difícil de recordar aquela época catastrófica. Ora, a quem estou enganando... lembrar da minha juventude era algo que me trazia dor. Essa era a única...