16. MONSTRO

193 20 29
                                    

Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro.

- Friedrich Nietzsche

Levei um pequeno infinito para processar o que acabara de acontecer. Lá estava uma das pessoas que eu mais amava, que eu mais admirava em toda a minha vida. Minha inspiração. Ela tinha se transformado num monstro de olhos pálidos e mórbidos. Eu podia ver através deles, era como se Jason estivesse perdido e uma ponta de sua alma procurasse por ajuda.

- Jason... - sussurrei como um especialista que provasse um gole de um vinho antigo - No que você se tornou?

Os peculiares assistiam a nós dois, concentrados demais em cada palavra que dizíamos. Jason nem parecia tão estupefado ao ver apenas uma muda de roupas flutuante, sem cabeça ou membros.

- Em nada inferior a vocês, irmão. - expeliu como uma víbora. Ele notou que eu olhava intensamente para seus olhos. Jason deu uma breve e arrepiante risada - Se perguntando como posso ter esses olhos? Não perca seu tempo.

- Você é um acólito? - Horace rompeu o silêncio que restava na sala - M-Millard nunca mencionou isso para nós.

- E não sou. - respondeu com indiferença - Estas são apenas lentes brancas, mas já que sou da família, devo me tornar um deles. Não acham?

Ele estava cego, de fato. Não sabia como Caul tinha influenciado meu irmão (ou a intensidade dessa influência), mas tinha certeza de que ele fora corrompido. Pus um pé para frente, tomando uma respiração profunda. Ninguém podia me ver, mas senti como se todos o fizessem.

- O que você quer com a minha família, Jason? - repeti a pergunta de srta. Peregrine, bufando de raiva. As asas de Alex tornaram uma melodia quando ele as agitou. Caul parecia estar impaciente, já que no mesmo instante puxou meu irmão para longe.

- Não estamos aqui por sua família patética, garoto! - o irmão da srta. Peregrine rugiu, deixando-me desconfortável - Bom, pelo menos não toda.

- O que quer dizer com isso, seu insolente! - Emma gritou, agitando a labareda nas suas mãos. Abe segurava sua mão, como se seu toque mantesse a chama acesa e disposta.

- Hm... uma menina persistente. - Caul observou, quase que num deboche - Gostei de você. Enfim... eu venho propor uma troca. Quero a garota ukrasti pela paz do orfanato.

- O quê? - ralhou srta. Peregrine, tão apegada à navalha em suas mãos que achei que tivesse se cortado - Acha mesmo que vou abrir mão dos meus peculiares? Eu os amo mais do que já amei você e Myron!

- Que comovente, Alma. - triscou o homem - Mas não vim para ouvir historinhas sobre nossa infância. Já disse que quero a garota e eu vou conseguí-la.

- Você não vai levá-la! - gritei, meus pulmões já explodindo - E Cassie não é um objeto!

- Então assim será, não é? - Caul murmurou, com um tom de insistência - Não se preocupem. Já esperava esse tipo de reação. Bart, faça as honras, amigo.

Não sabíamos para quem Caul teria gritado, mas assim que o fez, Abe se comprimiu. Seus joelhos tocaram o chão com tanta voracidade que ele deveria ter quebrado algum osso. Portman segurou sua barriga e tentou falar algo. Nem era preciso explicar nada, sabia que era um etéreo. Mas... como?

- Abe! - Emma correu para o lado de seu namorado, tão pálida quanto os olhos dos dois homens. Uma sombra negra, repleta de línguas pontiagudas foi projetada no chão, o que só confirmou minhas suspeitas - C-Como vocês.... como um etéreo pôde entrar aqui?!

MIRROR ;; millard n. ( ✓ )Onde histórias criam vida. Descubra agora