21. LEMBRAR DE TE ESQUECER

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Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

- Mario Quintana

Já se passaram 49 dias desde que ela se foi e o vazio me preencheu. Não havia um momento sequer que eu não me lembrasse de Cassandra. Eu olhava 1, 2, até incontáveis vezes para as fotos que tínhamos antes de eu descobrir minha peculiaridade. Victor e Emma me aconselhavam para eu não fazer isso, já que as coisas poderiam piorar.
Acontece que a srta. Peregrine me fez uma proposta bem tentadora no dia em que ela se foi e, pelo fato de eu não aceitá-la, acabei desejando me lembrar todos os dias de Cassie, exatamente como ela havia me pedido. O mais estranho era que, por mais que eu me esforçasse, não sabia como ela tinha morrido. Nenhum de nós sabia, na verdade.

Ou se lembrava.

Semanas atrás...

Todos estavam perplexos com o que havia acabado de ocorrer. Jason e Caul tinham desaparecido em menos de 1 minuto, assim como Cassie. Minhas pernas ficaram bambas e me traíram, levando-me ao chão fétido da Vala Perdida.

- Ela... ela não...

Srta. Peregrine tentou me acalmar, mesmo sem poder me ver. Ela pôs um pano sobre meu corpo invisível e sussurrou em meu ouvido.

- Sr. Nullings, eu posso ajudá-lo.

Mesmo chorando, fiz questão de perguntar.

- C-Como? É impossível!

Como se estivesse prestes a contar uma história para uma criança, ela se sentou perto de mim e encarou o vazio. Suspirando, começou a falar.

- Existe uma lenda sobre a peculiaridade única de uma certa ymbryne, séculos atrás. - explicou - Ela era capaz de apagar as memórias indesejáveis dos homens. Acontece que suas sucessoras também conseguiram tamanha habilidade. Com uma simples pena de uma ymbryne, suas memórias podem ser modificadas.

- Eu já li sobre isso.

- É claro que leu. - brincou, tentando me animar - Infelizmente, apenas as memórias dos normais podem ser moldadas, mas eu tenho uma pena especial bem aqui. - ela aponta para o bolso esquerdo com a palma da mão - Ela é tão poderosa que pode ser utilizada para alterar as mentes peculiares. Receio ter que usá-la para esquecer desse trágico acontecimento, querido.

Não. Aquilo era injusto! Como poderia apagar tudo isso da minha cabeça? Não era tão simples assim. Não era como se eu quisesse esquecer da existência de Cassie. Não podia aceitar.

- Srta. Peregrine, não pode fazer isso! - exclamei - Ela era tudo para mim. Não acha que seria demais esquecer de alguém que tanto ama?

- Eu sei exatamente como é, querido. Acredite. Mas é perigoso mantermos tantas coisas como as de hoje em nossas memórias.

- Espere... você disse que as ymbrynes podem moldar os pensamentos das pessoas... isso significa que podem escolher o que desejam apagar de suas lembranças?

- Sim. - então tive uma ideia, talvez insensata e idiota, mas nem tão louca assim.

- Posso escolher ficar com as memórias de Cassie?

Ela pensou um pouco, fez uma careta de quem não teria apreciado nem um pouco aquilo, mas então voltou a olhar para mim.

- Se você quiser lembrar da srta. Valentine, então todos nós teremos que lembrar dela. É preciso manter um padrão sobre as memórias de cada um. Não posso deixar todas diferentes, entende?

- É compreensível. Se eu fosse o único a lembrar de Cassie, os outros poderiam me tomar como louco.

- Você está corretíssimo. - concordou ela, levantando-se do chão - Está pronto?

- Para o que, exatamente?

- Para esquecer do que viu aqui. De Caul, de Sharon, de Myron. E de seu irmão.

Jason George Nullings. Sempre que eu ouvia aquele nome, o sorriso fazia questão de se esboçar em meu rosto. Isso até eu descobrir sua verdadeira faceta. Não podia mentir, me esquecer de sua existência seria algo estranho. Ele já fora um bom irmão, infelizmente sua ambição era tão grande ao ponto de consumí-lo. Eu entendia por que Alma queria fazer aquilo: não era por mim, e sim pelo resto das crianças. O que elas imaginariam quando lembrassem que ainda existem dois caras completamente malucos por poder soltos pelo mundo peculiar? Cassie teria transportado os dois para uma época diferente, mas não significava que eles não poderiam reaparecer em nossas vidas. Sim, era compreensível.

Todos se reuniram para ouvir o que srta. Peregrine tinha para nos dizer. Foi difícil para alguns aceitar toda a informação, mas com certo esforço e determinação, eles entenderam. Alma esfregou a pena no rosto de Sharon e Myron, primeiramente, concentrando-se para escolher as memórias que deveriam ser mantidas. De acordo com o que dissera, levaria umas 5 horas para que a pena fizesse efeito. Os dois, já um pouco confusos, voltaram para o barco do gigante e desapareceram em meio a fumaça do lugar.

Depois fomos nós. Após esfregar a pena no rosto de todos os peculiares (eu, sendo o último), voltamos com Pierre até nossa casa. Por mais estranho que pareça, o efeito da pena só me atingiu no outro dia.

Foi aí que eu me esqueci de tudo o que acontecera depois de termos saído daqui, dias atrás.

Dias atuais...

Ainda era estranho me acostumar a tudo. Eu sabia que a srta. Peregrine teria moldado minhas memórias, mas não fazia ideia do quanto eu tinha perdido. Ao vasculhar a minha caixa de fotos, encarei a imagem de um garoto loiro e olhos perdidos. Ele fumava um cigarro. Tentei me lembrar se era um amigo distante ou algum parente. Tudo o que tinha abaixo da fotografia era o que deveria ser o seu nome.

Jason George N.

n/a: Próximo (e último) capítulo: Bônus

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n/a: Próximo (e último) capítulo: Bônus. Até loguinho.

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