B Ô N U S

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E D U E S P E C I A L

Fazia um tempo que eu estava andando pelas ruas dessa pacata cidade americana, sentindo o calor do sol e a brisa fria do vento de outubro. O lugar estava mais agitado do que eu imaginava que seria, mas após umas 2 semanas vivendo aqui já teria me acostumado. Infelizmente, não estava aqui por diversão. Eu precisava encontrar alguém muito importante.

- Ei, idiota! Olhe por onde anda! - um homem gordo, que dirigia um conversível extremamente bem-cuidado, grita para mim. Não tinha culpa se ainda não consegui me ajustar perfeitamente àquela realidade. Até os veículos deles eram estranhos. Era difícil viver em uma época completamente diferente da que você vivia. Frase estranha? Bem... para mim não é.

Atravessei a rua, temendo chamar mais atenção. Baixei o capuz do casaco que consegui comprar com os dólares que tinha no bolso e segui para uma lanchonete bem vistosa no fim da rua. As atendentes se vestiam de maneira moderadamente organizada, o que me fez sentir vergonha. As roupas que eu teria conseguido estão agradáveis? Enfim... não sei. Apenas cheguei perto do balcão do gerente e tentei falar de imediato com ele.

- Uhm... olá, senhor. Boa tarde. - eu o cumprimentei. Ele me olhou de cima a baixo e voltou sua atenção a uma máquina pequena logo à sua frente. Puxei do meu bolso uma fotografia que teria conseguido há uns dias; nela, estava a imagem da pessoa que viria a ser minha salvação - Você conhece este homem?

Apontei logo para o nariz da imagem, o gerente não conseguiu identificar daquela forma. Ele, então, retirou o meu dedo de lá com um pouco de nojo e forçou a vista.

- Hm... devo reconhecer de algum lugar. Talvez um dos meus antigos clientes. - respondeu quase que num tom de deboche.

- Presumo, então, que ele more aqui. Estou certa?

- "Presumo"? Quem mais usa essa palavra? - riu. Me obriguei a não bater em sua cara - Mas enfim... você está certa. Por que as perguntas? Está perdida, meu bem?

Não sei se é impressão minha, mas acho que ele estava falando alto demais. Muitas pessoas da lanchonete olharam para mim depois de o gerente ter falado aquilo. Fingi que tudo estava perfeitamente bem e ignoro o questionamento.

- Você tem um telefone que eu possa usar? Por favor?

Ele deu as costas para mim e pegou um aparelho que não possuia nenhuma tecla ou número. Hesitei antes de segurá-lo. O homem continuou a me encarar.

- Ora, não venha me dizer que não sabe usar um celular!

- C-Claro que eu sei. - murmurei -Só estava... me exercitando.

Com as minhas trêmulas mãos seguro o objeto e disco na tela brilhante os números que estavam ao lado superior da fotografia.

- Qual é o seu nome mesmo, menina? - o gerente pergunta, quando eu digito o último número.

- Cassandra. - respondo com insegurança - Valentine.

Cassandra Valentine, a garota perdida pelos séculos. Eu estive por incontáveis dias procurando uma maneira de voltar para a minha família, desde o dia em que eu quase morri nas mãos de Caul Bentham. Felizmente, consegui escapar dele absorvendo a peculiaridade de seu lacaio, Walker Donovan. Porém, ao abrir um portal e enviá-lo a uma época diferente, acabei abrindo mais um que me sugou até um lugar nem tão estranho. Eu fui parar em 03 de setembro de 1940 novamente, mas não no mesmo período em que estávamos.

Era o futuro da minha própria fenda.

Muitas coisas tinham acontecido por lá. Ao chegar no "novo" orfanato, notei a falta de várias crianças. Só então eu descobri o que houve com elas: Victor fora morto por um etéreo, assim como Marie, Richard e mais dois outros peculiares. Rose tentou fugir do orfanato, mas ao sair da fenda logo se desintegrou. Tinha um outro peculiar vivendo na fenda, um tal de Abraham Portman. De qualquer maneira, percebi que não poderia viver com eles, pelo menos, não naquele tempo.

Aquela não era a minha verdadeira casa, não mais. Determinada a continuar com as tentativas de voltar para a srta. Peregrine e Millard, acabei, por fim, abrindo mais um portal - meu último - que me trouxe até 2016, nos Estados Unidos. Algo teria dado terrivelmente errado em meus cálculos. Agora 76 anos me separavam do meu verdadeiro lar. E, como se não bastasse, minha peculiaridade simplesmente falhou. Desde então, não consegui fabricar mais portais ou brincar com o fogo. Nem mesmo me transformar num pássaro. Pelo que entendi, minhas emoções estavam conectadas às minhas habilidades.

Aqui é a caixa postal. Deixe uma mensag...

- Droga, ele não atende! - suspirei, chamando atenção de mais alguns clientes. Olhando de soslaio, notei que um garoto um pouco maior que eu estava me fitando. Com um leve puxão, ele retirou o cigarro que mantinha entre os lábios e veio até a minha direção. Pela Ave, será que vou me meter em mais um problema? Calma, Cassie. Respire. Você consegue.

- Posso ajudar em alguma coisa? - pergunta ele, com a voz rouca. Aponto com a cabeça para a fotografia, sem saber muito bem o que dizer. Como se tivesse entendido, ele segurou a foto e a encarou por alguns segundos - De onde conhece este homem?

- Uhm... eu o vi no artigo de um jornal sobre... a 2° Guerra. Por quê?

- Sei alguém que o conhece como a palma da própria mão. - o adolescente falou, tragando o cigarro - Se quiser, posso mostrar onde ele vive.

Meu cérebro ficou dividido em dois. Ouviria o estranho ou me arriscaria em nunca mais poder voltar pra casa? Preferi a primeira opção.

. . .

Após caminharmos por um tempo, chegamos a uma casa nem tão nova. Um cachorro brincava sozinho com uma mangueira solta, bem na varanda. "Estranho" entrou na casa sem mesmo bater - ele deveria conhecê-lo mesmo - e me levou até o que parecia ser um quarto. Havia um garoto moreno e de aparência triste deitado numa cama. Ele ouvia música e olhava para o teto como se ele estivesse repleto de constelações.

- Hey, Edu Especial. - o estranho chamou a atenção do menino, que me encarou por alguns segundos - Tem alguém que talvez queira conhecer. Essa é... qual é o seu nome mesmo?

- Cassandra Valentine.

- Cassandra Valentine! - ele ressalta - Ela disse que conhece o teu velho.

De repente, o garoto dos fones deu um salto da cama e quase me esmaga com seus olhos. Era impressionante o quão ele se parecia com Abraham.

- Quem é você? Uma espiã? - pergunta ele. Eu apenas dou um passo a frente, cheia de dúvidas.

- Óbvio que não. E você não é Abraham Portman... é?

Ele força o olhar para baixo e não responde de imediato.

- O meu avô morreu há alguns meses. O que você quer com ele? - aquilo me machucou. Fiquei me perguntando como eu resolveria os meus problemas, agora.

- Isso pode soar estranho, mas... eu não sou dessa época. - "Edu Especial" olhou para o amigo com irritação. Tratei de me explicar - Eu vim do passado, de um lugar chamado Cairnholm, em 03 de Setembro de 1940.

Edu ficou pasmo e Estranho não conseguia entendê-lo. Esperei por algo.

- Ele... isso é verdade?

- Sim. E eu conheci o seu avô. Ele era como eu, Edu. Um peculiar. - o garoto se aproximou ainda mais de mim.

- Jacob Portman. - falou - Esse é o meu nome. E o vovô Abe me falou sobre fendas e aves, antes de morrer. Eu e meu pai partiremos amanhã mesmo para o País de Gales, investigar sobre isso.

- Bem, Jacob Portman, acontece que eu preciso voltar para minha casa, em 1940. E receio que precisarei de toda a sua ajuda.

n/a: Hey hey hey. Mudança de planos. Pretendo postar mais um cap, só q em forma de "Registros Ocultos" pra finalizar a fic. Obrigada de novo por terem acompanhado a história (e pela paciência tbm hehe).

Kisses n' hugs 😚

MIRROR ;; millard n. ( ✓ )Onde histórias criam vida. Descubra agora