Capítulo 9

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Quantas vezes as pessoas respiram e inspiram em um dia? Porque em cinco minutos eu já havia feito isso um milhão de vezes. Meu coração está tão acelerado que até parece um cavalo galopando, minhas mãos suam sem parar e estou pálida de tão nervosa. Bebo os dois últimos goles de água que havia na minha garrafinha e tento normalizar minha respiração. Tarefa essa que parece ser impossível. Meu telefone começa a tocar freneticamente, e com as mãos tremendo, atendo.

— A-alô.

— Filha, onde você está? Estamos todos te esperando!

— Eu estou um pouco nervosa, mas já vou entrar.

Se apresse!

Desligo o celular e penso no rosto dos Carter's e dos meus pais ao verem meu vestido, fazendo o nervosismo começar a dar lugar a satisfação. Sorrio para o motorista que me encara como se eu tivesse algum problema mental e abro a porta da limousine. Estava quase fechando quando lembro que esqueci de pegar o buquê. Mas pensando bem, não preciso. A única mulher no meu casamento é minha mãe, que já é casada. Então fecho a porta da limousine e caminho até a enorme porta fechada da igreja.

Pedi para os meus pais irem para a igreja primeiro, para que eles não vissem a minha roupa e me obrigassem a trocar imediatamente. Também pedi para meu pai não me acompanhar no altar, ou ele faria com que eu trocasse de roupa do mesmo jeito.

Respiro fundo e finalmente abro a porta, tenho cinco pares de olhos sobre mim. Os meus pais ficam brancos e de olhos arregalados. O Sr. Carter parece tranquilo, quase como se já soubesse que eu faria algo do tipo, e isso me incomoda. Nicholas deixa transparecer um sorriso, parecendo se divertir. Já o padre, parece que irá cair duro a qualquer minuto.

O motivo de suas reações é que ao contrário de noivas tradicionais, não estou de vestido branco e parecendo uma princesa. Pelo contrário, estou usando um lindo vestido preto, botas da mesma cor e uma maquiagem um pouco pesada demais para a ocasião. Resolvi me vestir assim porque reflete como eu me sinto: de luto pela vida que poderia ter tido, mas não posso mais.

— Estou aqui. Vamos acabar logo com isso. - Tiro meu véu quando chego ao altar, olhando para Nicholas com desgosto. Infelizmente, ele está lindo. O terno azul marinho lhe caiu muito bem. Na verdade, lhe caiu mais do que bem. Parece ter sido feito especialmente para ele.

Nicholas sorri de lado e o padre inicia a cerimônia, apesar de parecer desconfiado. Fazemos aquelas juras de amor que antes eu achava românticas, mas agora não passam de uma enganação.

— Nicholas Carter Martinez, você aceita Alison para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

— Sim. - Nicholas responde, sem ao menos me olhar nos olhos.

— Alison Campbell Johnson, você aceita Nicholas para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

Demoro cerca de cinco segundos para responder.

— Sim. - Respondo, engulindo em seco. Nicholas e eu trocamos olhares, mas logo desviamos.

Assinamos os papéis postos pelo oficial de justiça - que chegou um pouco depois de mim - e fomos declarados marido e mulher, com o padre dizendo a famosa frase que todos os noivos tanto esperam: "Pode beijar a noiva!". No entanto, é claro que isso não aconteceu. E nem irá.

Depois de me despedir dos meus pais, Nicholas e eu entramos na limousine, com destino para nossa nova casa: uma cobertura em um dos melhores prédios da cidade, que fica bem perto da nossa universidade.

Entro no elevador puxando minhas quatro malas sozinha, porque o imbecil do meu marido não teve a "disposição" - como ele mesmo disse -, para me ajudar. Iremos morar no 507. Ele é grande e amplo. Possui sala de estar, cozinha americana, duas suítes, banheiro no corredor, lavanderia, uma sacada bastante espaçosa e acesso ao terraço, que se me lembro bem, deve ter uma piscina. Vou até a porta da esquerda e a abro. É uma das suítes. Cama king no centro, criado-mudo ao lado, escrivaninha encostada na parede do lado direito já com meu notebook e alguns livros em cima, penteadeira do lado oposto, televisão na parede, em frente a cama e duas portas: uma para o banheiro e outra para o closet.

É, acho que irei passar muito tempo nesse cômodo. Escuto uma porta bater e sei que Nicholas também já está em seu quarto. Querendo privacidade, fecho a porta do meu mais novo refúgio.

                                ***

Acordo atordoada, mas percebo as janelas abertas e a escuridão da noite adentrando o quarto. Sento, amarro meu cabelo em um coque e calço meus chinelos, saindo do cômodo em seguida. Ouço algumas risadinhas e vou na direção delas, ficando sem reação quando me deparo com Nicholas entre duas garotas seminuas e várias garrafas de cerveja. Meu estômago embrulha.

— Quem é essa, bebê? - Pergunta uma morena.

— Ninguém que mereça a sua atenção. - Ele sorri, segurando seu queixo. Depois, lhe dá um selinho demorado.

Me afasto, com nojo, e vou até a geladeira. Pelo visto, alguém a abasteceu. Esquento um pedaço de lasanha no microondas e levo para comer no meu quarto, me trancando lá dentro pela segunda vez. Como a lasanha em menos de três minutos e recebo uma mensagem no celular.

Caitlin
Fui na sua casa e não tinha ninguém lá, cadê você?

Novamente, sinto um embrulho no estômago. Mas dessa vez é por pensar que desde o início das aulas estou mentindo para minha melhor amiga. Porém, não posso contar para ela. Tenho medo do que Caitlin pensaria. Não quero perder sua amizade.

Decido não responder sua mensagem agora e coloco meus fones de ouvido. Fico escutando algumas músicas aleatórias, até que meu celular vibra novamente com uma notificação.

Matt
Queria te ver, pode ser agora?

Sorrio ao ler a mensagem. Matt é tão legal, fofo e cavalheiro. Totalmente o oposto de Nicholas.

Alison
Te vejo naquela sorveteria perto do campus da Stanford. - Envio.

Já se passa das nove da noite e faz um frio tremendo, por isso resolvo vestir uma calça jeans, moletom e tênis. Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e pego meu celular, guardando-o no bolso do meu moletom. Passo pela sala onde Nicholas e suas amiguinhas estão bebendo e saio de casa. Estava quase entrando no elevador quando uma mão segura meu braço, me fazendo recuar.

— Onde você vai? - Nicholas pergunta, como se tivesse algum direito de saber.

— Não é da sua conta. - Solto meu braço e entro no elevador. Ele vai para o meio das portas, impedindo-as de fecharem.

— Só não me ligue para pedir ajuda depois. - Dito isso, me dá as costas e sai andando.

— Eu prefiro morrer! - Grito, antes das portas fecharem.

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