Prologue

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 ''Ninguém vai te salvar, menina, ninguém vai segurar a sua mão, agora vá, ande, você tem que aprender a ser sozinha.''

Autora

A cada 40 segundos alguém se suicida em algum lugar do mundo.

E talvez hoje fosse o dia de Charlotte. 

''Puta'' ''Vagabunda'' ''Ridícula'' ''Esquisita'' ''Como se alguém fosse mesmo se apaixonar por você''

Era o tipo de coisa que Charlotte tinha de ouvir todos os dias por um erro que cometeu: Mandou fotos íntimas para um garoto que havia se apaixonado, e acreditou que ele sentia o mesmo. Semanas depois suas fotos foram expostas em várias redes sociais, e agora, todos os dias, era obrigada a ouvir esses tipos de comentários. 

Não só na escola, no ponto de ônibus e nas ruas. As pessoas também usavam a internet para insultá-la todos os dias. 

''Como podem me odiar tanto se nem ao menos me conhecem?''  Era a pergunta que se passava na cabeça de Charlotte diariamente. 

Como se já não bastasse tudo o que passou anos atrás. Era como se tivesse vivendo tudo de novo. Sentiu-se usada, como a anos atrás. E só rezou para que aquelas lembranças voltassem para o lugar de onde nunca deveriam ter saído, lembrar doía demais. 

Já havia se passado 3 meses e a mãe, depois de muito custo, conseguiu que tirassem as imagens da internet, o que não adiantou muito, já que todos já haviam baixado as mídias. 

Era como um pesadelo, do qual Charlotte não conseguia acordar. 

Sua mãe não sabia mais o que fazer, a filha arrasada, já havia tentado suicídio duas vezes. E hoje, provavelmente, seria a terceira. 

Após escrever uma carta de despedida para a mãe, Charlotte sentou-se no chão, no canto do quarto, com as lâminas que havia comprado no caminho de volta para casa. 

As lágrimas rolando por seu rosto, sem pudor. As vozes em sua cabeça, fazendo questão de lembrar o que ela era. O desespero beirando o insuportável. Havia guardado tudo para si por muito tempo, todos os abusos, todas as violações todas as vezes que pediu para que parasse. Juntou tudo em sua cabeça, virou uma bola de neve e a deixou morrendo por dentro. A cada dia o sofrimento físico e emocional ficava mais intenso e viver tornou-se um fardo pesado e angustiante. 

Passou a lâmina duas vezes, lentamente em sua pele branca. Sua dor parece incomunicável; por mais que ela tentasse expressar a tristeza que sentia, ninguém parecia escutá-la ou compreendê-la. 

A vida perdeu o sentido. O mundo a seu redor ficou insosso. E então, antes de fechar os olhos, já fraca, sonha com a possibilidade de acordar num mundo totalmente diferente. E talvez acorde.

''Puta'' ''Vadia'' - Eles não sabem o peso das próprias palavras

Pouco tempo depois, sua mãe entra no quarto, esbaforida, não gostava de deixar a filha sozinha depois dos acontecimentos. Vê sua filha jogada no chão do quarto, ensanguentada. 

Tenta, com as mãos tremulas, ligar para ambulância o mais rápido possível. 

Viu quando os paramédicos carregaram o corpo frágil de sua filha em uma maca. 

Sua mãe passa pela poça de sangue, vai até a cama da filha e vê sua carta, se senta e chora. Ela vê as letras borradas e deduz que são por causa das lágrimas, e nisso está certa. Toma coragem e lê, o que seriam as últimas palavras da filha. Mais lágrimas caem sobre o papel. Ela tenta entendê-la, mas não consegue. Então percebe que todos erraram em relação a Charlotte, principalmente ela mesma, que fechou os olhos para tudo o que estava acontecendo com a própria filha. Termina, joga o papel na cama e sai. 

- O que aconteceu com a Char, mamãe? - Olivia, sua filha mais nova, pergunta.

- Ela não podia escapar do monstro. - respondeu alisando o rosto de sua pequena. 

- Que monstro? 

- Ela mesma

Durante todo o caminho para o hospital, pensou em uma solução plausível, pensou em tudo que a familia já lhe dissera, e pensou que talvez, só talvez, estivessem certos. 

Charlotte precisava de ajuda, então decidiu que pôr a filha num manicômio seria melhor que perdê-la pra sempre. 

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