Capítulo 22.

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Eu abri meus olhos – algo que eu achei que seria impossível – assim que senti uma mão passar por meus cabelos. Dei de cara com Ellen. Eu estava abraçada em um cobertor, sentada encostada na parede da lavanderia. Sentia meu corpo todo dolorido. Dormira daquele jeito, mesmo.

- Meu Deus, querida... o que foi que houve? – ela falou, baixinho, com seu olhar preocupado.

Eu segurei o choro o máximo que pude.

- Foi Lucca, Ellen. – eu desabei. – Eu não posso mais fazer isso. Eu não posso mais ficar com ele.

Eu enfiei meu rosto no meio de minhas mãos.

- O que foi que ele fez?

Eu respirei fundo e tentei falar tudo de uma vez, para não engasgar em meus soluços. – Ele disse, ontem, que iria dar um jeito em Kara, certo? Que iria mandá-la embora. Eu fiquei esperando por ele até a meia-noite. Ele nunca apareceu. Quando eu voltei para o quarto, eu os vi. Ele estava de cueca e ela, pelada. Estavam na cama que nós dormiríamos. Na cama que eu pretendia me doar para ele, Ellen. Ele voltou com ela. Eu não posso competir com isso. Eu não posso voltar a ficar doente. Eu não quero. Ellen, eu não quero vê-lo. Eu gosto dele, de verdade. Mas isso me dói mais do que todas as terapias e exames pelos quais tive que passar.

Ellen não falou nada. Ela me entendia. Ela sabia que não havia palavra alguma que pudesse me confortar naquele instante. Tudo o que ela fez foi ajudar e me levantar e ir até o quarto dela. Gabe já tinha saído cedo, para não quebrar a tradição de que os noivos, no dia do casamento, só podem se ver na hora do ato religioso. Nós ficamos por lá, esperando os maquiadores e cabeleireiros chegarem.

- Luna, eu só queria te dizer que... eu peço desculpas. – Ellen disse, ao se sentar ao meu lado na beira da cama. – Se um dia eu apoiei toda essa história, eu peço desculpas, de verdade. Você sabe que tudo o que eu quis, desde sempre, era sua felicidade. Você merece ser feliz, Luna. Eu não sei quem está tomando conta de seu destino, mas há algo para você, ainda. Eu sei que dói. Eu sei. Mas não desista agora de todo o resto. Você é e sempre vai ser forte.

Eu a abracei firmemente sem dizer nada. Eu precisava me recompor, pelo menos por hoje. Não poderia deixar me abalar. Não iria olhar Lucca no rosto, não falaria com ele. Eu precisava passar por aquele longo dia sozinha.

Os maquiadores logo chegaram e, na mesma hora, eu e Ellen nos sentamos em umas cadeiras de plástico para que começassem a nos arrumar. Eu os avisei em relação à cor de meu vestido e começaram a passar as sombras, as bases, o rímel, o batom... eu estava quasse pronta no instante em que várias batidas fortes foram dadas na porta.

- Luna! Abra essa porta! LUNA! – eu ouvia Lucca berrando do outro lado, desesperado. Eu abaixei a cabeça e tentei esvair meus pensamentos. Eu não poderia chorar. Não agora que estava com a maquiagem pronta. – LUNA! Eu sei que você está aí, por favor, me responda... eu preciso falar com você! – mais batidas. – LUNA!

Ellen me olhou e viu que eu estava sem reação. Levantou-se, prontamente, e abriu apenas uma frestinha da porta. Eu não conseguia vê-lo de onde estava.

- ELLEN! Por favor, eu preciso falar com Luna. Deixe-me entrar.

- Eu acho melhor você ir embora. Ela já teve o suficiente com você. E eu também.

- Não, vocês não entendem e...

- Lucca! Quem não entende é você! Não vê que Luna não quer mais passar por esse tipo de coisa? Ela não quer, ela não pode... já é a segunda vez que esse tipo de coisa acontece, Lucca. É melhor você voltar para Kara e dar o fora daqui. É o que você sabe fazer de melhor.

Depois da tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora